2. Nossa vida, nossa história...

Quem se procurou a vida inteira, apenas se achou...
Alguns se sentem desterrados de seus melhores sonhos e sentimentos; incomodados com sua história, seu corpo e até pelos seus relacionamentos. Outros, até se sentem culpados pelos ‘fascínios’ misteriosos sentidos e experimentados. Convenhamos, as sensações psicossexuais são muito pessoais e particulares; frágeis e vulneráveis...

Nos momentos mais difíceis da vida podemos encontrar consolo na nossa crença, mas isso não acontece quando está em jogo a sexualidade. Provavelmente, e por causa das nossas crenças, podemos sentir vergonha e até se autocondenar quando está em jogo a sexualidade... Mas, sejamos claros, não é Deus que reprova, mas o superego prepotente e internalizado que desaprova.

Como superar, pois, esses sentimentos negativos de rejeição e autocondenação? Como cultivar o sentido de responsabilidade pessoal sem cair na baixa autoestima ou nos remorsos degradantes?

Observemos, primeiro, a própria história e situemo-nos objetivamente diante da nossa vida. Há um nexo vital entre Deus e a vida, entre o sagrado e o humano que não pode ser negligenciado ou desprezado. É preciso passar do sentimento de ruína pessoal, para a sanação das feridas da alma e do coração, para entrar em comunhão com tudo e todos.

Cada vida encerra, na sua história, outras muitas vidas de ordem familiar, educacional, religiosa, laboral e emocional, englobando uma série de circunstâncias, experiências e decisões que nos fizeram chegar ao nível atual de consistência ou desintegração pessoal. Queiramos ou não, é assim!

Refazer a própria história é entrar em contato com as lembranças dos relacionamentos humanos experimentados. O despertar físico e emocional, os anseios e medos, sentimentos e desejos, dependências e frustrações, nos abriram para a reciprocidade afetiva responsável ou não, na busca da intimidade. Nesta labuta, alguns acabaram machucados e machucando.  A própria história psicossexual tem a ver com a ‘contabilidade’ emocional que fazemos desses relacionamentos e oxalá fossem quase sempre positivos.

O conhecimento pessoal e a aceitação do próprio `eu´ são fundamentais no caminho do crescimento humano. A história positiva ou negativa dos nossos relacionamentos exerce poderosa influência na autoestima. A valoração pessoal afeta a capacidade de nos relacionar adequadamente, de agir juntos (ou separados! ou mesmo de experimentar atração (ou rejeição!) diante de Deus e dos outros.

A história psicossexual é um ‘banco de lembranças sentimentais’ que conserva todos os acontecimentos e experiências do desenvolvimento relacional. Quando conhecemos essa história, começamos a sarar o nosso passado e abraçar com maior empenho o presente.

Percorramos, pois, esse caminho de integração, aproximando-nos com reverência e misericórdia da história sentida, vivida e percorrida.

A sexualidade, essa energia vital que envolve e aproxima, está muito perto da essência do nosso ser. Ela dá forma à identidade de gênero e deixa transparecer algo daquela ‘imagem e semelhança de Deus’.

Nossa história pessoal tem luzes e sombras que precisamos conhecer e até verbalizar sem receios. Dores escondidas e não superadas, temores inominados, sentimentos escondidos... tudo precisa ser acolhido e partilhado. Tratar com reverência e carinho o próprio passado é fundamental.

Rever a própria história é transitar por caminhos luminosos e pisar terra sagrada, onde o próprio Deus se plantou. É verdade que também carregamos trevas e até alguns ‘monstros fantasiosos’, cultivados e alimentados teimosamente por nós. Se nos aproximarmos corajosamente do próprio passado, os ‘fantasmas’ da vida desaparecerão e poderemos contemplar a Luz divina que desde o início  nos habita.

Os primeiros encontros com essa energia sexual têm a ver com o modo como nos criaram, alimentaram e trataram. Tudo isso nos impacta positiva ou negativamente. As ‘mensagens’ verbalizadas (ou não!) que chegaram dos pais (ou daqueles que cuidaram de nós!), dos companheiros de sala de aula e dos professores ficaram gravadas no nosso inconsciente. Algumas dessas `mensagens´ foram claras e explícitas (palavras, gestos, atitudes...) e as recordamos, outras, provavelmente esquecemos e até ocultamos, mas elas ainda repercutem hoje na qualidade dos nossos relacionamentos...

Todos queremos experimentar uma integração humana melhor. Tudo conspiram para a qualidade de vida! As cicatrizes que carregamos são testemunhas da força e resistência do nosso ser e nos configuram sempre mais a Cristo. O caminho da sanação e integridade pessoal é possível. Não podemos mudar o passado, mas sim integrá-lo e curá-lo e crescer positivamente com pensamentos e atitudes que reafirmem o sentido da vida.

Lembre, pois, da sua história e permita que as suas lembranças aflorem livre e espontaneamente, escrevendo-as.  Faça uma lista de 6 ou 7 acontecimentos mais significativos da sua vida psicossexual... Depois, se quiser, partilhe com alguém da sua confiança o mais significativo do que escreveu. E lembre-se: a qualidade dos relacionamentos atuais revela de algum modo a luminosidade ou sombra que carregamos. 

Somos luz da Luz e filhos das estrelas!

Uma pergunta: Experimentou alguma vez momentos de ‘exílio emocional’?... Que pessoas ou acontecimentos foram os autores desse seu exílio?

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