13. Gracias a la vida...

Viver é caminhar numa estrada sempre nova, sem saber o que encontraremos após cada curva. Quando pensamos conhecer o caminho, novos desafios surgem. Desse modo, envelhecemos aos poucos. O Qohelet, observador judeu da vida humana, se desencantou com muitas coisas; outras simplesmente sumiram do seu horizonte ficando, apenas, vislumbres de Deus. Esse pregador inteligente do Antigo Testamento sabia que nada era eterno: “Tudo tem o seu momento e cada coisa o seu tempo...” (Ecl 3, 1)

Tudo passa, menos o que aprendemos com o próprio viver. Até a fé e o amor se vivem de modos diferentes nas diversas etapas da vida. Cada fase é qualitativamente diferente, embora nos façamos as mesmas perguntas: Quem sou?... Com quem estou?... O que faço?... 

Quando jovens pensávamos que na década dos vinte anos teríamos respondido satisfatoriamente a cada uma dessas perguntas. O tempo passou e percebemos que as perguntas continuam e aguardam por novas respostas. Se as experiências no campo da sexualidade e da espiritualidade não foram satisfatórias, nem trouxeram significados profundos, viveremos estes novos ciclos solitários e depressivos.

As virtudes teologais (fé, esperança e amor) são basicamente graça de Deus, percebida pela sensibilidade humana. Há pessoas que nada percebem; para eles, a vida não passa de um jogo entre vencedores e vencidos. Sem amor a vida perde o seu sentido. E isso é uma fatalidade!

Quem não ama, também não crê; e se cremos é por que amamos. Fé, esperança e amor sempre caminham juntos.

Faz pouco tempo participei de um show caseiro, onde uma mãe de família reuniu quase 200 pessoas amigas num auditório, para comemorar seus 50 anos de vida. Com carinho e criatividade esta senhora foi contando e cantando, com simplicidade e bom gosto, as etapas mais significativas da sua vida. Começou com Roberto Carlos e acabou deliciando-nos com “Gracias a la vida...” de Mercedes Sosa. Tudo transcorreu com grande sensibilidade e dignidade!

Eis os diversos ciclos da vida adulta:
  • Idade adulta jovem (dos 20 aos 40 anos aproximadamente). Para muitos a idade adulta só acontece quando deixam definitivamente o lar familiar. Quando somos capazes de deixar algo por alguém! É o tempo de arriscar e de se abrir para novas experiências, moradia e pessoas. Aos poucos, surge o peso da responsabilidade. Esta primeira fase se caracteriza pela tomada de decisões de grande alcance profissional e vocacional e algumas daquelas perguntas centrais começaram a ser respondidas na linha do “ter” e do “fazer”. E o "ser"?

    Às vezes, os relacionamentos não suportam o peso dos conflitos. Quando isto acontece, os sonhos se esvaem e ficamos curtindo sozinhos as próprias decepções. Contudo, a vida é mais forte e logo se encontram novas formas de recomeçar e de continuar amadurecendo. 
  • Idade adulta média (dos 40 aos 60 anos). Há uma mudança profunda nas prioridades e sentimentos dos que chegam a esta fase. Experimenta-se a crise do “demônio meridiano” ou da “idade da loba”. Estamos no meio-dia da vida! Muito se tem escrito sobre esta crise da metade da vida, das forças físicas e da eficiência profissional, mas ao mesmo tempo experimenta-se o cansaço e a monotonia da vida. Os relacionamentos afetivos são percebidos de modo diferente. Desconfia-se da veracidade de tudo e, sem discernimento se buscam novas aventuras e resultados. Concluindo: Confiamos mais em Deus ou nos perdemos nas seduções do momento.

    Se na primeira metade da vida nos relacionamos mais com as coisas exteriores, nesta outra metade nos orientamos mais para os valores e a interioridade. Pode-se viver melhor a verdade, pois temos uma percepção mais clara das q ualidades e limitações humanas. Provavelmente a imaginação, a louca da casa, teimará por viver o que até agora não se fez. Por desgraça, muitos casamentos se desfazem e algumas vocações sucumbem nesta fase...
  • A terceira idade (dos 60 anos em diante). Com o avanço dos recursos médicos e melhorias sociais, o que era Terceira Idade passou a ser, para muitos “a melhor idade”, pois cada um se fez dono do seu nariz. Não havendo a obrigatoriedade do trabalho profissional nem a responsabilidade direta dos filhos, as pessoas tomam o seu rumo e cada um vive como quer ou pode, sem tristezas nem lamentações. Neste tempo temos a oportunidade de colocar, no seu devido lugar, as perdas amorosas acontecidas. Nesta altura da vida as pessoas não se importam muito com a opinião dos outros, pois são o que são. Livres das mágoas passadas, curte-se mais o positivo das possibilidades.

    Na medida em que envelhecemos tudo fica relativo, menos os valores essenciais que fomos cultivando. Provavelmente, tornamo-nos mais compassivos e começamos a tratar o corpo com maiores cuidados.

    É também o tempo de se reconciliar com a morte, pois alguns seres queridos começaram a desaparecer do nosso convívio... E os jovens que ainda estão ao nosso lado se toleram, porque os amamos. Só os que amamos...
    Uma pergunta:  O que você mais valoriza nesta fase de sua vida?

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