Folião e fanfarrão... (Cf. Gilmar P. da Silva sj)

Tudo passa, nada fica...
Chegou o Carnaval! Allah-la-ô, ô ô ô ô ô ô! Mas que calor, ô ô ô ô ô ô! 

Aliás, uma das características básicas desta grande folia popular é a inversão: Homens vestem-se de mulheres e mulheres, de homens; dorme-se de dia e festeja-se de noite; a sobriedade e a rigidez racional dá vez ao sentimento e a euforia. Tudo isso só porque é Carnaval. Só não! É porque é Carnaval! Allah-la-ô, ô ô ô ô ô ô! Mas que calor, ô ô ô ô ô ô!

Essa é a festa da grande licença, quando o sair da regra é permitido. Adeus dieta, exercícios, estudos, trabalho... Ao menos parcialmente.

Na verdade o Carnaval celebra o caos primeiro, antes da ordenação do mundo, o tempo antes do tempo. A festa é simulacro de uma época sem lei e, também por isso, sem pecado. Contudo, já estamos numa sociedade organizada; o que faz com que haja uma tensão de visão sobre o que se vive nesse período. A liberdade do Carnaval não é necessariamente libertinagem e sua licença, licensiodade. O que acontece nessa data é a flexibilização da coerção social. Por isso, toda a estrutura ordenada é invertida e se valoriza aquilo que a razão instrumental rejeita: o humano, o carnal, o feminino, o cômico. É a festa de Dionísio; não de Apolo, que reina quase sempre nas relações sociais.

Talvez o ano só comece mesmo depois do Carnaval porque o mundo só se origina depois do caos. E isso não é um problema. A necessidade de atender ao mercado, as cobranças e o excesso de trabalhos da vida moderna, a rigidez de um moralismo exacerbado e paranoico, tudo isso faz com que sintamos culpa em rir e divertir. Valorizamos demais o homo sapiens e deixamos de lado o homo ludens, que vez e outra nos cobra o seu lugar. No Carnaval, o menino em nós não quer dormir. O Puer Aeternus canta: Allah-la-ô, ô ô ô ô ô ô! Mas que calor, ô ô ô ô ô ô!

E você, o que acha do Carnaval?

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