16. Enganos na vida espiritual... (Autobiografia de S. Inácio de Loyola)

Não é fácil mergulhar no nosso interior e quando o fazemos, podemos encontrar o que menos esperamos: ambiguidades e limitações que nos habitam. Dentro de nós há um Caim, mas também um Abel... 

Lembro de um jovem pastor evangélico que partilhando sua experiência de oração comigo dizia encontrar, nas suas fendas mais profundas, anjos e demônios. Inácio de Loyola, quando estava em Manresa exercitando-se espiritualmente, encontrou uns e outros. Aos poucos, Deus o foi purificando do seu eu profundo negativo ficando em maior evidência seu eu original, feito à imagem e semelhança de Deus.

Aconteceu-lhe, muitas vezes e em dia claro, ver alguma coisa no ar junto dele: dava-lhe muita consolação, porque era sobremaneira formosa. Não distinguia bem o que era, mas lhe parecia ter forma de serpente, com muitos pontos resplandecentes que semelhavam olhos, mas não era. Quanto mais olhava, mais crescia a consolação e quando ela desaparecia, se desagradava dela (Autob. 19).

Como saber e conhecer o que é de Deus? Quando separar o joio do trigo? Na nossa mente se travam batalhas decisivas e as descobrimos quando mergulhamos e silenciamos. Os Exercícios Espirituais são para vencer a si mesmo e ordenar a própria vida. Entramos neles com coragem e generosidade, para melhor se conhecer, pacificar e servir.

Nosso Peregrino, Inácio de Loyola, comia pouco e mal. Ele se refugiava numa gruta, onde ficava se examinando horas a fio. Entrava dentro de si e não parava, até ficar face a face com as suas incongruências. As imagens primitivas e insensatas, que povoavam seu loucamente o seu imaginário, se confundiam com outras, aparentemente boas e gratuitas. Dentro dele acontecia uma luta espiritual.

Os sonhos, como as fantasias, podem ser banais ou significativos. Estes últimos, dependendo da interpretação que lhes damos, podem ser preciosos para o autoconhecimento e crescimento. Inácio descobre que muitos dos tropeços experimentados foram consequências do seu imaginário desvairado. Os enganos sob aparência de bem, próprios da Segunda Semana dos Exercícios Espirituais, surgem naqueles que vão de bem para melhor. Alguns se perderam na auto referencialidade dos seus sentimentos. Não é fácil acertar na vida espiritual!  

Uma pergunta: E você o que já aprendeu dos seus sonhos e fantasias?





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