A opressão do povo negro não ocupa espaço na nossa agenda... (Cf. Ronilso Pacheco)


A Teologia Negra dialoga com a Teologia da Libertação, pelo viés da libertação de um racismo camuflado..

No Brasil tem avanços no que tange às políticas públicas, embora incipientes. Nas relações sociais enquanto sociedade, nosso avanço é mínimo. Não basta apenas garantir acesso à educação, é preciso levar em consideração que o racismo é estruturante na sociedade brasileira, arcabouço sobre o qual todo um país e sua cultura foram construídos. 

O racismo está inserido em todas as formas de relações da sociedade, e faz isto de maneira sorrateira, mais danosa, que consegue se imiscuir em meio às relações sociais, sem ser notado, identificado ou reconhecido. As políticas de combate ao racismo, e as punições daí recorrentes têm sido feitas, mas até se reconhecer um crime de racismo como fato consumado, é difícil, e acaba sendo raro.

Temos essa situação paradoxal: o enquadramento legal se amplia, se aprimora, mas a capacidade de punir quem comete racismo é mínima.
É cultural a dissimulação permanente do racismo. Todo esforço, inclusive dos nossos pesquisadores e intelectuais, está em enfatizar a desigualdade econômica, não a racial. Nosso dilema, para eles, tem seu núcleo no conflito entre ricos e pobres, e o racismo seria periférico. O Brasil continua fingindo que enfrenta o racismo e que ele não faz parte da estrutura da sociedade brasileira, mas acontece apenas como atos individuais, casos isolados.

Pensemos só no século XIX, para não ampliar os casos que fazem parte da nossa história. Não foram os pobres que ficaram proibidos, em 1824, de frequentar escolas (alegava-se que eram transmissores de doenças), mas os negros. Não foram os pobres que foram convocados em massa para a Guerra do Paraguai (1864-1870), mas os negros. E falamos de cerca de 1 milhão de negros mortos.

Os brancos europeus eram estimulados a entrarem no país para ocuparem postos de trabalho e ajudarem no processo de embranquecimento do país. Os negros, a partir de junho de 1890, só podiam entrar com autorização do Congresso (que sempre negava). 

Não foram simplesmente os pobres que foram lançados às ruas, com a Lei do Sexagenário e a Lei do Ventre Livre, mas os velhos negros e as crianças negras. Primeiros contingentes de mendigos e recolhidos para abrigos, no Brasil. Critério de posses? Não. Você vê uma escolha pelo corpo negro. Como agir como se esse lastro histórico não tivesse importância?

E você, o que pensa?


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