“Quem és, afinal?... O que dizes de ti mesmo?...” (Jo 1,22)
Quem
és? Que dizes de ti mesmo? É possível que os enviados de João Batista nunca se
fizessem essas mesmas perguntas... E quem teria ousado fazê-las aos sacerdotes do
Templo?... Mas, essas perguntas
foram feitas a Jesus.
Todo ser humano é aventureiro
por essência; com ardor, ele anseia por uma causa última pela
qual viver, um valor supremo que unifique, um projeto que mereça
sua entrega radical. Para dar sentido à sua vida e realizar-se como pessoa, precisamos da auto-transcendência, isto é, viver para
além de nós mesmo... Somos portadores de uma força
que nos arrasta para algo maior, e que não se limita ao próprio mundo...
O tempo do Advento vem ao encontro desse nosso desejo profundo e se apresenta
como uma mediação em direção à própria identidade expansiva, deixando nosso estreito território, e onde João Batista também
deixa transparecer também sua verdadeira identidade: “eu sou a voz que grita no deserto”.
Nossa existência exige identidade
clara e bem definida.
Normalmente confundimos identidade com certas “marcas
distintivas”: nome, profissão, posição social, política ou religiosa... A identidade, no entanto, é dinâmica, histórica, fecunda, aberta
ao desconhecido; ir além de si e adiante de
si. Mas,
só transcende quem se aproximar do próprio coração.
No interior de cada um há um movimento infinito de
construção de si, de identidade em movimento que se torna possível graças a
um constante arrancar-se do imobilismo. Só consegue aproximar-se da própria interioridade quem se desprende de
defesas e projeções.
A Palavra de Deus, pronunciada sobre
cada um de nós, des-vela e re-vela a nossa verdadeira e plena identidade: única, irrepetível, original. Essa identidade vai sendo gestada ao longo
de nossa história pessoal com os avanços e recuos, vitórias e fracassos,
alegrias e sofrimentos que vão pontilhando nossa existência e constituindo
esse ser único, que somos cada um de
nós.
Vivemos um contínuo chamado na vida e
para a vida. Realizaremos nossa vocação, sendo nós mesmos, com nosso modo
de ser, nossas possibilidades, nossa originalidade. Ninguém poderá realizá-la
por nós, pois ser fiel à própria identidade é ser fiel
à nossa vocação.
Identidade
é mergulhar no “fluxo da vida”, colocar-se em
movimento, e caminhar para o próprio interior. Ter identidade é viver em contato com as
raízes que nos sustentam. Há uma força de gravidade que nos atrai progressivamente
para a interioridade, onde Deus nos espera e acolhe.
Para
a mentalidade bíblica, o ser humano é uma criação contínua, um processo
permanente de “tornar-se pessoa”, passando por uma transfiguração, cada vez
mais nova, de si e do mundo. Fomos criados a imgem e semelhança de Deus!
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