Habemus Papam, do diretor italiano Nanni Moretti.
Passou em nossas telas há cinco anos.
O Papa morreu. Ao
término de suas exéquias, os cardeais são convocados e se reúnem para o
conclave que escolherá seu sucessor. Eis
o argumento para a história que Moretti nos quer contar.
Nas comédias é comum
que se busque ampliar comportamentos. Afinal a motivação é que se faça rir. Por
isto, antes de buscar o filme, será preciso que você tenha a mente aberta para
compreender assim, aumentadas até que se assemelhem à caricatura, algumas
condutas dos personagens retratados.
Como em todo conclave, há aqueles cardeais considerados pelos
vaticanistas e a imprensa, como naturais candidatos à sucessão. Só que
nenhum desses é escolhido. Após rodadas nas quais acontece o impasse entre os
mais cotados, surge um novo nome. Trata-se de Melville, um cardeal que nem era
visto nas cenas do conclave, que passa a receber os votos de seus pares e assim
é eleito papa.
A crise lhe chega imediatamente. Sente-se
incapaz para tão árdua missão. “Sou para
ser dirigido e não para liderar” ele dirá. A fumaça branca subiu aos céus
de Roma. A frase tradicional, “Habemus
Papam”, já foi pronunciada pelo cardeal camerlengo ao povo reunido, mas o eleito, já então devidamente
paramentado, não sai.
Até aí vai o filme. Para a nossa reflexão trago quatro pontos,
que muito me falaram ao assistir e me encantar com a película.
1 – O lado humano da Igreja. A realidade a cada dia se apresenta
mais complexa. A mudança tem três dimensões: rapidez, profundidade e muito mais volume. Os cardeais, mesmo que caricaturados,
têm consciência disto e rezam para não serem escolhidos. Estamos diante de um
escolhido que se sente incapaz frente à realidade, mesmo tendo a força e luz do
Espírito Santo.
2 – As janelas do papa. Num determinado
momento, torna-se necessário mostrar que
o papa se encontra recolhido aos aposentos. Só que lá ele não está. Um
guarda suíço recebe as ordens para, de tempos em tempos, mover as cortinas do
seu quarto. Importa que tal cena nos faça recordar a intuição de João XXIII, ao
convocar o Concílio Vaticano II, para
que se abrissem as janelas da Igreja. À época do filme, cinquenta anos após
a realização do Concílio, os ventos frios do “inverno eclesial” só permitiam `balançarem
as cortinas´, mas as janelas ficavam fechadas.
3 – O Papa e o povo. Um momento bonito
do filme nos mostra o Papa vestido como qualquer mortal no meio do povo, mas
este não o reconhece. O Papa busca ajuda da psicanálise, um experto judeu e divorciado.
4 – O Papa e as estruturas. Nas grandes
instituições, as estruturas terminam por
engessá-las. Deixam-nas lentas e dissociadas da verdade do mundo real.
Reparemos que no filme acontecem várias
mentiras, até o Papa mente, se omitindo. Para permanecerem fortes as
estruturas vão perdendo, pouco a pouco, em transparência e abertura. Isto se evidencia
mais ainda nas crises. No filme esse pecado aparece bem claro, ao se ocultar,
com o uso da mentira, o que na verdade acontece. Só uns poucos têm o domínio da situação. Até os cardeais que
elegeram Melville estão alienados e é assim, a jogar para o alto a bola num
campeonato de voleibol, que acabam sendo retratados...
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Vou assistir!
ResponderExcluirTenho o DVD deste filme. Excelente! Penso que outro ponto que o filme nos faz refletir é sobre a real vocação. O personagem principal vivia nas burocráticas estruturas da Igreja, como um executivo. Mas não tinha nenhuma vocação pastoral.
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