Na China não existem duas Igrejas, mas duas comunidades de fiéis chamadas a realizar um caminho gradual de reconciliação rumo à unidade, foi o que disse o Secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin ontem, diante do debate sobre supostas mudanças nas relações entre Santa sé e República Popular da China.
O Papa Francisco acompanha pessoalmente os atuais contatos com
as autoridades do governo chinês, e todos os seus colaboradores do Vaticano agem
de acordo com as orientações do Papa. Ninguém
toma iniciativas pessoais...
As tratativas
em andamento se movem em uma linha de abertura
construtiva ao diálogo e fidelidade à genuína tradição da Igreja, levando em
consideração – como já indicado por Bento XVI na Carta aos Católicos chineses
de 2007 – que “a solução dos problemas
existentes não pode ser alcançada por meio de um permanente conflito com as
legítimas autoridades civis”.
Não se trata de manter um perene conflito entre
princípios e estruturas contrapostas, mas de encontrar soluções pastorais
realistas que permitam
aos 26 milhões de católicos viver a sua fé e de prosseguir juntos a obra de evangelização no contexto chinês.
O secretário de Estado não esconde a permanência de muitos problemas
para a vida da Igreja na China, que não podem ser resolvidos todos juntos.
E, sobre a questão da
escolha dos bispos (se pertence ao Vaticano ou ao Estado) não se pode esquecer
que a liberdade da Igreja e a nomeação
dos bispos sempre foram temas recorrentes nas relações entre a Santa Sé e
os Estados. O caminho iniciado com a
China por meio dos atuais contatos, é gradual e ainda exposto a muitos
imprevistos. Mas ninguém em sã
consciência pode dizer ter soluções
perfeitas para todos os problemas. É
preciso tempo e paciência para que se possam curar tantas feridas pessoais
causadas reciprocamente dentro das comunidades.
Incompreensões,
dificuldades e sofrimentos devem ser enfrentados. Todos nutrimos a confiança que, uma vez
considerado adequadamente o ponto da nomeação dos bispos, as outras
dificuldades não deveriam ser tais, a ponto de impedir aos católicos
chineses viver em comunhão com o Papa.
O cardeal Parolin exprime a esperança “de que se chegue, quando o Senhor quiser, a não mais falar de bispos “legítimos” e “ilegítimos”, “clandestinos” e
“oficiais” na Igreja da China, mas a encontrar-se como irmãos, aprendendo
novamente a linguagem da colaboração e da comunhão.
Sem essa experiência vivida como poderia a Igreja na China
relançar o caminho da evangelização? Se não estamos prontos a perdoar, isso
significa que há outros interesses a serem defendidos: mas essa não é uma
perspectiva evangélica.
É hora de
“aproveitar o capital humano e espiritual de muitas provações para construir um
futuro mais sereno e fraterno, com a ajuda de Deus”. A Igreja jamais esquecerá as provações e sofrimentos passados e
presentes dos católicos chineses. Tudo isso é um grande tesouro para a Igreja
universal.
O cardeal Parolin disse aos católicos chineses: “estamos
perto de vocês, não somente
através da oração, mas também com o cotidiano compromisso de acompanhá-los e
apoiá-los no caminho da plena comunhão.
Pedimos-lhes, portanto, que ninguém se
apegue ao espírito de contraposição para condenar o irmão ou que use o passado
como pretexto para fomentar novos ressentimentos e fechamentos. Pelo contrário,
desejamos que cada um olhe com confiança
para o futuro da Igreja, para além de todos os limites humanos”.
D. Shao Zhumin, bispo de Wenzhou (900.000 habitantes, dos quais 120.000 católicos), voltou à sua diocese no dia 27/JAN/2018, após 7 meses de exílio forçado, e foi acolhido alegremente pelo seu povo. Algo novo começa a se dar nesse imenso país. Pelo que
entendi do que está acontecendo, o Vaticano e o governo da China
estão prontos para estabelecer relacionamentos recíprocos, para o bem dos católicos chineses.
A China é uma das últimas fronteiras que a diplomacia do Vaticano ainda não entrou. Somente um papa com o perfil de Francisco consegue tal fato. Rezemos pelo sucesso das conversas. Na Arquidiocese do Rio, existem três ou dois padres chineses que tiveram que sair da China para serem ordenados.
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