“Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados...”(Jo 6,11)
O capítulo de João 6 é o mais longo e denso de todos os evangelhos, e vai ocupar os próximos cinco domingos. Nos 71 versículos, o apóstolo João elabora uma teologia do seguimento. É uma iniciação catequética, rumo ao batismo, e que na primitiva comunidade cristã durava vários anos.
Jesus foi para o outro lado do mar da Galileia.Passar para a outra margem; não podemos nos limitar a ver as coisas a partir das margens conhecidas. É preciso deslocar-nos para a outra margem, para ver as coisas sob outra perspectiva, com um olhar mais amplo. Há o perigo de fechar-nos no próprio grupo, ideias, doutrinas e considerar-nos donos da verdade. É preciso fazer a travessia para deixar-nos interpelar pelo novoe enriquecer-nos com outros pontos de vista: a dos pobres e marginalizados.
O Evangelho não é para acomodados ou para aqueles que tem medo de fazer a travessia; o Evangelho é para fazer estrada, viver em atitude de saída.
Jesus não é daqueles que, quando passa junto ao faminto, baixa os olhos para não ver. Jesus “levantou os olhos e viu uma grande multidão”.Jesus é o primeiro que pensa na fome daquela multidão que acudiu para escutá-lo. É preciso fazer algo. Jesus vivia pensando nas necessidades básicas do ser humano.
A solução de Felipe, “Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?...”só vê a dificuldade e, inclusive, a impossibilidade de encontrar uma saída para a situação. O grupo não tem dinheiro.
Jesus sabe: Os que tem dinheiro nunca resolverão os problemas da fome no mundo, pois é preciso algo a mais do que dinheiro. Antes de mais nada, é necessário que ninguém monopolize o seu alimento para si mesmo, quando há outros que passam fome. Seus discípulos terão que aprender a pôr à disposição dos famintos o que têm, mesmo que sejam só “cinco pães de cevada e dois peixes”.
A dinâmica do Reino de Deus é compartilhar.O problema não se soluciona comprando, o problema se soluciona compartilhando. O pãonas mãos de Jesus era pão para ser partido, repartido e compartilhado. O pão armazenado, como o maná no deserto, se corrompe e apodrece.
Jesus precisa de nosso coração para que o pão seja repartido. Pão sem coração é pão indigesto, cria revolta e divisões. No pão compartilhado, encontramos a luz da vida. “Se partes teu pão com o faminto... brilhará tua luz como a aurora”(Is 58,7-8).
Uma refeição fraterna foi servida por Jesus a todos, graças ao gesto generoso de um menino. Para Jesus, isso é suficiente.Esse menino, sem nome e desconhecido, torna possível o impossível: Jesus toma em suas mãos os pães, dá graças a Deus e os reparte entre todos. Esta refeição compartilhada evoca a eucaristia, à qual ninguém deve ser excluído.
Se há fome no mundo, não é por escassez de alimentos, mas por falta de solidariedade. Há pão para todos. Temos medo de partilhar o que somos e temos.
Cremos que sem dinheiro nada se faz e com ele se compra tudo: amor, amizade, serviço, justiça, fraternidade, fé... Neste mundo capitalista tudo tem seu preço e é comercializado.
Na multiplicação dos pães e dos peixes o milagre não foi tanto a multiplicação do alimento, mas a transformação solidária. Todos sentiram-se interpelados pela palavra de Jesus e, deixando de lado o egoísmo, e colocaram o pouco que cada um tinha... O alimento se multiplicou e sobrou.
O gesto de compartilhar marcou profundamente a vida das primeiras comunidades que seguiram Jesus. No partir e repartir o pão descobriam a presença nova do Ressuscitado.
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