30º DTC: TECENDO OLHARES... (cf. Pe. A. Palaoro SJ)

“Mestre, que eu veja!...” (Mc 10,51)

Continuamos fazendo caminho com Jesus, rumo a Jerusalém. Estamos antes de entrar na “cidade santa”, onde acontecerão os mistérios centrais da nossa fé: Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. 

Detenhamo-nos em alguns detalhes que o evangelista Marcos deixa transparecer no evangelho deste domingo. O cego Bartimeu é o símbolo da marginalização: está fora do caminho, parado, percebendo como os outros vão passando, dependendo de suas esmolas, à beira do caminho, à mercê da indiferença dos viandantes; um ser humano de quem ninguém queria se aproximar porque era tido também como impuro; um cego sem companhia.

Bartimeu não ficou resignado com sua situação; daí o grito quando percebe que Jesus passa por perto. Não tem outro meio de chamar a atenção de Jesus, senão gritando. Muitas pessoas próximas se irritam e mandam calar a boca, mas ele grita mais alto

Jesus é aquele que ouve, para e chama o cego interrompendo bruscamente a sua caminhada apressada 

O cego levanta-se de um pulo, deixa de lado seu manto, sua proteção, sua segurança, seu teto... “e pôs-se de pé”.

Ao lhe perguntar Jesus: o que queres que eu te faça? Jesus estabele um diálogo de tu a tu, oferecendo-lhe a possibilidade de afirmar-se diante de alguém, de ter uma palavra que é escutada, de expressar os desejos de seu coração, de “empalavrar” suas aspirações e esperanças. 

O espaço de diálogo experimentado devolve ao cego a confiança, lhe confere autonomia e o mobiliza a entrar no caminho de Jesus.

A capa é abandonada na beira da estrada, marcando o lugar da mudança. Ao chamado de Jesus, reage dando um salto. Salta para um novo olhar, para um novo ser. 

Bartimeu seguia Jesus pelo caminho”.Esta frase expressa mobilidade proximidadepassou da imobilidade ao movimento, da exclusão à inclusão, do afastamento à proximidade...

Ao “fixar seu olhar”em cada de nós, chamando-nos pelo nome, seremos movidos(as) a fazer eleições mais radicais e integrais pelo Reino, segundo o modo de ser, de viver e de fazer do próprio Jesus.

“Chamado-resposta”: troca comprometedora de olhares. O olhar transparente e livre de Jesus ressuscita o nosso olhar tímido e estreito e nos capacita olhar amplos horizontes: seu povo, seu mundo dividido e excluído... 

Precisamos suplicar como o cego do relato de Marcos:  “Mestre, que eu veja!”, para poder reconhecer e agradecer, descobrir portas onde antes víamos muros. Hoje somos afetados por muitas cegueiras: há milhões de pessoas consideradas invisíveis.

A realidade entra pelas janelas de nossos olhos. Cultivar a espiritualidade em nossa vida cotidiana tem a ver com aprender a olhar de outra maneira, e aprender a observar sem qualificar, simplesmente, recebendo o que existe, deixando-o ser, dando-lhe espaço.

Uma visão sadia sabe ver o outro no melhor de si mesmo, em seu mistério único e em sua originalidade, sem rejeitar nada.

Oxalá possamos viver aquela bem-aventurança: “Ditosos vossos olhos porque vêem...” (Mt 13,16).



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