1º DTQ: Tempo precioso para afinar nosso interior... (cf. Pe. A. Palaoro SJ)

 “Não só de pão vive o homem...”(Lc 4, 4)



Agora é tempo de Quaresma, tempo de tirar as “máscaras” do nosso Carnaval; tempo privilegiado para deixar transparecer nossa verdade mais profunda e nossa real identidade. O curioso é que a Quaresma começa com um “disfarce diabólico”, para tentar e enredar Jesus. Disfarces do mal “sob a aparência de bem”(S. Inácio).

A tentação tem muito de sedutora e maliciosa, e nisso consiste sua força de atração. Sedução que deslumbra e atrai irresistivelmente nossa liberdade. Alguém quer o mal pelo mal? Não! Alguém deseja afastar-se de Deus livre e conscientemente? Não! Mas isso pode acontecer, pois a mentira reveste-se de algo que a esconde e se apresenta como verdade. A tentação precisa revestir-se do bem para poder enganar. 

A tentação nunca se apresenta com o rosto descoberto. E assim aconteceu com as tentações de Jesus. Onde está o “disfarce”? No fato de procurar justificar as tentações com a Palavra de Deus. Não podemos Deus para alimentar o nosso ego,  dominar ou fazer brilhar holofotes sobre nós...  

Os evangelhos sinóticos (Mc, Mt e Lc) colocam as tentações de Jesus no início da sua atividade pública. Eles nos dizem que, antes de começar o percurso quaresmal, é necessário confrontar-nos com nossos próprios “demônios interiores”. Sem isso, o mais provável é que  vejamos “demônios” nos outros, ou projetemos nossa própria negatividade. 

Os “demônios” do relato evangélico deste domingo são três: ter, poder e a vaidade (aparentar). Neles, o próprio ego se entrincheira e se apega para sentir-se falsamente “maior”. Eis os “ídolos” do ego: Consumismo, poder e influência (imagem, prestígio...). O instinto de ter sempre mais se transforma em cobiça, e o instinto da autoestima se transforma em obsessão doentia pelo poder. O ex governador Cabral confessou publicamente ter caído no vício do "ter" e do "poder" sem fim; daí suas falcatruas.

O relato das tentações de Jesus é uma teologia real. Todos somos tentados por essas possibilidades, e temo que ter cuidado para não nos fechar no próprio “ego”. Trata-se do “trigo” e do “joio”... Qual desses dois dinamismos queremos viver e vão prevalecer?...

1ª Tentação: “Se és Filho de Deus, manda que esta pedra se mude em pão”. Deixar-se levar pelos instintos, pelos apetites das “afeições desordenadas”... É fazer o que o “ego” pede, e ser “egoísta”: satisfazer suas próprias necessidades, viver obcecados por um bem-estar sempre maior, e fazer do consumismo indiscriminado o ideal da vida.

2ª Tentação:“Se te prostrares diante de mim em adoração, tudo isso será teu”. poder é a idolatria suprema, e traz sempre consigo uma opressão. Adorar o Deus verdadeiro significa descobrir o que de melhor e transcendente há em nós, e viver em sintonia com isso. Só nos prostramos diante de Deus!

3ª Tentação:“Se és Filho de Deus, atira-te daqui abaixo...”, realiza um ato espetacular, para que todos vejam o grande que você é. Sua vanglória e soberba chegarão ao infinito!

A resposta às tentações será sempre a mesma: Deixemos Deus ser Deus. Aceitemos nossa condição criatural, e tenhamos todos como irmãos e irmãs. 

Que o Tempo quaresmal possa ser precioso para “afinar” nosso interior, e sermos mais fraternos com todos. 


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