Iluminar a nossa escuridão com a verdade... (Marta Vieira)

"Houve uma festa dos judeus em Jerusalém, e Jesus foi. E existia em Jerusalém uma piscina chamada Betesda. Muitos doentes ficavam ali perto deitados, cegos, coxos e paralíticos, porque um anjo descia, de vez em quando, e agitava a água da piscina: E o primeiro doente que aí entrasse depois do borbulhar da água, ficava curado de qualquer doença que tivesse. E lá se encontrava um homem, que estava doente havia trinta e oito anos.
Jesus viu o homem deitado, e sabendo que estava doente há tanto tempo, disse-lhe: Queres ficar curado?
O doente respondeu: Senhor, não tenho ninguém que me leve à piscina, quando a água é agitada. Quando estou chegando, outro entra na minha frente... 
Jesus disse: Levanta-te, pega tua cama e anda.
No mesmo instante, o homem ficou curado, pegou sua cama e começou a andar.
Ora, esse dia era um sábado. (A lei dos judeus proíbe que eles façam qualquer tipo de trabalho no sábado). Por isso, os judeus disseram ao homem que tinha sido curado: É sábado! Você não pode carregar essa cama.
Ele respondeu-lhes: Um homem me curou e disse: ‘Pega tua cama e anda’. Então lhe perguntaram: Quem é que te disse: ‘Pega tua cama e anda’? O homem que tinha sido curado não sabia quem o havia curado, pois Jesus se tinha afastado da multidão que se encontrava naquele lugar.
Mais tarde, Jesus encontrou o homem no Templo e lhe disse: Estás curado. Não voltes a pecar, para que não te aconteça coisa pior. Então o homem saiu e contou aos judeus que tinha sido Jesus quem o havia curado".
Hoje não falarei da misericórdia de Jesus, presente em cada um de seus atos. Vou falar apenas a respeito desse paralítico, a quem considero um manual completo de psicologia. 
A primeira coisa que chama minha atenção nesse relato é a tal "piscina mágica", cujas águas se agitavam misteriosamente de vez em quando. Nesses momentos, acreditava-se que quem entrasse nela se curava. Talvez eu esteja muito enganada, mas acho que a tal piscina era a crendice da hora, a bola da vez. Se alguma coisa agitava as águas daquela piscina, não era um anjo de Deus, porque Deus NÃO É ASSIM... Deus não colocaria seus filhos na situação vexatória de se atropelarem feito animais em busca de uma cura tão incerta! Deus não privilegiaria uns em detrimento de outros: Porque havia pessoas que só a muito custo poderiam se beneficiar da tal piscina: por exemplo, um paralítico...
No entanto, ali estava esse homem, e estava ali há TRINTA E OITO ANOS! Acho espantoso. Estava ali, à espera de algo tão incerto... e, sobretudo, tão INADEQUADO para ele! Curasse ou não, Betesda não era para um paralítico desacompanhado...
E é aqui que eu começo a pensar em duas coisas:
A primeira: Em que valores, circunstâncias, pessoas, depositamos nossa energia, esperando por algo que, no fundo, sabemos que não virá... Ou que, mesmo que pudesse vir, NÃO É PARA NÓS? Ou seja: não resolverá nosso problema, não abrirá caminhos para nossa vida, não iluminará nosso destino? Assim como Betesda não resolveria o problema desse homem?
A segunda, esse momento trágico em que a perseverança se transforma em desistência... Estar ali, há 38 anos, esperando por algo que não viria para ele... Basta um olhar mais profundo para ver que esse homem permaneceu à beira de Betesda para acalmar sua consciência, para enganar-se a si mesmo dizendo que estava empenhado em sua cura, mas, NA VERDADE, fazendo exatamente NADA para que a cura viesse...
E mais interessante ainda é o diálogo dele com Jesus. Começando pelo fato de que Jesus é que abre o diálogo, Jesus é quem toma a iniciativa, oferecendo-lhe a cura! Quem quer a cura, PEDE. Quem quer se curar, IMPLORA a Jesus, atravessa meio mundo para encontrá-lo...
Mas o nosso interessante paralítico permanece inerte. Jesus vá até ele... E Jesus lhe faz uma pergunta significativa: QUERES SER CURADO? Pergunta óbvia. Qual doente não quer ser curado? Mas Jesus sabia que falava com um homem que estivesse, talvez, petrificado em seu mundo interno, encarcerado em suas escolhas equivocadas, cego pelas mentiras que contava para si mesmo... 
Estão vendo que, no caso do paralítico, a pergunta tinha TUDO A VER?
Agora, vamos nos colocar no lugar desse paralítico: Estou doente. Alguém que pode me curar pergunta: você quer ficar bom? O que responderíamos? Claro que responderíamos com uma única palavra: SIM! Mas esse homem não dá nenhuma resposta assertiva. A desistência dentro dele era tão forte, talvez o medo da vida fosse tão grande que ele precisava ficar aferrado a um problema sem solução... Jesus lhe fala da PARALISIA. Ele responde com o problema da piscina... Não podia ver outros caminhos, outras respostas, outras saídas. 
Sucumbiu à crise que a doença trouxe à sua vida. Foi soterrado por ela. Muito triste, isso! Tem-se a clara impressão de que ele já tinha ESQUECIDO que era paralítico, e que a PARALISIA era seu problema REAL. Fixou-se em outro problema. Um problema que não era a real questão de sua vida. Para o REAL problema de sua vida, Jesus lhe oferecia a solução, mas ele não via. Permanecia preso no problema secundário. Ah, se a gente perde o foco, a lucidez... Coitados de nós! A resposta e a saída podem estar diante de nossos olhos, e podemos NÃO VER...
De qualquer modo, Jesus resolve curá-lo. Nenhum relato de gratidão é registrado. (E eu chego até a pensar que, talvez, ele não tenha gostado...)
E ele nem sabe quem o curou. E nem quis saber. Isso me dá a certeza de que ele não PEDIU a cura a Jesus... Provavelmente foi outra pessoa, na beira da piscina, que relatou a Jesus o sofrimento desse paralítico... Este sim, foi "o anjo de Betesda" para o paralítico. Mas, para variar, ele não viu...
E logo vem o confronto com os judeus, porque era sábado, ele estava carregando um objeto... Jesus não podia curar no dia de sábado, e ele não podia carregar sua cama de paralítico pelas ruas num dia de sábado. Era a LEI. Os judeus eram muito severos com relação a isto.
Então o nosso paralítico, para escapar da acusação dos judeus de estar violando o sábado... ah, agora sim! Agora ele faz referência a Jesus, mas para DEDURAR Jesus, colocar sobre Jesus a "culpa" da cura, da transgressão do sábado, de carregar sua cama... Ele não louvou Deus em alta voz pelo milagre que tinha recebido. Ele foi CONTAR AOS JUDEUS que foi Jesus quem o tinha curado e mandado carregar a cama...
Todos nós somos, em alguma coisa, como esse pobre homem, esse homem paupérrimo de TUDO... Como rito, vamos refletir seriamente sobre nossa honestidade para conosco, para com a vida e para com Deus. E pedir a Jesus que nos CURE de todas as nossas PARALISIAS.

Porque para Deus NADA é impossível. 

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