Senhor, aumenta a nossa fé... (Lc 17,5)
Os relatos evangélicos nos permitem conhecer o “caminho” aberto por Jesus. É o que revela a mensagem do evangelho deste domingo, a partir do pedido dos apóstolos: Aumenta nossa fé! Mas, essa petição não está bem formulada, pois não se trata de `quantidade´, mas de `autenticidade´. A fé não pode ser aumentada a partir de fora, pois ela cresce a partir de dentro.
A fé é um dom de Deus dado a todos. A fé não é “algo” que uns tem e outros não. A fé viva e operante amadurece no coração de quem vive como discípulo(a) e seguidor(a) de Jesus. A fé não é um ato, nem uma série de atos, mas uma atitude pessoal fundamental e total que imprime uma direção definitiva à existência.
Jesus mobilizou seguidores(as) a quem confiou a missão de anunciar e promover o projeto do Reino de Deus. Por isso, o mais importante para reavivar a fé cristã é ativar a decisão de viver como seguidores(as) de Jesus. Quem o segue vai se afeiçoando à sua pessoa e à sua mensagem. Mais que ter fé em Jesus, o decisivo é “viver a fé de Jesus”, crer no que Ele acreditou, e interessar-nos por aquilo que Ele se interessou. No seguimento, vamos buscando uma maneira criativa de viver hoje o que Jesus viveu no seu tempo.
Jesus nos ensina a viver a fé não por obrigação, mas por atração. Somos discípulos(as) e seguidores(as) dele. Ser cristão é ser seguidor de uma Pessoa, Jesus Cristo e não tanto uma doutrina. Alguns buscam mais uma religião que dá segurança e não o Evangelho que inquieta e desinstala.
Ter fé é, sobretudo, viver os valores que vivia Jesus. A fé é uma vida, uma relação pessoal que nos faz caminhar; um caminho, no qual vamos vivendo uma relação pessoal e um progressivo crescimento.
O seguimento exige uma dinâmica de movimento. E seguimento não é questão de razão (doutrina), mas de afeto (coração). Seguir Jesus significa viver a aventura da fé: fazer caminho com Ele e revestir-se do Seu estilo de vida...
Infelizmente, a fé cristã hoje não suscita “seguidores”, mas só adeptos de uma religião. Não gera “discípulos(as)”, mas apenas membros de uma instituição. Muitos correm o risco de não conhecer a experiência mais originária e apaixonante: o encontro pessoal com Jesus.
Alguns cristãos se instalam interiormente: não crescem e não se deixam questionar pelo Evangelho; não creem em sua própria conversão nem se arriscam em aproximar-se de Jesus... Outros vivem de maneira rotineira e repetitiva: A oração se faz fórmula, e o Evangelho torna-se letra morta; a Igreja se transforma em “ONG” e a autoridade se faz poder; a missão se reduz a propaganda e o culto vira ritualismo.
Finalmente, a parábola do empregado cuja única obrigação é fazer o que lhe fora pedido, sem mérito algum, está na linha da crítica de Jesus aos fariseus por confiarem no cumprimento da Lei como único caminho de salvação. Trata-se do eterno problema da fé ou das obras.
Nem Deus tem que aumentar nossa fé, nem somos “servos inúteis”. Descobrir o que realmente somos seria a chave para uma verdadeira confiança em Deus, na vida, na pessoa humana. Nesse sentido, “somos servidores e nada mais, fizemos o que devíamos fazer”.
A expressão “somos servos inúteis”, revela uma tradução muito limitada. Se o servo fosse inútil, o senhor não lhe pediria serviço algum. Pelo contrário, ele é extremamente útil. Seu trabalho tem muito valor aos olhos do senhor. Mas o servidor não é nenhuma personalidade de destaque. Ele não está acima do senhor, Ele faz seu trabalho; é servidor, e nada mais. Mas serve.
Servindo com simplicidade em função da retidão, da fidelidade e da gratuidade, seremos indispensáveis e significativos para o projeto de Deus.
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