17/NOV: 3º Dia Mundial dos pobres...




O grito dos pobres continua a ser ignorado. Mensagem do Papa Francisco para o 3º Dia Mundial dos Pobres permaneceu vítima de um silêncio ensurdecedor.
Os pobres incomodam. Sua presença e carne ferida representam a fissura mais perigosa desta sociedade, construída sobre a primazia do sucesso e da imagem, da fortuna e do dinheiro.
Os pobres gritam mesmo que não falem, quando os encontramos nos cantos da rua ou naquelas situações que não queremos ver nem perceber. Pobreza material, marginalização generalizada que geramos deixando nas margens da vida pedaços da humanidade confinados à solidão, à doença, ao desemprego, à falta de meios culturais, à degradação ou na miséria humana. Os pobres estão ali, diante de nossos olhos e contestam a injustiça deste mundo, suas estruturas injustas, seus mecanismos desumanos, sua economia do descarte.
É óbvio que, sobre os pobres, é melhor não falar demais.É melhor não colocá-los no centro, limitando-se a fazer algum gesto de aparente solidariedade, encoberto daquela pátina burguesa da qual a religiosidade do mundo ocidental ainda tem dificuldade de se livrar, e que satisfaz as próprias necessidades.
Ao apresentar a Mensagem para o Dia dos Pobres deste ano, dom Fisichella, presidente do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização, destacou claramente a passagem: não apenas gestos esporádicos para os pobres, mas sinais de esperança. Isto é, abertura do coração para entrar em sua cultura, em sua história, no mundo interior que eles vivem.
Não gestos que acalmem a consciência deixando-nos tranquilos num estilo de vida consumista e pouco afetado pelo Evangelho, mas a coragem de se envolver com uma profunda compaixão, entrando na vida do outro e tratando suas feridas. Só isso realmente constrói esperança para os pobres do mundo.
Mensagem do Dia dos Pobres contém esse e outros elementos de profecia, que não devem ser silenciados. Pelo contrário, seria apropriado indicar sua leitura meditada em todas as comunidades paroquiais e em todas as famílias.
O texto é corajoso, claro, capaz de tocar o coração sem marcar nem tons de acusação, mas também sem realidade diplomaticamente "edulcoradas".
esperança do pobre, que não se decepciona porque Deus está do lado dele, obriga a fé cristã a sair do conforto dos ritos sagrados que não tocam a vida e não transformam a história, para ir olhar de perto e com lágrimas nos olhos. Aqueles que os escritos do Papa Francisco chamam de "muitas formas de novas escravidões às quais estão submetidos milhões de homens, mulheres, jovens e crianças...Famíliasobrigadas a deixar a sua terra à procura de formas de subsistência noutro lugar; órfãosque perderam os pais ou foram violentamente separados deles para uma exploração brutal; jovensem busca duma realização profissional, cujo acesso lhes é impedido por míopes políticas econômicas; vítimas de tantas formas de violência, desde a prostituição à droga, e humilhadas no seu íntimo. Além disso, como esquecer os milhões de migrantes vítimas de tantos interesses ocultos, muitas vezes instrumentalizados para uso político, a quem se nega a solidariedade e a igualdade? E tantas pessoas sem abrigo e marginalizadas que vagueiam pelas estradas das nossas cidades?
Mensagem chega como um aguilhão poderoso que perturba a tranquilidade de nossa consciência agora acostumada e anestesiada: "vemos os pobres nas lixeiras a recolher o fruto do descarte e do supérfluo... Eles próprios se tornam parte duma lixeira humana são tratados como lixo, sem que isso provoque qualquer senso de culpa em quantos são cúmplices desse escândalo...  Chegou-se ao ponto de teorizar e realizar uma arquitetura hostil para desembaraçar-se da sua presença mesmo nas estradas, os últimos espaços de acolhimento.”
Diante desse cenário, cheio de tristeza e amargura, a fé cristã coloca o sinal daquela esperança que se chama Jesus Cristo. Diante das piadas "sociais" daqueles que contestam a esta Igreja de Francisco uma escolha de campo excessivamente política - enquanto deveria ocupar-se de "almas", incenso e sacristias - a fé cristã é acolhimento do amor que o Pai nos doou em Cristo seu Filho, que não se limita a atos de culto religiosos ou a profissões de fésimplesmente enunciadas, mas transforma a vida a partir de dentro e a direciona para o amor ao próximo.
Nesse sentido, a fé cristã é sempre "orientada politicamente", não porque tem que fazer política ativa nos partidos, mas por ser fé encarnada na história, que convida os crentes a "se posicionarem" diante da dor do mundoe a exercer a compaixão Cristo e sua prática de libertação para os oprimidos do mundo. Carregar a cruz - um convite que Jesus nos dirige - em vez de ser o ato sacrificial de masoquismo espiritual que muitos entendem, deveria significar isso: erguer a dor do mundo, carregando seu peso, até se quebrar e morrer pelo outro. Assim como fez Jesus.
Papa Francisco não tem dúvidas: é a esperança que o cristianismo é chamado a construir, interceptando a necessidade de Deus que os pobres têm, oferecendo-lhes mãos e coração para serem erguidos, sem esquecer que “Por vezes, basta pouco para restabelecer a esperança: basta parar, sorrir, escutar. Durante um dia, deixemos de parte as estatísticas; os pobres não são números, que invocamos para nos vangloriar de obras e projetos. Os pobres são pessoasa quem devemos encontrar: são jovens e idosos sozinhos que se hão de convidar a entrar em casa para partilhar a refeição; homens, mulheres e crianças que esperam uma palavra amiga. Os pobres salvam-nos, porque nos permitem encontrar o rosto de Jesus Cristo”.
Podem-se construir muitos muros e obstruir as entradas, iludindo-se assim de sentir-se a seguro com as suas riquezas em prejuízo dos que ficam do lado de fora. Mas não será assim para sempre. O ‘dia do Senhor’, descrito pelos profetas (cf. Am 5,18; Is 2–5; Jl 1–3), destruirá as barreiras criadas entre países e substituirá a arrogância de poucos com a solidariedade de muitos. A condição de marginalização, em que vivem acabrunhadas milhões de pessoas, não poderá durar por muito tempo. O seu clamor aumenta e abraça a terra inteira.
O pobre é um contínuo protesto contra as nossas injustiças; o pobre é um paiol.Se lhe ateias o fogo, o mundo vai pelo ar.

Para ler a mensagem do Papa Francisco para este dia




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