32º DTC: MILITANTES DA VIDA... (Pe. A. Palaoro SJ)

... pois todos vivem para Ele (Lc 38)


Estamos nos aproximando do final do ano litúrgico. Depois de um longo percurso fazendo caminho com Jesus, chegamos a Jerusalém. Continua a polêmica com os dirigentes religiosos. Os saduceus entram em cena; eles constituíam a elite econômica, social e religiosa da sociedade judaica. Eram colaboracionistas dos romanos, para não colocar em risco seus interesses. Só admitiam o Pentateuco e não acreditavam na ressurreição. Um grupo deles se aproxima de Jesus, ironizando o tema da ressurreição: vários irmãos que de acordo com a lei do levirato, casam-se com a mesma mulher; de quem vai ser a mulher?

Jesus não responde diretamente à pergunta absurda rejeitando a ideia infantil dos saduceus que imaginavam a vida dos ressuscitados como prolongamento desta vida, e tira uma conclusão decisiva para nossa fé: “Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para Ele”. A ressurreição não é um retorno ao passado, mas é a entrada em uma outra vida. Ressuscitar não é voltar a ser como antes. 

A experiência da ressurreição consiste numa Nova Criação. Deus é fonte inesgotável de Vida e acolhe a todos em seu amor de Pai-Mãe. Há uma diferença radical entre nossa vida terrestre e a vida plena, depois da morte. É Vida absolutamente “nova”

Nós somos destinados, portanto, não à morte, mas à Vida e essa Vida já começou. Somos Vida. Vida transformada no seio da Vida que se faz vida em nós. Vivemos no fluxo da única Vida que vive em nós. Somos a Vida, ou mais precisamente, Ela é em nós. O Divino em nós ativa todas as possibilidades de nossa vida, conduzindo-nos ao seio da única Vida.

Crer no Deus que é Vida, implica ser militante em favor da vida, frente a uma cultura de morte e violência. E crer na vida é rebelar-se contra todos os poderes que a asfixiam, e são vítimas da “cultura do descarte”: migrantes indígenas, mulheres marginalizadas, crianças e idosos abandonados...

Com frequência, muitos estabelecem uma separação entre Deus vida, parecem realidades contrapostas. Alguns veem a vida com suas limitações e contradições como uma dificuldade para acreditar em um Deus bom e misericordioso. E outros, pelo contrário, veem Deus como um empecilho para desfrutar a vida em toda sua plenitude. Eles têm uma imagem negativa de Deus

Com isso, a religião e a vida entram em conflito, porque a religião complica a vida de muitas pessoas que levam a sério sua experiência de Deus. E a vida, com seus direitos e instintos é vista como uma ameaça para fazer uma experiência de Deus. 

Todos experimentamos as consequências funestas desta confrontação entre Deus e a vidaNo entanto, o Evangelho deixa claro que a mediação entre os humanos e Deus é a vida, não a religião. A religião, expressão importante da vida, deve estar sempre a seu serviço. Quando a religião agride avida e a dignidade das pessoas, ela se desnaturaliza e se desumaniza, e acaba sendo uma ofensa ao Deus de Jesus.

Para Jesus, primeiro, é a vida e não a religião. A religião deve estar a serviço da vida, para dignificá-la. Jesus sempre se deixou conduzir para aliviar o sofrimento humano, e levar a Boa Nova aos pobres. espiritualidade cristã funde a causa de Deus com a causa da vida; encontramos Deus na medida em que defendemos a vida.



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