33ºDTC: PEDRAS QUE SOTERRAM A VIDA... (cf. Pe. A. Palaoro SJ)

“Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra...” (Lc 21,6)
 


Estamos chegando ao final de mais um tempo litúrgico (Tempo Comum); fizemos uma longa “caminhada contemplativa”, olhos fixos em Jesus, deixando-nos ensinar por Ele. Ainda ressoa o apelo de Jesus: é preciso “sair dos próprios muros”, remover as pedras que soterram a vida.

O contexto é a presença de Jesus no Templo de Jerusalém, e a admiração diante da beleza do edifício. No entanto, Jerusalém e o Templo traíram sua missão, e serão destruídos. Não só o Templo, mas as realidades que parecem intocáveis e eternas devem cair para que seja possível a Nova Jerusalém, humana e humanizadora.

Os grandes templos costumam ser muito solenes em suas estruturas e em seus muros. Mas, tanta pedra, com frequência, impede que a vida circule por ali.

A imagem de um Templo construído com enormes pedras e rodeado de grandes muros é a expressão de uma religião petrificada, fria e sem a marca da compaixão. Jesus, o verdadeiro Templo, desmascara toda religião que se fundamenta em edifícios vistosos, em ritos suntuosos... É só aparência que causa espanto, mas não se sustenta. Tudo o que se fundamenta na pura exterioridade, cai por si mesmo.

Para os judeus, o Templo simbolizava e expressava a presença de Deus, que habitava no meio do povo; aparecia como lugar privilegiado de oração e purificação. Se falhasse o templo, o mundo perderia seu sentido e os homens ficariam sem chão.

Jesus vincula a chegada dos tempos finais à queda desse Templo. Só assim poderá dar lugar ao verdadeiro santuário de Deus. Para Jesus, a verdadeira imagem de Deus é o ser humanoÉ nesse contexto que Jesus afirma que “não ficará pedra sobre pedra”. E não diz por desespero, mas com uma imensa esperança, pois somente a queda do Templo poderia abrir o caminho para o Reino de Deus, que é a nova humanidade.

A expressão usada por Jesus – “não ficará pedra sobre pedra” – desvela nossa construção interior, muitas vezes sustentada sobre as pedras do preconceito e da intolerância. Construção centrada na mera aparência, que pode provocar assombro; no seu interior, vazio.

Deus não se deixa prender nos templos: “meu Pai é adorado em espírito e verdade”. O verdadeiro Tempo é a vida; a verdadeira religião é aquela que sustenta as relações, reconstrói os vínculos, acolhe e integra o diferente. Templo vivo que humaniza e é espaço de humanização.

Temos demasiados muros e paredes que nos impedem viver a cultura do encontro. São paredes que nos impedem ver a luz da verdade também presente nos outros; paredes que nos atrofiam e não nos deixam sentir afetados pelos sinais que cada dia Deus nos envia através dos acontecimentos da vida.

É difícil romper e sair do terreno conhecido, deixar o convencional. Tudo parece conspirar para que nos mantenhamos dentro dos limites politicamente corretos. Todos podemos terminar estabelecendo fronteiras vitais, sociais e religiosas impermeáveis ao diferente. 

 

O maior perigo é buscar segurança numa patologia religiosa: emoção petrificada, conceitos e pré-conceitos petrificados, imagem de Deus petrificada, atitudes petrificadas, religião petrificada (legalismo, moralismo, perfeccionismo...). Um coração petrificado se expressa numa atitude de intolerância e insensibilidade frente aos outros.


A petrificação interior é sempre recheada de devocionismos externos, repetitivos, de moralismos estéreis... O legalismo intransigente e inflexível desemboca no orgulho e na vaidade, levando a pessoa a assumir o lugar de Deus, fazendo-se juiz dos outros.

Ser santo é ser flexível, manso, não petrificado, sensível... A rigidez só é boa na pedra, não no ser humano.

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