Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande... (Mt 2,10)
O relato evangélico deste domingo é desconcertante: o Deus, escondido na fragilidade humana, não é encontrado pelos que vivem instalados no poder ou fechados na segurança religiosa. Tudo começa com uma “estrela”. Estar a caminho de Belém é fazer a travessia em direção a nós mesmos. Ao buscar uma Criança na Gruta, buscamos nossa verdade mais profunda e original.
A luz que importa é aquela que que ilumina o caminho da vida, e que nos leva até Jesus e ao Reinado do Pai, que é a plenitude de nossa própria vida. É importante se perguntar se realmente buscamos a verdade...
A `estrela´ nos conduz à nossa gruta interior. Mas, apenas iniciamos o caminho, aparecem as dificuldades: apegos, hábitos, medos...
Os Magos (sábios) do Oriente são símbolo do ser humano em sua busca de Deus. Esta é a “impressão digital” que Deus deixou em todos nós: a saudade do divino e do infinito.
A estrela simboliza a força dos `desejos´ (de-sid-erium: sideral, firmamento...). Quem deseja transgride as estreitas fronteiras da vida e se deixa conduzir para além de si mesmo. Este movimento de `saída´ dos Magos mudaram muitas coisas neles e poderiam mudar também em nós... Como os Magos, precisamos ativar a capacidade de abrir a janela que nos conecta com a vida dos outros. Visitar ambientes que talvez nunca tivemos ocasião de conhecer, sair de nossos espaços rotineiros e conhecidos, abrir-nos às surpresas da vida... Os Magos perguntaram àqueles que podiam ajudá-los. Hoje precisamos dialogar com mais profundidade...
Todo ser humano é aventureiro, e ele anseia por uma causa última pela qual viver. Para dar sentido à sua vida, o ser humano necessita da auto-transcendência, isto é, viver para além de si mesmo, de seus impulsos, caprichos e interesses. Portador de uma força que o arrasta para algo maior que ele, não se limita ao próprio mundo; traz uma aspiração profunda de ser pleno, de realização, de busca do “mais”...
O desejo do encontro é força determinante para se manter acesa a chama da dinâmica da busca. O que é importante e encontrar Aquele que responde às razões mais profundas da busca.
Os Magos ensinam como devemos nos mobilizar para viver esse deslocamento (geográfico, interno, social...), para acolher a surpresa do encontro. É interessante notar este detalhe do texto do evangelho: “viram o menino com Maria, sua mãe” (v. 11); tudo indica que o tinham como o mais importante. Maria põe o Filho fácil de ser encontrado. Nem sequer perguntam por Ele, já o descobrem imediatamente. Não estabelecem diálogo com a mãe. Podemos intuir o regozijo de Maria, pois sua felicidade é que a humanidade acolha seu Filho como ela o fez.
Uma vez dentro, os visitantes se prostram, se abaixam, reconhecem, identificam, adoram. Em seguida abrem seus cofres e oferecem seus presentes: ouro, incenso e mirra. Oferecer o que somos e temos.
Procuremos, neste dia festivo, seguir os passos do processo de busca-encontro-manifestação que os Magos experimentaram. Eles buscavam o Rei dos judeus porque “viram sua estrela”, e o encontram em um menino com sua mãe, Maria. Descobrem o divino no humano mais frágil. O divino está no humano, e quanto mais humano mais divino.
Como os Magos, também nós somos buscadores de Deus. E, como eles, devemos nos perguntar: a quê Deus buscamos? Onde o encontraremos? Como é possível saber que de fato o encontramos?
A Epifania consiste no encontro com Recém-nascido em Belém; o reconhecimento recíproco transforma os Magos em testemunhas vivas da Boa-Nova. Transformados, eles mesmos se tornam Boa-Nova e assim anunciam, em diálogo vivo, a Luz das nações.
Epifania é deter-nos a contemplar aquela Criança, o Mistério de Deus que se faz homem na humildade e na pobreza. Celebrar a Epifania é experimentar a alegria, a novidade, a luz que o Nascimento de Jesus trouxe e que afeta toda a nossa existência, para sermos, também nós, portadores da alegria e luz de Deus aos outros.
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