3. MARGINALIZADOS?...



Todos precisamos de algum tipo de espiritualidade, e de nos relacionar adequadamente com Deus. Este relacionamento não é fácil por fatores afetivos negativos experimentados na infância. Aos poucos perdemos Deus, melhor dito uma imagem falsa dele. E as rejeições sentidas (família, escola, Igreja...) facilmente foram projetadas na figura de Deus-Pai... Excluímos e marginalizamos por palavras, atos e omissões. 

Com tudo, essas experiências não devem ser facilmente descartadas, pois nos colocam também à porta do mistério e da transcendência divina. O que parecia ser uma desgraça talvez se transforme numa grande graça, e aprendizado. Um modo de inibir este sentimento religioso inato foi o manter-se sempre ocupado com muitas coisas fúteis e inúteis. Não querer ver a realidade é uma maneira de desejá-la

Os nossos limites são negativos, mas também positivos. Os negativos carregam culpa, angústia, discriminação, opressão e morte. Os positivos: vida, amor, alegria, criatividade... e levam para além de nós mesmos. O amor autêntico, erótico ou agápico, coloca-nos em contato com a realidade, e seu poder não pode ser negado. Lembro da alegria sentida por um homem gay quando amava e era amado pelo seu parceiro... Alegria expansiva e também compartilhada... Experiências humanas, onde Deus parecia flutuar e até inflamar a pessoa...

No início do processo de autoaceitação fica-se facilmente enrolado nas próprias negatividades, sem saber o quê e como fazer com a auto imagem de não ser plenamente heterossexual. O que eu faço agora com isto que eu sou?... No início, insegurança, desconforto e medo se instalaram na própria vida. Este impasse assustador pode ser ao mesmo tempo uma oportunidade única de crescimento humano e religioso. E o impasse só acaba quando a pessoa descobre o amor: ama e é amado

A marginalização e o sofrimento fazem parte do autodesenvolvimento. O marginal não tem nenhum poder social, e não está integrado na sociedade, mas pode tornar-se um agente de mudança. 

Os gays, por desgraça, são marginalizados na sociedade e nas suas igrejas. E, às vezes, até na própria família. É verdade que hoje estão mais organizados, e corajosos na visibilidade social. Não são os únicos marginalizados: pobres, deficientes, estrangeiros, negros, indígenas, mulheres... Todos reclamam pelos seus direitos e espaços sociais, e Deus está neles e com eles nessa luta. 

A marginalização pode ser temporal ou permanente, mas seríamos ingênuos se pensássemos que essa marginalização desaparecerá no decorrer da vida. O príncipe inglês Harry (raça branca) e sua esposa americana Meghan Markle (raça negra), decidiram deixar o conforto social e racista da família real britânica, para viver mais humanamente no Canadá democrático, com seu pequeno filho Archie. A fuga nunca é boa, mas pode aliviar uma tensão desnecessária. Conviver com os diferentes, e por um certo tempo, enriquece humanamente. Mas isso, nem sempre é possível.

A vida humana é frágil, e a vulnerabilidade faz parte da vida espiritual. Nossas raízes religiosas são mais profundas do que imaginamos e não dependem de nossa orientação sexual.

Uma pergunta: Como incluir mais os que antes descartávamos?

cf. James Empereur SJ: Direção espiritual e homossexualidade. Ed. Loyola 2006 

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