5º DTP: TEMOS MORADA NO CORAÇÃO DE DEUS... (cf. Pe. A. Palaoro SJ)

Na casa de meu Pai há muitas moradas... Jo 14,2)

Sabemos que o Evangelho deste domingo antecede à Paixão e Morte de Jesus. Então, por que colocá-lo no contexto de Ressurreição? Ele antecipou, na sua vida pública que, o destino do ser humano é o coração de Deus. Em Deus, já “somos seres ressuscitados”. 

O grupo mais próximo de Jesus vive um momento de tensão e medo. O ambiente está carregado: traição de Judas, anúncio da negação de Pedro, revelação da Sua partida... Jesus diz coisas que nunca dissera antes: palavras luminosas, mobilizadoras, procurando quebrar o clima pesado e convidando os seus amigos à confiança, e revelando que na casa do Pai há muitas moradas. No seu coração cabemos todos.

medo e a angústia estão presentes no ser humano desde as origens, e podem impregnar nossa vida: enfermidade, fracasso, problemas afetivos, pandemia... Medo e angústia podem bloquear a vida, paralisando toda iniciativa e criatividade.

Quando atravessamos uma crise grave é reconfortante deixar ressoar estas palavras: não se perturbe o vosso coração; tende fé em Deus, tende fé em mim também”. A experiência de encontro com o Ressuscitado nos pacifica.

Jesus fala de lugares, de moradas, espaços que pacificam e nos livram das angústias e medos. E o coração de Deus é a morada pacificadora por excelência. “Só Deus basta” (S. Teresa).

Sabemos que o ser humano não teria como sobreviver sem um lugar, sem um espaço. Somos seres de lugares (“homo locus”); não qualquer lugar, mas aquele onde possamos nos descobrir capazes de amar e sermos amados, de acompanhar e sermos acompanhados, de contribuir e sermos criativos, de realizar e sentir-nos realizados. Oespaço faz parte do ar que respiramos.

A nossa sociedade parece estar indo à deriva justamente por não saber reconhecer “espaços diferentes e vitais”,porque tudo se torna igual e os lugares não falam mais, pois carecem de sentido. Os espaços são violados, os“lugares sagrados” profanados, os “ambientes” não revelam mais nada... Esse é o primeiro sintoma de uma visão humana desastrosa e desastrada. 

Neste mundo disperso, carente de espaços humanizadores, o evangelho de hoje nos dá referências e amparo. E a primeira referência que nos pacifica é a “casa”. “Na casa de meu Pai há muitas moradas”. 

Quem realmente habita “nossa casa” não é o “eu”, mas Deus. “Em nós, Deus está em sua casa” (Mestre Eckhart). Casa é mais do que uma realidade física, feita de quatro paredes. Casa é uma experiência existencial primitiva, ligada ao que há de mais precioso na vida humana: a relação afetiva entre aqueles que nela habitam, e reveladora de nossa identidade. “Dize-me como é tua casa e te direi quem és”.

Estar em casa é estar no seu espaço, na sua intimidade, no lugar de plena liberdade e espontaneidade. Ela é o cenário principal do enredo e dos episódios de nossa vida; é o lugar seguro que nos possibilita repouso e revigoramento afetivo, bem-estar e proteção... Sem ela facilmente perdemos a calma e o equilíbrio, tornando-nos presas fáceis da agitação, da perturbação, do medo e da angústia.

O lugar cotidiano da casa se converte na epifania do divino, no lugar concreto do encontro com Aquele que faz de nossa casa, Sua morada. 

Frank & ErnestNossas moradas provisórias nos revelam que todos somos peregrinos em busca da morada definitiva; nosso coração anseia pelas moradas eternas: o coração do Pai, onde cabem todos.


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