Domingo da ASCENSÃO: proximidade radical... (cf. Pe. A. Palaoro SJ)

 “Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mt 28,20)

O Mistério Pascal é uma realidade única, pois nem a ressurreição, nem a ascensão, nem a vinda do Espírito são fatos separados. O Mistério Pascal é tamanho que precisamos separar para vivenciar as diferentes “expressões” do acontecido  Ele pertence ao hoje da nossa história. Não aconteceram só no passado, mas também estão acontecendo neste instante. São realidades que estão afetando nossa própria vida, e as podemos vivê-las como os discípulos de Jesus as viveram. 

A Ascensão é abertura para o cotidiano, para a realidade do serviço, e não uma evasão aos céus - “Homens da Galiléia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu?... (At 1,11). Aquele que Vive não escapou do mundo, e sua sua Ascensão significa expansão e presença no universo inteiro, plenificando tudo em todos.

Ao celebrarmos a entrada de Jesus na glória celebramos um novo modo de presença. Ao “subir aos céus”, Jesus se faz mais radicalmente próximo de todos, ultrapassando tempo e espaço. A Ascensão não é afastamento, mas uma maneira nova de fazer-se presente a todos e em todos os lugares. Isto deve nos dar uma grande alegria, pois Ele permanece junto a nós. 

A liturgia nos propõe a cena final do evangelho de Mateus quando narra um breve encontro entre Jesus Ressuscitado e o grupo dos onze, na Galiléia. Este encontro acontece longe de Jerusalém, afastado do lugar onde eles tinham vivido a experiência traumática da Paixão de Jesus. Esta distância física é também existencial. Depois da crise, o Mestre os convida a voltar à Galiléia, às origens, para “fazer memória” das experiências junto d’Ele.

A Ascensão é a festa por excelência da nova proximidade de Jesus. No entanto, devido à situação pandêmica, celebramos fisicamente distanciados. O isolamento sanitário pôs às claras esta dura realidade: levamos anos praticando o distanciamento político, a polarização religiosa, o enfrentamento de extremos, a separação ideológica, a distância como meio para nos fechar em nossas posições fanáticas, preconceituosas e intolerantes. Uma voz surda sempre esteve presente: devemos nos separar daqueles que pensam diferente, sentem diferente, vivem diferente, assumem posições e opções diferentes... Os distanciamentos escondidos  vieram à tona e nos assustaram...

Esta é a contradição que estamos vivendo: A distância sanitária não pode servir de cortina de fumaça para reforçar outras distâncias interiores que se abrem dentro de nós, no campo social-político-religioso-cultural... Não podemos deixar que o sonho do Reino se dilua em meio às distâncias artificiais que desumanizam. Talvez, esta pandemia nos oferece uma ótima oportunidade para transformar declarações ocas em atos sólidos de proximidade: com os que sofrem, e com aqueles que buscam um mundo melhor. A Ascenção é a alternativa de proximidade e colaboração que todos precisamos.

Vivemos na distância, necessária no momento, mas não façamos dela nosso estilo de vida: Ningém é uma ilha. À luz da Ascenção podemos afirmar: fisicamente distanciados é quando nos sentimos mais próximos.

Como homem e como mulher, trazemos esta força interior que nos faz “sair de nós mesmos”  e criar laços fraternos, fortalecer a comunhão e romper distâncias... O ser humano não é feito para viver só; precisamos con-viver, viver-com-os-outros, e formar comunidade.


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