... arrendará a vinha a outros lavradores, que lhe entregarão os frutos no tempo certo... (Mt 21,41)
O Criador, depois de plantado o jardim, descansou e contemplou o realizado: “E viu que tudo era muito bom”. O jardim é a revelação da bondade de Deus, a expressão nobre de suas entranhas.
Deus quis compartilhar essa experiência, e criou o ser humano com os mesmos elementos da natureza, e o colocou no centro deste belo jardim, para “guardar e cuidar” a Casa Comum.
A primeira vocação do ser humano é a de ser jardineiro, pois recebeu do Criador a missão de cuidar e preservar a Sua “vinha”. Vinha é paraíso e terra prometidos.
O jardim é obra de Deus e o deserto é o fruto dos humanos. Arrogância e auto suficiência destruíram a vinha do Senhor.
Conquistou demais e cuidou de menos. A ameaça provém da atividade humana altamente depredadora da obra da Criação a ele confiada; perdemos o sentido da corrente da vida e de sua imensa biodiversidade; esquecemos a teia das inter dependências e da comunhão de todos.
A crise ecológica é a própria do ser humano. A “vinha” do Senhor está em ruínas, devido a maneira como o ser humano a tratou. As consequências trágicas estão presentes por toda parte:
Buracos na camada de ozônio, mutações climáticas provocadas pelo efeito estufa, enchentes diluvianas, secas prolongadas e devastadoras, desertificação de imensas áreas, erosão de solos férteis, desaparecimento de florestas devido ao desmatamento e às chuvas ácidas, rios poluídos devido ao esgoto doméstico e aos detritos industriais, ar irrespirável pela presença de monóxido de carbono e outros gases venenosos, poluição sonora e visual das grandes cidades, crescimento e acúmulo de lixo urbano e industrial, esgotamento das fontes de energia não renováveis e dos lençóis freáticos de água, extinção crescente de espécies vegetais e animais, pondo em risco o equilíbrio dos ecossistemas, escassez de alimento, proliferação de doenças, migrações forçadas...
Somos parte do todo e estamos profundamente interligados. A autorreferencialidade sem levar em conta as relações que nos envolvem, provoca a quebra com tudo e com todos. A vinha fica devastada!
O ser humano não é senhor da vinha e não pode fazer com ela e com os outros seres aquilo que bem entender. A primeira relação com a Vinha, não é a da posse, mas a da acolhida. Todos os bens da Criação são recebidos por nós como dons.
A vinha aparece sempre como aliada do ser humano; ela nos ensina a viver em harmonia com a água, com a terra e com todos os seres, relação de aliança, não de dominação e exploração.
Os profetas sempre insistiram neste ponto: quando o povo guarda a aliança com Deus e respeita a terra, esta fica fértil e generosa. Quando as pessoas rompem a aliança com Deus e se afastam d’Ele, a vinha fica estéril. (cf. Is 5,1-7)
A vinha não foi dada para o consumismo, mas para a vida. A Criação é um dom de Deus que deve ser acolhido com reverência, respeito e louvor.
Somos todos “lavradores”, encarregados de tornar a vinha fecunda. Somos a “Grande Vinha” do Senhor, uma rede de relações no qual vivem, convivem, muitas outras pessoas e criaturas, e muitas delas sobrevivendo em condições de grande penúria, escassez e violência. Cuidar da Vinha supõe, portanto, cuidar da maneira como somos “vinha” cada um de nós.
Cuidemos de nós mesmos, dos outros e da criação como irmãos que moram na mesma casa.
0 comments:
Postar um comentário