3. UMA SOCIEDADE DECADENTE...

 

A sabedoria não se fabrica com buscas impacientes na internet, nem é um somatório de informações cuja veracidade não está garantida. Desta forma, não se amadurece no encontro com a verdade, nem se reconhece o que é essencial para dar um sentido à existência. Assim, a liberdade transforma-se numa ilusão que nos vendem. O problema é que um caminho de fraternidade, local e universal, só pode ser percorrido por espíritos livres e dispostos a encontros reais

 

Alguns países economicamente bem-sucedidos são apresentados como modelos culturais para países pouco desenvolvidos, em vez de procurar que cada um cresça com o seu estilo peculiar.

 

Uma maneira fácil de dominar alguém é destruir-lhe a autoestima. Não há alienação pior do que experimentar que não se tem raízes, e não se pertence a ninguém. 

 

Deus continua a espalhar sementes de bem na humanidade. Fomos capazes de reconhecer como as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns que, sem dúvida, escreveram os acontecimentos decisivos da nossa história compartilhada: médicos, enfermeiros e enfermeiras, farmacêuticos, empregados dos supermercados, pessoal de limpeza, cuidadores, transportadores, homens e mulheres que trabalham para fornecer serviços essenciais e de segurança, voluntários, sacerdotes, religiosas... compreenderam que ninguém se salva sozinho.

 

Convido à esperança que está enraizada no mais fundo do ser humano, independentemente das circunstâncias concretas e dos condicionamentos históricos em que vive. Fala-nos duma sede, duma aspiração, dum anseio de plenitude, de vida bem-sucedida, de querer agarrar o que é grande, o que enche o coração e eleva o espírito para coisas grandes, como a verdade, a bondade e a beleza, a justiça e o amor. A esperança é ousada, sabe olhar para além das comodidades pessoais, das pequenas seguranças e compensações que reduzem o horizonte, para se abrir aos grandes ideais que tornam a 

 

Por fim, lembro que Jesus diz noutra parte do Evangelho: «Era forasteiro e acolheste-me» (Mt 25, 35). Jesus podia dizer estas palavras, porque tinha um coração aberto que assumia os dramas dos outros. São Paulo exortava: «Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram» (Rm 12, 15). Quando o coração assume esta atitude, é capaz de se identificar com o outro sem se importar com o lugar onde nasceu. Entrando nesta dinâmica experimenta que os outros são «a sua carne» (Is 58, 7). 

 

Para os cristãos, as palavras de Jesus têm ainda outra dimensão, transcendente. Implicam reconhecer o próprio Cristo em cada irmão abandonado ou excluído (cf. Mt 25, 40.45). A fé cumula de motivações inauditas o reconhecimento do outro, pois quem acredita pode chegar a reconhecer que Deus ama cada ser humano com um amor infinito e que «assim lhe confere uma dignidade infinita». 

 

Além disso, acreditamos que Cristo derramou o seu sangue por todos e cada um, pelo que ninguém fica fora do seu amor universal. E, se formos à fonte suprema que é a vida íntima de Deus, encontramo-nos com uma comunidade de três Pessoas, origem e modelo perfeito de toda a vida em comum. A teologia continua a enriquecer-se graças à reflexão sobre esta grande verdade. 

 

Às vezes deixa-me triste o facto de, apesar de estar dotada de tais motivações, a Igreja ter demorado tanto tempo a condenar energicamente a escravatura e várias formas de violência. Hoje, com o desenvolvimento da espiritualidade e da teologia, não temos desculpas. 

 

Todavia, ainda há aqueles que parecem sentir-se encorajados ou pelo menos autorizados pela sua fé a defender várias formas de nacionalismo fechado e violento, atitudes xenófobas, desprezo e até maus-tratos àqueles que são diferentes. 

 

A fé, com o humanismo que inspira, deve manter vivo um sentido crítico perante estas tendências e ajudar a reagir rapidamente quando começam a insinuar-se. Para isso, é importante que a catequese e a pregação incluam, de forma mais direta e clara, o sentido social da existência, a dimensão fraterna da espiritualidade, a convicção sobre a dignidade inalienável de cada pessoa e as motivações para amar e acolher a todos. 

 

 

Para orar:      1º Lc 5, 1-11   Perplexidade e estupor de Pedro... 

                        2º Br 1, 14-22 Confessemos os nossos pecados...        

3º Jo 8, 31-47 Filhos das trevas e os filhos da Luz...    

4º Sl 51/50      Miserere mei... Tem piedade de mim...

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