4º DTA: EM MARIA, NOSSO “SIM” ORIGINAL ... (cf. Pe. A. Palaoro SJ)

Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo... (Lc 1,28)

Dois olhares dirigidos a Maria podem nos ajudar a considerar nossa maneira original de viver o Advento: olhar à mulher que ama e à mulher que diz “sim”. O Advento é tempo de Maria, e tempo de esperança e acolhida. 

Maria foi mãe e discípula, mas sobretudo foi a Mulher do “sim”, de fé capaz de arriscar tudo e deixar-se conduzir por Aquele que a olhou com misericórdia. Na Anunciação encontramos Maria numa atitude de escuta, de abertura dialogando com o Anjo Gabriel. A primeira palavra do anjo, em grego, é “kaire te”, isto é: “Alegra-te!”. É um imperativo, um convite à alegria, e ecoa o júbilo pela chegada da salvação, nas palavras de Sofonias: “Exulta, filha de Jerusalém e, de todo o coração, dá gritos de alegria!”. 

 

Maria é a representante da alegria de todo o Povo de Deus pela vinda do Salvador. Ela fica admirada e surpresa, não pelo que vê, mas pelo que ouve. As palavras da saudação do Anjo são totalmente inesperadas, e soam aos seus ouvidos como absolutamente novas. Por isso, “pôs-se a pensar, a refletir, a dialogar consigo mesma, perguntando-se qual seria o sentido da saudação”. 

 

Maria não duvida, e acolhe com fé cada uma das promessas sem pôr obstáculo algum à presença do mesmo Deus nela. Mas, “Como vai ser isso se eu não conheço homem algum?” O mesmo Espírito que, no princípio da Criação, pairava sobre as águas, repousa agora em Maria. A expressão “cobrir com sua sombra” significa, originalmente, uma presença ativa e eficaz de Deus no meio do seu povo. Presença divina, como a “glória do Senhor” que repousou sobre a Tenda no deserto, e mais tarde sobre o Santo dos Santos no Templo de Jerusalém. 

 

Maria é o símbolo de toda a terra, de todo o universo, que acolhe a semente da Luz. Maria encerra o diálogo autodenominando-se “a serva do Senhor”. É uma resposta livre na fé. O fiat, seu SIM, é o começo da Nova Aliança de Deus com a humanidade. E o seu “sim” revela a beleza e a responsabilidade das decisões da liberdade humana na história. Pensemos até que ponto é difícil para nós dizer SIM e viver numa entrega confiante.  Charles Peguy dizia que “Maria é mais jovem que o pecado”.

 

Existe em todos nós uma dimensão mais jovem não contaminada pelo pecado: nossa beatitude original. Falamos sobre o pecado original e muito pouco sobre a bem-aventurança original. Com e em Maria entramos em contato com a nossa confiança original, mais profunda que os nossos medos e resistências. 

 

Precisamos nos deixar conduzir pelo Sopro da Vida, para viver mais intensamente e gerar vida ao nosso redor. Existe em nós uma realidade inocente, fonte de toda inspiração, desejo e criatividade... Podemos dizer que em nós habita uma “Maria”, e que, em meio ao nosso caos (feridas, sentimentos negativos, traumas...) desvela o que em nós é imaculado, puro e capaz de dialogar com Deus. Maria é a nossa verdadeira inocência, aberta ao divino. 

 

Infelizmente, a cultura da superficialidade na qual vivemos, seduz e nos faz perder o caminho que dá acesso ao que é mais “cheio de Graça” em nosso eu profundo. Cada um de nós já teve a oportunidade de fazer a experiência deste estado, quando brota em nosso interior um sentimento oceânico de alegria, plenitude e consolação... Quando alimentamos a confiança n’Aquele que É, e dizemos sim aos `mensageiros´ que nos envolvem. 

 

O “SIM” de Maria abre a nossa humanidade a Deus. Nela, Deus se humaniza, se faz “carne” e assume toda a condição humana, iluminando-a e divinizando-a. Dizer “sim” significou, para ela, embarcar-se em uma aventura cujo fim não se adivinhava, significou romper o projeto de sua vida pessoal que tinha, como qualquer jovem de sua idade. E Maria não pediu tempo para assegurar-se fazendo uma consulta familiar, pois quando sentiu que era vontade de Deus, pronunciou um “sim” definitivo, através do qual o Filho de Deus se fez “vizinho” da humanidade, em Nazaré. 

 

Assim, nas pontas dos pés, no seio de uma jovem humilde, Deus entrou na história humana. Para os Antigos padres da Igreja, Maria é o sim original. E este sim é mais profundo e definitivo que todos os nossos nãos. Devemos, então, passar por um estado de silêncio de nossas memórias negativas, de silêncio de nossa mente, para encontrar esta confiança original e esta atitude de “inocência original”.

 

Um comentário:

  1. Este texto do Pe.Adroaldo sobre o sim de Maria trouxe-me uma nova maneira de interpretar o valor do silencio . Como poderá Deus entrar no meu coração diante de tantos ruídos?

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