“Estamos convidados a não dissimular ou esconder as nossas chagas. Uma Igreja com as chagas é capaz de compreender as chagas do mundo atual e fazê-las suas, sofrê-las, acompanhá-las e buscar saná-las. Uma Igreja com chagas não se põe no centro, não se considera perfeita, senão que coloca no centro o único que pode sanar as feridas e que tem um nome: Jesus Cristo” (Papa Francisco: Encontro Clero e Vida Religiosa/Chile 16/01/2018)
Nos Evangelhos, Jesus aparece atento à realidade dos enfermosque saem ao seu encontro ou são levados até Ele. Jesus sente como própria a dor deles, e tem consciência de que a enfermidade diminui a vida humana. Pela a Encarnação, Jesus “desce” ao mais profundo da condição humana, e pela sua presença junto aos mais marginalizados e sofredores Ele deixa clara sua missão: `aliviar a dor humana´. Jesus é um bió-filo (amigo da vida), pois revela uma sensibilidade incomum pela vida do ser humano. Jesus, em seu ministério terapêutico, gerou saúde, transformando a vulnerabilidade em possibilidade, e a fraqueza em força... Ele `passou fazendo o bem e curando a todos os oprimidos pelo diabo´ (At 10,38).
`Therapeuo´ é o verbo mais frequente no NT (substantivo `therapeía´), e expressa o duplo sentido de `curar´ e `cuidar´: curar o doente e cuidar do sadio. Ao curar uma pessoa, Jesus faz emergir um ser humano inteiro.
Enfermidade e sofrimento têm muito a ver com fragmentação, dispersão e divisão. Vá em paz e fique curada desse teu mal” (Mc 5,34). Jesus é a fonte da vida e da saúde. A multidão procurava tocá-lo, porque d’Ele saía uma força que curava a todos (Lc 6,19). A terapia é Ele mesmo.
Há uma estreita relação entre evangelizar e curar enfermos. A evangelização tem um efeito terapêutico. É visível o amor com que Jesus se entregou aos enfermos e marginalizados. Jesus assumiu uma estratégia terapêutica de “inclusão”, que buscava fazer emergir o ser humano sadio.
A dor dos pequenos e humilhados é sua causa, seu destino e seu lar. Jesus mostra que não são as leis que importa ao Pai, mas a ação que visa aliviar o sofrimento das pessoas.
O fato de Jesus se aproximar dos doentes e se deixar tocar por eles, era um atentado contra as normas de pureza que foi imposta à sociedade palestina daquele tempo. Jesus não teve receio em transgredir estas normas, pois só assim podia se aproximar dos excluídos.
Chama a atenção a gestualidade de Jesus: Ele se aproxima, toca, impõe as mãos, toma as pessoas pela mão... As verdadeiras curas e milagres de Jesus são gestos de `humanização evangélica´: de purificação humana, de libertação pessoal, de abertura à fé... e mostram que o Reino implica na destruição da enfermidade e da dor.
O sofrimento da multidão desperta em Jesus compaixão e amor. Curar é sua forma de amar.
Não falamos de um caminho de perfeição farisaico, mas de um caminho feito de feridas curadas. “Curar” significa levantar a cabeça daquele que estava encurvado. “Curar” e “cuidar” implica uma atitude “kenótica”, pois exige esvaziamento de nós mesmos; abraça visceralmente o sofrimento e a situação do outro. Compadecer-se, aproximar-se, curar, cuidar...
Assim fez Jesus; assim devemos fazer também nós.
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