Depois do chamado dos primeiros seguidores de Jesus, junto ao lago, o evangelho deste domingo nos leva com eles à sinagoga, que era a escola e casa de oração dos judeus. Os fatos falam mais que as palavras, e Marcos nos ajuda a ver, como o Reino de Deus se faz presente.
O evangelista situa a cura do homem possuído por “espíritos maus” em Cafarnaum (centro da atividade de Jesus), na sinagoga (espaço da religião), no sábado (dia de culto) e entre mestres da lei que tinham poder sobre a assembleia e sobre a interpretação da Palavra. Mas, os que tinham “poder” não curaram o homem de seu espírito imundo.
“Espírito mau” representa o que há de mais contrário a Deus e a possibilidade de uma convivência sadia com aqueles que o rodeavam.
A presença de Jesus desata e liberta a pessoa oprimida dentro de uma sinagoga. Jesus profere sua palavra que cura e liberta o enfermo/oprimido de sua situação desumanizadora.
O relato deste domingo não fala da enfermidade que o oprimido padecia, mas diz que era “impuro”, “manchado”, dominado por um espírito anti-humano.
Jesus, na sinagoga, não discute sobre Deus de forma abstrata; nem sobre ritos e alimentos ou uma doutrina sapiencial de tipo moralista; não apresenta uma doutrina melhor sobre leis ou normas de conduta. O ensinamento novo de Jesus se identifica com sua autoridade humana, com sua capacidade de destravar a vida dos enfermos na sinagoga. Seu “ensinar com autoridade era novo”... Ele não é um “profissional das ideias”, mas o “profissional da vida”.
Jesus fala e atua com “autoridade”; mas sua autoridade é diferente. Não vem da instituição nem se baseia na tradição. Está cheia do Espírito vivificador de Deus.
Jesus tem o poder da autoridade que brota de seu interior, de seus valores, de sua liberdade. Autoridade que o descentra e o mobiliza a ser presença provocativa frente ao poder que exclui.
O poder é exterior, vem de fora. Uma pessoa tem poder porque lhe foi dado nas urnas ou foi instituído a partir de “fora” em uma instituição, em uma empresa... Pode-se ter poder, mas não autoridade.
A autoridade, pelo contrário, é interna à pessoa; é a qualidade dos que tem o carisma de suportar as cargas e aliviar o sofrimento dos outros.
A pessoa pode ter poder, mas pode não possuir a mínima autoridade. Jesus não tinha nenhum poder, mas tinha falava e atuava com autoridade.
Sentimos que o poder exerce um grande atrativo, e é sedutor. Por trás da busca de poder se esconde uma ansiedade de domínio, e de prepotência e pode descambar para o fundamentalismo fanático. O fanatismo se identifica com o pensamento dogmático mais intransigente e despótico.
Por seu caráter impositivo, o poder deteriora relacionamentos, resvalando-se para o terreno pantanoso da competição, da suspeita, da intriga, da violência. A autoridade, por sua vez, não tem nenhuma relação direta com a obediência: repousa, isto sim, sobre o reconhecimento da riqueza e da possibilidade do outro. Ela anima, sustenta, desafia e toca aquilo que cada um tem de melhor em seu interior.
O poder não constrói comunidade, pois a pessoa se cerca de subservientes que cumprem suas ordens, dizem amém às suas ideias ou calam-se coniventes. Sorrateiramente este mal toma conta do coração humano e o petrifica, impedindo a vida de desabrochar e a criatividade de se expressar.
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