O Ano Novo se revela no interior de uma Gruta... (Pe. A. Palaoro SJ)

        Tendo-o visto, contaram o que lhes fora dito sobre o menino... (Lc 2,17)


“Vede que realizo algo novo; já está brotando, e vós não percebeis?” (Is 43, 19) Foi essa a experiência vivida pelos pastores quando se deslocaram até à Gruta de Belém: viram a “eterna Novidade de Deus” revelada no rosto de um recém-nascido. É do interior da gruta que surge um novo tempo e modo de viver, um novo compromisso e uma nova humanidade. Nos olhos entrelaçados, descobre-se o novo olhar de Deus sobre o ser humano, e o novo olhar do ser humano sobre Deus, e sobre os irmãos.

 

O cristão percebe a maravilha que está sendo gestada em sua vida e ao seu redor; ele acolhe a surpresa de Deus, seu gesto de amor imprevisto, sua palavra que reanima, e sua visita que consola. Tudo é sempre novo; “Eis que faço novas todas as coisas” (Apoc 21,5). Tudo é novo, pois “Deus é Presença” em tudo e em todos. 

 

A maior “novidade” que ninguém podia esperar é colocada nas mãos dos pobres e simples, aqueles que nunca tiveram uma oportunidade de serem escutados e valorizados. Surpreendentemente, serão eles os mensageiros da transmissão da Novidade de Deus. Os pastores, surpreendidos em meio ao trabalho, são convidados a sair, e deixar sua cotidianidade para abrir-se à novidade de um Deus que irrompe em suas vidas para transformá-las. Ao chegar no lugar onde estão Jesus, Maria e José sua alegria se converte em proclamação entusiasta daquilo que viram e ouviram. Seu anúncio é tão convincente que todos aqueles que os ouvem ficam impactados por seu testemunho.

 

Aquela noite,  revelou-se como uma noite cheia de “encontros e conexões”, onde deu-se início a uma nova rede de comunicação acessível a todo aquele que, de boa vontade, deseja entrar nela.

 

A imagem dos pastores pede de todos nós uma atitude de abertura e de deslocamento frente ao outro, o que implica colocar-nos em seu lugar, deixar-nos questionar por ele. Descobrir o encontro humanizador como hábito permanente de vida. Somos chamados a viver o encontro como um estilo de vida, fundado no encontro de Deus com a humanidade. 

 

encontro, que nos faz sair de nós mesmos, nasce da compaixão e nos leva a reconhecer no outro uma dignidade e uma capacidade criativa para superar toda divisão e conflito. A experiência da Gruta, onde se visibiliza o “novo” de Deus, nos mobiliza a levar adiante a missão, a ir aos lugares do mundo onde há mais necessidade e ali realizar obras duradouras de maior proveito e fruto.

 

Esta é a dura contradição que vivemos: se, estar separados fisicamente de nossos seres queridos e vizinhos é o mais eficaz para combater a pandemia, precisamos, então, buscar outras expressões de proximidade para que essa distância não se converta em modo de vida. A distância sanitária não pode servir de cortina de fumaça para reforçar outras distâncias que se abrem diante de nós, no campo social-político-religioso-cultural...

 

Não podemos deixar que o mistério natalino se dilua em meio às distâncias artificiais que desumanizam. Hoje, mais do que nunca, devemos celebrar e recordar que juntos, orientados pela Luz que procede de uma Gruta, poderemos enfrentar, com criatividade, toda e qualquer crise que nos venha. Talvez, esta pandemia nos oferece uma ótima oportunidade para crer e viver tudo o que é humanidade, numa só palavra: proximidade com os que sofrem, com os que buscam um mundo melhor, com os que combatem a pandemia... Em meio a um mundo onde a distância e a suspeita crescem e se enraízam, a solidariedade é a alternativa da proximidade que todos precisamosO mundo necessita da nossa esperança. 

 

Há um paradoxo: fisicamente distanciados nos sentimos mais próximos.

 

Seguimos Àquele que nasceu nas periferias da humanidade e exige de nós a dinâmica de colocar-nos a caminho em direção às margens. Não podemos nos situar diante da Gruta sem disponibilidade, despojamento e mobilidade.

 

Neste dia, fazemos memória dos humildes pastores que se deslocaram para a gruta de Belém e viveram um encontro surpreendente; eles se fizeram próximos d’Aquele que tomou a iniciativa de se aproximar de toda a humanidade. Tal mistério provoca nosso tecido comunitário. O Nascimento de Jesus nos provoca as pessoas a sairmos de nossos isolamentos e padrões alienados para nos expandir em todas as direções.


 “Feliz Tempo Novo de Deus!”

 


 

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