5º DTP: A Videira e os ramos... (cf. Pe. A. Palaoro SJ)

 “Eu sou a videira e vós os ramos” (Jo 15,5)


O Evangelho deste domingo é o começo do cap. 15 de S. João, e faz parte do longo discurso de despedida. A Vida de Deus, como a seiva, deve atravessar cada membro da comunidadeFala-nos a partir da videira. A vinha, nos textos do AT, representava o povo de Israel, que Deus plantou, podou e cuidou de todas as maneiras possíveis. 

 

Na Última Ceia, Jesus convocou seus seguidores a formar com Ele um organismo vivo, e o fez através da imagem da vinha: a cepa, os ramos e os cachos de uvas. Jesus fala do bio-sistema da videira: a relação misteriosa da cepa com os ramos e dos ramos com os cachos de uvas, e um misterioso Lavrador que a cuida para que ela dê muito fruto.

 

O Abbá e a Santa Ruah cuidam deste organismo vivo, conectado em Jesus, como um corpo de dimensões cósmicas. A Vida continua sendo o centro do discurso de Jesus; afinal, estamos no tempo Pascal. Quando nos dispomos a caminhar com Ele, sob a ação do seu Espírito, realiza-se em nós um processo de abertura e de superação, de crescimento e de reconstrução de nós mesmos.

 

O Abbá de Jesus cuida e poda os ramos para que deem mais frutos. A poda é necessária para que a videira não disperse a seiva; uma videira deve dar cachos formados e grandes, nutridos até a maturação. A poda tão necessária é sempre uma operação dolorosa para a videira: muitos ramos são cortados, jogados fora, secam e são destinados ao fogo...

 

Nosso processo de crescimento pessoal revela uma constante necessidade de despojar-nos de costumes, lugares familiares, modos de nos relacionar com as pessoas queridas..., que nos acompanharam durante uma etapa, mas que agora se tornaram estreitos e nos impedem expandir a vida.

 

Quão difícil é deixar-nos podar sobretudo os ramos secos que se agarram a nós: atitudes fechadas, busca de prestígio, ego inflado, instintos de posse, falsas seguranças, visões atrofiadas... Esses ramos que nos sobrecarregam são “pesos mortos” que exigem uma demanda de energia que deixa de ser investida em outras frentes de vida. 

 

O processo da “poda” da vida implica “perdas e ganhos”; as podas implicam uma travessia da “vida menor” à “Vida maior”. Se investimos todas as nossas energias na vida minúscula (apegos, medos, resistências...) nunca descobriremos a Vida maior. Quem se empenha a todo custo em salvar sua vida menor, vai acabar perdendo-a. Estamos aqui para pôr Vida onde só há “vida”.

 

Como seres humanos vivemos profundamente relacionados. O vínculo é algo que nos caracteriza essencialmente. Em nosso mundo estamos “muito conectados, mas pouco vinculados”. Precisamos vincular-nos com a Videira vivente e com vínculos fraternos. 

 

O evangelho deste domingo nos convida a passar da mera conexão à verdadeira vinculação, aquela que nasce da fraternidade, da mesma seiva de Cristo, aquela que gera a caridade verdadeira. Só a vinculação quebra distâncias, dá calor aos encontros e acolhe o diferente.

 

Jesus, como Videira, estabelece um vínculo eterno com a humanidade, alimentando-nos com sua seiva e reforçando os vínculos humanos para além de toda expressão religiosa, social, cultural, política... 

 

É nesse conjunto de recursos e dinamismos vitais que a Graça (seiva) de Deus trabalha. O Espírito habita nosso ser profundo, sustenta nossas energias sadias, aumenta nossas forças, compromete-nos a crescer de forma autônoma. Ele age como um “princípio dinâmico” e como um “energético ativo”, que reforça as atividades criativas do eu. 

 

Muitas vezes, passamos a vida buscando seiva em outros lugares, e não descobrimos nosso ser essencial.

 

 

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