Relato de uma mãe católica sobre seu filho LGBTQIA+ e a Igreja...



Como mãe de um jovem homoafetivo, batizado e crismado nesse espaço de fé cristão católico, estou aqui desabafando a respeito de alguns pronunciamentos de nossa Mãe Igreja, ainda tão limitada em sua maneira de AMAR incondicionalmente e cuidar de alguns de seus filhos como o Pai desejaria que fossem AMADOS e cuidados.

 

Seu poder materno tornou-se tão autoritário que não consegue libertar-se dos preceitos que vem nos impondo durante séculos e enrijecendo-se para o AMOR libertador proclamado e praticado por Jesus em todas as suas dimensões. Compreendo sua limitação, mas não posso aceitar a dor, o sofrimento e o preconceito que isso gera.

 

Pobre Mãe Igreja, talvez necessite de mais algum tempo para evoluir nesse quesito – AMOR – em relação aos seus filhos homoafetivos. Quanto a mim, graças ao Deus, precisei de apenas alguns dias para assimilar essa nova realidade. Não foi fácil, mas foi libertador! Acredita que algo (ou Alguém!?) me inspirou a reconhecer que somente esse AMOR incondicional por esse filho me traria paz!? Do jeitinho que Jesus nos contava: que somente esse AMOR revelado por Ele me livraria das amarras sociais, religiosas, emocionais, ... impostas durante anos.

 

E não pense que foi fácil, pois as dores e o desespero foram tão fortes que os comparo às dores de um parto normal que não tive com nenhum dos meus dois filhos. Sim, hoje percebo que foi necessário esse outro nascimento e da maneira mais natural e dolorosa possível. Minhas expectativas maternais tão humanas e influenciadas por uma educação tão desumana me levaram a esse 2º parto, extremamente doloroso, mas como já disse, necessário para que a revelação AMOROSA do Pai se manifestasse e fizesse morada em meu limitado coração materno.

 

E, quer saber de mais uma coisa!? O mais importante é que, além do nascimento de um filho diferente daquele idealizado e de uma mãe mais capacitada para AMAR, o AMOR incondicional nasceu e transformou tudo ao meu redor, do jeitinho que Jesus contava... E aí, somente assim, percebi que haviam muitos como meu filho sofrendo em nossa Igreja. E que sofrimento!

 

Querida Mãe Igreja, meu filho não escolheu ser como é: segundo ele mesmo, após muita pesquisa e sofrimento, descobriu que nasceu assim. E eu, como cristã católica que ainda sou, acredito que foi criado por Deus dessa maneira, pois nada humanamente foi feito para que tal condição se manifestasse. Nossas observações constantes e escolhas com relação aos filhos e seu bem-estar foram normais, entre elas, a religião e a educação formal em escolas católicas.  Tudo o que pudemos fazer em relação aos nossos filhos consideramos escolhas. Sua condição específica, não foi! Essa é parte da confissão de uma mãe que escolheu desistir de uma carreira para educar e observar seus filhos, inclusive o cuidado de introduzi-los nessa religião, a mesma que não o acolheu e aceitou assim como é; que não aceita sua relação afetiva com alguém com quem se identifica, pois não conseguiria agir diferente; que decidiu a quem e a que deveria ABENÇOAR, como se isso fosse prerrogativa sua.

 

Pobre Mãe Igreja, se escolheu continuar rejeitando meu filho e tantos outros filhos, parte também preciosa da criação divina, eu, como mãe de uma dessas criaturas, continuarei AMANDO-o exatamente como foi criado e o ABENÇOAREI em todos os momentos de sua vida– a ele, a seu companheiro e a todos filhos e filhas que assim desejarem, pois é a parte mais vulnerável dessa Igreja de Cristo, ou não é!? Pare de ser tão pretensiosa de achar que pode aprisionar Deus e Seu Filho em seus templos e escolher a quem quer e deve abençoar. Ainda bem que essas pessoas segregadas por suas leis podem ser ABENÇOADAS e AMADAS além dessas paredes!

 

De mãe para Mãe pergunto: o que propõe que faça com esse filho doado por Deus para AMAR, CUIDAR, ORIENTAR, EDUCAR, ABENÇOAR?... E com tantos outros filhos e filhas na mesma condição ou pior!?

 

E, antes que me encha de teorias e justificativas, doutrinas e conceitos engessados, que normalmente nos levam a mais preconceitos infundados, a mais dores e sofrimentos, respondo pura e simplesmente que: o AMOR LIBERTA, que esse filho continuará sendo AMADO como foi criado, que tentaremos protegê-lo até mesmo das forças de ódio e preconceito geradas em suas entranhas, que o abençoaremos e a sua união – assim como a todos aqueles que, como ele, precisarem e desejarem essa benção.

 

E a você, meu filho, digo: você nasceu do amor entre mim e seu pai, mas antes disso, foi idealizado e criado da sabedoria de um Deus que não se conteve em padrões humanos pré-estabelecidos.

 

Eu e seu pai o ABENÇOAMOS! ABENÇOAREMOS qualquer união que o faça feliz e realizado! ABENÇOAREMOS também a todos que precisarem dessa nossa BÊNÇÃO! Sejam todos felizes em suas condições!

 

Conclamo a todos os pais libertos por esse mesmo AMOR, que nos juntemos e abençoemos a nossos filhos e aos filhos daqueles que, como nossa MÃE IGREJA, ainda não experimentaram essa maravilhosa maneira de AMAR!

 

Que o AMOR de Jesus vença todas as formas de ódio, preconceito e exclusão.


Amém, dona Hermínia !





 

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