13º DTC: DISTANCIAMENTOS QUE MATAM... (cf. Pe. A. Palaoro SJ)

Aproximou-se de Jesus por detrás, no meio da multidão, e tocou na sua roupa... (Mc 5,27)


 

No evangelho deste domingo vemos Jesus buscando a libertação radical das pessoas. Ele, no seu “ministério terapêutico”, é capaz de olhar cada pessoa e ver nelas filhos de Deus, livres e felizes. 

 

O evangelista Marcos nos situa diante de duas mulheres, ambas no limite da vida: a hemorroíssa leva doze anos enferma, e a adolescente que está no desabrochar da vida (doze anos). Suas feridas as conduzem para o interior do amor de Deus. Por essa abertura, elas se sentem aceitas e amadas.

 

Nessa dupla atuação curativa de Jesus, cada um dos detalhes revela uma infinidade de mensagens que podemos e assim nos ajudar no nosso caminho de seguimento do Senhor.

 

Vejamos jesus e a hemorroísa. A cena é surpreendente. Marcos nos apresenta uma mulher desconhecida como modelo de fé para as comunidades cristãs. Dela, todos podemos aprender como buscar a Jesus com fé, e como encontrar nele a força para iniciar uma vida nova, cheia de paz e saúde.

 

Mulher anônima, arruinada e junto dela não se vislumbram parentes ou amigos. Sabemos que padece de uma enfermidade feminina, que a enfraquece e lhe impede viver de maneira sadia. A religião e o contexto social lhe impõem um distanciamento desumanizador. Existencialmente é considerada como morta, pois não há lugar para ela em nenhum ambiente.

 

A mulher está quebrada por dentro. Leva uma vida oculta que ninguém conhece. Sua perda de sangue, além de torná-la estéril, a situa no mundo da impureza, da vergonha e da desonra. Quer amar e não pode. Espalha “impureza”, pois segundo segundo a Lei, converte em impuro tudo o que toca. Ela é toda angústia e amargura. “... Tinha sofrido nas mãos de muitos médicos, gastou tudo o que possuía e, em vez de melhorar, piorava cada vez mais (Mc 5,26). Mulher sofredora; sua vida se esvai no sangue perdido. Excluída dos relacionamentos sociais, vive no isolamento.

 

No entanto, ela resiste a viver para sempre como uma enferma. Não espera passivamente que Jesus se aproxime; ela mesma toma a iniciativa, e busca-o e o toca. Sua necessidade leva-a a romper com a Lei, pois para aproximar-se de Jesus rompe com tradições e normas. Cansada de sofrer física e moralmente, rompe com todos os protocolos sanitários que a separavam dos outros e também de Deus, e busca a quem possa lhe devolver a saúde. Para isso, abre caminho por entre a multidão e se aproxima de Jesus, de quem muitos já lhe haviam falado.

 

A mulher não se contenta só em ver Jesus de longe. Busca um contato mais direto e pessoal. Atua com determinação, mas com pudor e delicadeza. Não quer atrapalhar ninguém e nem interromper o caminho do Senhor. Aproxima-se dele por detrás, e entre empurrões e gritaria consegue lhe tocar a orla do manto. Nesse gesto expressa sua confiança total na força sanadora de Jesus. 

 

Toca e se deixa tocar por Ele para poder experimentar a cura e a paz em seu interior.

 

Quem tocou no meu manto?... pergunta Jesus. A mulher é chamada a sair de seu anonimato, e romper o tabu que a marginalizava, para colocar um fim na cumplicidade existente entre sua vergonha e a rejeição social.

 

Jesus não aceita essa situação excludente, à qual a mulher estava condenada por um tabu social, e Ele concede ao milagre o caráter de publicidade. Ela foi convocada a depositar fé em si mesma, como mulher. Doravante, não será mais uma “mulher impura e excluída”, mas uma filha muito amada do Senhor. “Filha, a tua fé te curou”.

 

Para Jesus, não basta curá-la, e não fica satisfeito enquanto não estabelecer com ela um diálogo inter-pessoal, no qual ela lhe diz “toda a verdade”. A cura recebida abarca seu corpo, mas também seu espírito, seus temores e sua vergonha, que desaparecem na confiança do diálogo e na experiência de ser reconhecida, escutada e compreendida.

 

Ela esperava ser salva na passiva, mas Jesus emprega o verbo na ativa, e situa nela a força que a salvou: a mulher vai embora, não apenas curada, mas tendo escutado uma bem-aventurança por causa de sua fé e tendo recebido o nome de “filha”, um título familiar raro nos Evangelhos. “Minha filha, a tua fé te curou; vai em paz e fica curada dessa doença”.

 

A hemorroíssa é a única pessoa nos evangelhos à qual Jesus chama “filha”. Porque estava separada de qualquer relação, Jesus estabelece com ela o vínculo mais forte que experimentou: chama-a “filha”, como Ele mesmo se sentiu chamado de “filho” pelo Pai, no batismo. Ele está batizando esta mulher; ela está nascendo para uma nova vida. 

 

Basta um “toque” no Senhor para o despertar em nós novas energias e inspirações e, assim, viver com mais intensidade e sentido da vida.

 

 

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