Salvar a afirmação do próximo (EE 22)...


Vivemos tempos paradoxais. Ambicionamos o melhor e, provavelmente, não o alcançamos; desejamos o menos bom e, por desgraça, às vezes até o conseguimos. Quais são esses mecanismos interiores volitivos que nos condicionam? O grau de satisfação pessoal e grupal não é grande. Estamos realmente satisfeitos com a situação mundial? E com o governo que temos? E se formos descendo no nível dos relacionamentos percebemos que gastamos muito tempo em manter o que já se desgastou e quase acabou. 

 

A democracia é fundamental para o convívio humano, mas facilmente polarizamos posições e até excluímos pessoas que pouco ou nada tem a ver conosco. Nunca os nossos relacionamentos foram tão frágeis e susceptíveis. Uma palavra tola, uma ausência sentida, um gesto bizarro pode romper o que por anos se vinha construindo. 

 

O nível de satisfação social é uma amostra do nosso contentamento pessoal. As dificuldades de entender os outros, possivelmente são as que temos em nos acolher. 

 

Pouco tempo atrás tive que fazer uma viagem a Buenos Aires e Asunción. Foram quase duas semanas de desafios, observações e aprendizados. Lembro da experiência para tirar algum proveito:

 

Em Buenos Aires, reuni-me com um grupo de casais, todos com mais de 50 anos. Sabiam que iam se encontrar comigo, um jesuíta-padre e da família. Com que me deparei? Uma amostra da diversidade grupal existente. Todos casados menos eu, celibatário por opção. Classe social abastada. Uns felizes no seu matrimônio; outros em segundas ou terceiras núpcias. Duas senhoras, ambas com mais de 70 anos, fizeram-se discípulas pias do guru indiano Sai Baba (Sathya Sai Baba, 1926, avatar ou manifestação de Shiva, do sul da Índia), que visitavam fielmente todos os anos. Estes casais não falavam abertamente uns contra os outros, eram muito discretos e educados, mas todos falavam espontaneamente comigo uns sobre os outros. As que mais incomodavam eram, evidentemente, as pias discípulas do guru indiano. Pensei: todos têm experiências afetivas subjetivas, mas as pias discípulas incomodavam mais, pois também encontraram um sentido diferente para a vida. Isso me fez pensar.

 

Poucos dias depois, participava de uma peregrinação com jovens vocacionados, percorrendo o Paraguai missionário (Missões jesuítas na região do Rio da Prata (1608-1768) com mais de 30 povoados: Trindade, S. Maria, Jesus, S. Ignacio, etc., onde moravam mais de 30.000 famílias guaranis). Entre os vocacionados, um aluno de psicologia, especialista no behaviorismo crítico ou radical (Ramo da psicologia que estuda o comportamento(behaviour) humano. É uma escola materialista). Falamos muito sobre o comportamento humano, e os condicionamentos que todos carregamos e, sobretudo, daquilo que essa escola nega: a liberdade e a transcendência. No final eu pensava: este jovem querendo ser tão “objetivo” como consegue ainda manter a sua fé em Jesus?

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Em poucos dias tinha, diante de mim, dois posicionamentos contrários e bem excludentes: o “subjetivismo espiritualista” das pias discípulas do guru indiano e o “objetivismo materialista” do jovem psicólogo vocacionado. Quais deles tinha razão? Nenhum? Os dois? O posicionamento mais fácil seria tomar partido a favor de um por afinidade acadêmica ou excluir ambos por razões dogmáticas e religiosas. Não fiz nenhuma dessas coisas

 

Convenhamos, estes posicionamentos extremos ou radicalizados os encontramos cada vez mais nas nossas vidas. Ao nosso redor não só há pessoas e grupos os mais diversos (espiritualistas, materialistas, etc.), mas também dentro das nossas casas e comunidades encontramos grandes diferenças: conflitos de gênero, de gerações, de culturas, etc. O que fazer? Identificar-se com uns e afastar-se de outros? Polarizar e radicalizar?... Quem conseguir dialogar com uns e outros, certamente integrou o “diferente” dentro de si e não incomoda nem é incomodado. As separações contundentes evidenciam dissociações pessoais internas graves.

 

E você o que pensa disso? 

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