15 anos da Páscoa de dom Luciano, bispo que amou o Cristo pobre... (cf. Gabriel Vilardi, SJ

Iluminado...

 

Na mensagem à Cúria Romana do Natal de 2020, o Papa Francisco disse que não se deve temer a crise, mas abraçá-la e pôr-se a caminho. O Evangelho é o primeiro a colocar-nos em crise. Ao concluir, o Papa citou dom Helder Câmara, "aquele santo bispo brasileiro": "quando me ocupo dos pobres, dizem de mim que sou um santo; mas, quando me pergunto e lhes pergunto: 'Por que tanta pobreza?', chamam-me 'comunista'".

Em um dia 27/AGO, três santos bispos brasileiros fizeram a sua travessia definitiva ao encontro da Trindade de Amor. Três profetas para a Igreja do Brasil e da América Latina. O primeiro a encerrar a sua peregrinação terrestre, foi o já citado dom Helder Câmara (1999), o último dom José Maria Pires (2017). Neste entretempo (2006), dom Luciano Pedro Mendes de Almeida, SJ, o bispo dos pequenos.

Quinze anos da Páscoa do arcebispo jesuíta. Ele não temeu a crise, embora sentisse os efeitos dela. Dotado de uma enorme `lucides´ e capacidade de articulação, dom Luciano soube superar os momentos de tensão e construir consensos que pareciam impossíveis. Verdadeiro homem do diálogo e da reconciliação. "Em dom Luciano, a caridade sempre fluiu".

Apaixonado companheiro de Jesus, soube encarnar, com simplicidade e doação, a mística do serviço. Forjado nos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, aprendeu a discernir a vontade de Deus com grande ânimo e generosidade. Citando o Pe. Leonel Franca, SJ dizia: "Com o Absoluto não se regateia. Quem não dá tudo, não dá nada".

Chamado por dom Paulo Evaristo Arns e nomeado pelo papa São Paulo VI, dom Luciano tornou-se, em 1976, bispo-auxiliar de São Paulo. Fundou a Pastoral do Menor. Amigo dos marginalizados, não tinha receio de questionar as injustas estruturas sociais. É preciso aprender "a viver simplesmente para que os outros possam simplesmente viver". 

Após exercer dois mandatos como secretário-geral da CNBB (1979-1987), foi eleito seu presidente (1988-1995) e nomeado arcebispo de Mariana (1988). Nessa época, como nos dias de hoje, os povos indígenas eram fortemente massacrados: "Quando os missionários foram expulsos da Missão Catrimani em 1988, dom Luciano não hesitou em tomar o avião e ir a Roraima para prestar pessoalmente sua solidariedade aos missionários e ao bispo daquela Diocese, dom Aldo. Mas de maneira especial ele assumiu a causa, a luta e os direitos do povo Ianomâmi. Em função disso, retornou à área em outros momentos".

"Quando o Cimi foi caluniado, 1987, dom Luciano, desde o primeiro momento, denunciou a armação [...]. Quando a partir das denúncias, se forjou a Comissão Parlamentar mista de Inquérito contra o Cimi, vi dom Luciano, de dedo em riste, desafiando os parlamentares a provar qualquer ação dos povos indígenas ou dos missionários do Cimi contra a soberania nacional e outras acusações de que estavam sendo vítimas".

Por amor ao Cristo pobre, dom Luciano tornou-se discípulo dos empobrecidos: "Eu nunca havia pensado que pudéssemos aprender tanto dos pobres. Somente depois de alguns anos entendi que eles são nossos mestres, realmente, porque nos ensinam a descobrir, com a simplicidade de uma criança, o que é o coração humano". 

 

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