3º domingo do ADVENTO: despertar entranhas solidárias... (cf. Pe. A. Palaoro SJ)

            Quem tiver duas túnicas, dê a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo... (Lc 3, 11)


 

Advento e Natal nos situam no clima das grandes esperanças da humanidade. Tudo aponta para o novo e o Eterno. Com essa esperança, podemos dar novo sabor à nossa vida. 

 

Nestes víamos o Papa Francisco encontrando-se com os migrantes da ila de Lesbos e com a hierarquia ortodoxa de Atenas. Realidades que nos desbordam... À noite sonhei que a Igreja católica escolhera como novo Papa um patriarca russo.

 

esperança é um dom de Deus e nos faz mais humanos e fraternos diante das adversidades da vida. Quem vive o clima do Advento não é prisioneiro do passado; a vida se transforma num encontro surpreendente. Nessa esperavislumbramos o mais significativo: a fraternidade, a gratuidade dos gestos, a alegria descontrolada como dom de Deus, o despertar de sonhos... Espera-se Jesus vivendo os valores que Ele encarnou: a sintonia com os pobres, o coração dilatado no serviço, o cuidado terapêutico, a ajuda gratuita...

 

O povo estava na expectativa...”; atitude positiva de espera diante de João Batista que, sob o impulso da Palavra brotada no deserto, tocou o coração de muitos. O Batista é um personagem instigante e provocativo, e muitos foram até ele para escutá-lo. João falava de uma nova forma de viver que dava sentido à própria existência.

 

O chamado de João à conversão e seu apelo a uma vida mais fiel a Deus despertou em muitas pessoas uma pergunta concreta: “Que devemos fazer?...” As propostas que João Batista fez estão direcionadas a melhorar a convivência humana. Uma religiosidade que não se alarga em direção aos outros não é a que Deus deseja. Que todo o nosso ser se mova na perspectiva do amor oblativo, e se expressa em “entranhas solidárias”. A pregação do Batista sacudiu as consciências, fazendo reacender o espírito solidário que estava atrofiado no coração de todos.

 

A “solidariedade deve ser vivida como a decisão de devolver ao pobre o que lhe corresponde” (EG 189). A solidariedade é uma decisão, carregada de afetosolidariedade é espontânea, e supõe uma predisposição favorável ao encontro com o outro.

 

encontro com o “outro” marginalizado dá um “toque” especial à nossa espiritualidade e a faz mais radical. Aproximar-nos do “pobre” e deixar-nos “afetar” pelo seu sofrimento torna-se a maior fonte de nossa espiritualidade. Suas “fraquezas” suscitam em nós o melhor de nós mesmos e, ao nos envolver afetivamente em sua vida, faz com que vivamos um misto de ternura e indignação a que chamamos compaixão.

 

solidariedade nos leva a reconhecer no outro excluído, marginalizado uma dignidade e uma capacidade criativa de superar sua situação; ela gera protagonismo e nunca dependência; compartilha sem humilhar; cria humanidade, generosidade e humildade...

 

Há uma profunda afinidade entre “sólido” e “solidário”; ambas as palavras procedem da expressão latina “solidus”. Diz-se “sólido” em virtude de sua firmeza, densidade, fortaleza ou por ser aquilo que se estabelece com razões fundamentais e verdadeiras. A pessoa “solidária” encarna diversas virtudes. Há um “plus” maior quando essa pessoa vive a fé cristã. Uma fé sem solidariedade carece de coerência e sentido; não é firme e não tem a suficiente densidade para suportar as incompreensões daqueles que não estão em sintonia com suas atitudes solidárias.

 

solidariedade é uma “questão de entranhas”, de encontrar, experiencial e vitalmente, os “outros” excluídos e despojados de tudo. O rosto da pessoa solidária é modelado pela compaixão e gratuidade.

 

A solidariedade nos humaniza. A solidariedade que nasce da compaixão não acaba nela mesma, mas leva a reconhecer no outro uma dignidade e uma capacidade criativa de superar sua situação.

 

Vem, Senhor, e fazei-nos ver novas todas as coisas!

 

Só assim o tempo Advento deixará transparecer seu sentido mais profundo. Deus, ao entrar na história, se faz solidário com a humanidade, salvando-a.

 

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