9. São José e o ambiente em que viveu...


No dia 8/DEZ/ o Papa Pio IX proclamou São José padroeiro da Igreja universal. Neste tempo marcado por uma crise global com diferentes componentes, ele pode ser apoio, conforto e orientação para todos nós. 


Na Bíblia há mais de dez personagens com o nome de José. O mais importante de todos é o filho de Jacó e Raquel, que, através de várias vicissitudes tornou-se a segunda pessoa mais importante no Egito


O nome José em hebraico significa “Deus aumente, Deus faça crescer. É uma bênção baseada na confiança na providência e refere-se especialmente à fecundidade e ao crescimento dos filhos. De fato, este mesmo nome revela-nos um aspeto essencial da personalidade de José de Nazaré. Ele é um homem cheio de fé na providência divina. Toda a sua ação, narrada no Evangelho, é ditada pela certeza de que Deus “faz crescer”, Deus “aumenta”, Deus “acrescenta”, Deus providencia à continuação do seu desígnio de salvação. 


As principais referências geográficas relativas a José – Belém e Nazaré – desempenham um papel na compreensão da sua figura.


No Antigo Testamento, a cidade de Belém é chamada Beth Lechem, “Casa do pão”, ou também Efrata, pela tribo que lá se estabeleceu.. No entanto, em árabe, o nome significa “Casa da carne”, provavelmente devido ao grande número de rebanhos de ovinos e caprinos na área. Não foi por acaso, de fato, que quando Jesus nasceu, os pastores foram as primeiras testemunhas do acontecimento (cf. Lc 2, 8-20). À luz da história de Jesus, estas alusões ao pão e à carne referem-se ao mistério da Eucaristia: Jesus é o pão vivo que desce do céu (cf. Jo 6, 51). Ele próprio dirá de si: «Quem comer a minha carne e beber o meu sangue viverá eternamente» (Jo 6, 54).


Belém é mencionada várias vezes na BíbliaBelém está também ligada à história de Rute e Noemi, narrada no pequeno Livro de Rute. Rute deu à luz um filho chamado Obed, do qual por sua vez nasceu Jessé, o pai do rei David. E José, o pai legal de Jesus, descende precisamente da linhagem de David. Então o profeta Miqueias predisse grandes coisas sobre Belém: «E tu, Bet-Ephrata, tão pequena entre as famílias de Judá, é de ti que me há de sair aquele que governará Israel» (Mi 5, 1). O evangelista Mateus retomará esta profecia e ligá-la-á à história de Jesus como o seu evidente cumprimento.


De fato, o Filho de Deus não escolheu Jerusalém como o lugar da sua encarnação, mas Belém e Nazaré, duas aldeias periféricas, longe do clamor da crônica e do poder da época. Contudo, Jerusalém era a cidade amada pelo Senhor (cf. Is 62,1-12), a «cidade santa» (Dn 3, 28), escolhida por Deus para lá habitar (cf. Zc 3, 2; Sl 132, 13). Ali, com efeito, habitavam os doutores da Lei, os escribas e fariseus, os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo (cf. Lc 2, 46; Mt 15, 1; 26,3; Mc 3, 22; Jo 1, 19).


É por isso que a escolha de Belém e Nazaré nos diz que a periferia e a as margens são prediletas a Deus. Jesus não nasceu em Jerusalém com toda a corte. Nasceu na periferia e transcorreu a sua vida, até aos 30 anos, naquela periferia, trabalhando como carpinteiro, como JoséPara Jesus, as periferias são prediletas. Não levar esta realidade a sério equivale a não levar a sério o Evangelho e a obra de Deus, que continua a manifestar-se nas periferias geográficas e existenciais. O Senhor age sempre de maneira escondida nas periferias da alma, dos sentimentos, talvez sentimentos dos quais nos envergonhamos; mas o Senhor está ali para nos ajudar a ir em frente. 

O Senhor continua a manifestar-se nas periferias, geográficas ou existenciais. Jesus vai em busca dos pecadores, entra nas suas casas, fala com eles, chama-os à conversão. E foi até repreendido por isto: “Este Mestre come junto com os pecadores...”. Jesus vai sempre rumo às periferias. E isto deve dar-nos muita confiança, pois o Senhor conhece as periferias do nosso coração, as periferias da nossa alma, as periferias da nossa sociedade, da nossa cidade, da nossa família, isto é, aquela parte um pouco obscura que não mostramos talvez por vergonha.


Sob este aspeto, a sociedade daquela época não é muito diferente da nossa. E a Igreja sabe que é chamada a anunciar a boa nova a partir das periferias. José ensina-nos isto: “Não olhemos para as coisas que o mundo louva, olhemos para os ângulos, as sombras, as periferias, para aquilo que o mundo não quer”. Neste sentido, Jesus é verdadeiramente um mestre do essencial. O que é realmente valioso não atrai a nossa atenção. Descubramos o que é válido, e peçamos-lhe que interceda para que toda a Igreja possa recuperar esta capacidade de discernir e de avaliar o que é essencial. 



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