Bem-aventurados, sereis, quando os homens vos odiarem, vos expulsarem, vos insultarem e amaldiçoarem o vosso nome, por causa do Filho do Homem... (Lc 6,22).
Vivemos uma preocupante situação nas relações entre as pessoas e entre as diferentes ideologias políticas. Há uma aliança estranha entre a extrema direita ultra-neoliberal, homófoba, racista, anti-ecológica, negacionista da ciência e da mudança climática... e as organizações “cristãs” conservadoras de caráter fundamentalista. Situação que se manifesta como a mais grosseira manipulação do cristianismo e a perversão do sagrado, pois se apoia nos discursos e nas práticas de ódio dos partidos e dos grupos neo-fascistas de todo o mundo.
Tal perversão religiosa se alimenta do ódio, cria divisões, espalha mentiras e fomenta a violência entre os seus seguidores... Revela-se aqui a face mais triste do processo de profunda desumanização que vivemos. Alguns pensam que está nascendo uma “nova religião”, mais perversa e destruidora do planeta e da humanidade: “a religião do ódio”.
O ódio passa a ser a carteira de identidade dessas pessoas. Pelo ódio e a eliminação dos coletivos odiados (negros, indígenas, homoafetivos, migrantes...) surge uma existência perversa que eles idolatram. Esse ódio produz um prazer masoquista. Ódio e prazer acabam sendo uma só coisa. Freud explica...
O ódio tem um contexto histórico-cultural-religioso-político específico. Existem causas, motivos e razões como oportunidades para ativar a faísca da explosão do ódio e da intolerância. São práticas e convicções largamente cultivadas e transmitidas pelas redes sociais... Mas, tudo tem sua origem no coração do ser humano, pois este é capaz do “pior” e do “melhor”.
Quando atrofiamos nossa sensibilidade e não reconhecemos no outro seus valores, suas qualidades, sua cultura temos aí o cultivo do fanatismo que alimenta a cultura de morte.
Tal modo de proceder implica uma contradição com os princípios do Evangelho do Senhor Jesus. É uma tremenda incoerência ser seguidor(a) de Jesus e não amar o diferente.
Precisamos ouvir as bem-aventuranças com um coração novo. As bem-aventuranças não são leis impostas a partir de fora, mas dinamismos de vida presentes no mais profundo do ser humano. Elas manifestam o mais divino no interior de cada um.
É o texto mais comentado de todo o evangelho, mas é também o mais difícil.
Proclama-se ditoso o pobre, não a pobreza. Ditoso o pobre, não por ser pobre, mas por não causar pobreza; ditoso o que chora, não porque é sensível, mas por não causar dor aos outros, fazendo-os chorar; ditoso o que passa fome, não porque não tenha nada que comer, mas porque vive a espírito de partilha e não suporta vendo os outros com fome; ditoso aquele que é odiado e sofre perseguição, não por ser incompreendido, mas por sua atitude profética em favor dos injustiçados e excluídos. Esta é a profunda mensagem das bem-aventuranças. Ser ditoso é ser livre.
O Deus de Jesus é o “Deus da feliz não é ter um céu sem tempestades ou um caminho sem acidentes, trabalhos sem cansaço, relações sem decepções...
Ser feliz é encontrar força no perdão, esperanças nos desafios, segurança no palco do medo, amor nos desencontros. Ser feliz não é apenas comemorar o sucesso, mas aprender lições nos fracassos. Não é apenas ter alegria com os aplausos, mas ter alegria mesmo no anonimato.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver a vida, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz não é uma conquista, mas uma atitude de quem sabe viajar para dentro de seu próprio ser e mobilizar seus recursos oblativos. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e tornar-se ator da própria história.
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