11. São José, padroeiro da boa morte... (Papa Francisco)

 


Devoção nascida do pensamento de que José morreu com a ajuda da Virgem Maria e de Jesus, antes que ele deixasse a casa de Nazaré. Não há dados históricos, mas visto que já não se vê José na vida pública, pensa-se que tenha morrido ali em Nazaré, em companhia de Jesus e Maria. Quer José quer Maria ajudam-nos a ir a Jesus. «Dado que Ele é merecidamente considerado como o mais eficaz protetor dos moribundos, tendo expirado com a ajuda de Jesus e Maria, será preocupação dos Pastores inculcar e encorajar [...] aquelas piedosas confrarias que foram instituídas para implorar José em nome dos moribundos, como as “da Boa Morte”, do “Trânsito de São José” e “pelos Agonizantes”» (Motu próprio Bonum sane, 25/JUL/1920): associações da época.


Talvez algumas pessoas pensem que esta linguagem e este tema sejam apenas uma herança do passado, mas na realidade a nossa relação com a morte nunca diz respeito ao passado, é sempre presente. O Papa Bento dizia falando sobre si mesmo que “está diante da porta obscura da morte”. É bom agradecer ao Papa Bento que com 95 anos tem a lucidez de nos dizer isto: “Estou diante da obscuridade da morte, à porta obscura da morte”. 


A cultura do “bem-estar” procura remover a realidade da morte, mas de uma forma dramática a pandemia do coronavírus voltou a colocá-la em evidência. A morte estava em toda a parte, e muitos perderam entes queridos sem poderem estar ao lado deles, e isto tornou a morte ainda mais difícil de aceitar. Uma enfermeira contou-me que uma avó com Covid estava a morrer e disse-lhe: “gostaria de me despedir dos meus entes queridos antes de ir embora”. E a enfermeira, corajosa, pegou o celular e fez a ligação.


Procuramos banir o pensamento da nossa finitude, iludindo-nos que podemos retirar o poder da morte e afastar o temor. Mas a fé cristã não é uma forma de exorcizar o medo da morte, pelo contrário, ajuda-nos a enfrentá-la. Mais cedo ou mais tarde, todos nós iremos passar por aquela porta...


A verdadeira luz que ilumina o mistério da morte provém da ressurreição de Cristo. São Paulo escreve: «Ora, se se prega que Jesus ressuscitou dentre os mortos, como dizem alguns de vós que não há ressurreição de mortos? Se não há ressurreição de mortos, nem Cristo ressuscitou. Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação e também a vossa fé (1 Cor 15, 12-14). Cristo ressuscitou, Cristo ressurgiu, Cristo está vivo no meio de nós. E esta é a luz que nos espera por detrás da porta obscura da morte.


É pela fé na ressurreição que podemos olhar para o abismo da morte sem nos deixarmos dominar pelo medo. Mas, também podemos atribuir à morte um papel positivo. De facto, pensar na morte, iluminada pelo mistério de Cristo, ajuda-nos a olhar para toda a vida com olhos novos. Nunca vi atrás de um carro fúnebre um caminhão de mudanças! Iremos sozinhos, sem nada nos bolsos. Não tem sentido acumular se um dia morreremos. O que precisamos é amar, partilhar e não ficar indiferentes às necessidades dos demais. De que serve discutir com um irmão, uma irmã, um amigo, um membro da família se um dia morreremos? De que serve enraivecer-se, zangar-se com os outros? Perante a morte, tantas questões são redimensionadas. É bom morrer reconciliados. Todos nós estamos a caminho rumo àquela porta.


O Evangelho diz-nos que a morte vem como um ladrão, e por muito que procuremos manter a sua chegada sob controlo, ela continua a ser um acontecimento com o qual temos de nos confrontar e perante o qual também temos de fazer escolhas.


Para nós cristãos permanecem firmes duas considerações. A primeira, que não podemos evitar a morte; depois de ter feito tudo o que era humanamente possível para curar a a pessoa doente, é imoral envolver-se numa obstinação terapêutica (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 2278). A frase do povo fiel de Deus e das pessoas simples: Deixai-o morrer em paz! A segunda consideração diz respeito à qualidade da própria morte. De facto, devemos estar gratos por toda a ajuda que a medicina procura dar, para que através das chamadas “curas paliativas”, cada pessoa que se prepara para viver a última parte da sua vida o possa fazer da forma mais humana possível. Sem provocar a morte nem anticipá-la. O direito a cuidados para todos deve ser sempre uma prioridade. Idosos e doentes, nunca sejam descartados! A vida é um direito, não a morte, que deve ser acolhida, e não administrada. E este princípio ético diz respeito a todos, e não apenas aos cristãos. 


Sublinho aqui um problema social, mas real: acelerar a morte dos doentes. Vemos numa certa classe social que alguns por não terem os meios necessários, recebem menos medicamentos do que necessitariam, e isto é desumano. Isto não é humano nem cristão. Os idosos devem ser tratados como um tesouro da humanidade: eles são a nossa sabedoria. Mesmo que não falem, são o símbolo da sabedoria humana. Por favor, não isoleis os idosos, não apresseis a morte dos idosos. Acariciar um idoso tem a mesma esperança que acariciar uma criança, pois o início e o fim da vida é sempre um mistério que deve ser respeitado, acompanhado, cuidado, amado.


Que São José nos ajude a viver o mistério da morte da melhor maneira possível. Para um cristão, a boa morte é uma experiência da misericórdia de Deus, que se aproxima de nós, até naquele último momento da nossa vida. Na oração da Ave-Maria, pedimos a Nossa Senhora para estar perto de nós “na hora da nossa morte. Gostaria de concluir esta catequese cada um rezando com Nossa Senhora pelos moribundos, por quantos estão a viver este momento de passagem por aquela porta obscura, e pelos seus familiares que vivem esse luto...

 

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