4º DTQ: A MISERICÓRDIA RECONSTRUTORA... (Pe. A. Palaoro SJ)

... este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado (Lc 15, 32)

 

A parábola do “Pai Misericordioso” nos comove. Ela fala dos nossos anseios mais profundos: de retornar de terras estranhas para nosso lar, de sair da insignificância para encontrar nossa essência e voltar à vida. É o desejo que nos diz que, independentemente da situação em que nos encontremos e de quão perdidos estejamos, sempre é possível mudar a direção de nossa vida perdida, e retornar ao nosso verdadeiro lar.

 

A parábola deixa claro o que nos distancia e o que nos aproxima do nosso ser essencial, pois destaca dois polos: distanciamento e proximidade. Quando Lucas diz que o filho mais novo “partiu para uma região longínqua”,ele se refere a uma quebra drástica da maneira de viver, pensar e agir que ele recebeu como um legado sagrado através das gerações, e uma traição aos valores cultuados pela família e pela comunidade. O “país distante” é o mundo que não respeita o que em casa era considerado sagrado.

 

As consequências da ruptura com o pai serão a miséria extrema e a degradação máxima. Quando atravessou o limiar da casa paterna e deu as costas ao pai, o filho estava partindo para a perdição.

 

No início, parece que só o filho mais novo estava longe do pai e da sua casa, mas quando 

o filho “distante” volta percebemos também a separação afetiva do filho mais velho, o que sempre esteve em casa e que servia ao pai de modo aparentemente irrepreensível. Na realidade, também ele vivia distante.

 

O “filho mais velho” apresentava uma aparência de perfeição que camuflava uma falsa submissão. Ele ignora que, para entrar na festa, é insuficiente não transgredir as leis, mas precisa ter uma outra disposição interior. Não fazer o mal não é suficiente. O peso da lei tornou-o uma pessoa amarga.

 

Por outro lado, o “retorno” do filho mais jovem deixa também transparecer a grandeza de um coração transbordante, de um pai absolutamente “surpreendente” e “maravilhoso” no modo de lidar com o fracasso e limitação do seu filho.

 

 

Enquanto os filhos demonstram todo o seu “distanciamento”, o pai se aproxima, sempre mais, fazendo-os descobrir não só o fato de serem filhos, mas irmãos.

 

filho mais novo tinha se distanciou até dos valores familiares, mas, na sua volta experimentou a grande ternura do pai. O pai nunca o abandonou!

 

Na solidão e na indigência, o filho “perdido” experimentou o coração amoroso do pai.

 

Os dois filhos, apresentados nessa parábola, têm trajetos fundamentalmente distintos; contudo, possuem em comum o fato de não conhecerem de verdade o Pai e o fato de não terem nenhuma consciência das consequências de suas rupturas. Um, estava seguro de saber o que queria: partir. O outro, tem a certeza de estar no caminho certo: o dever. Ambos perderam o caminho do coração. Um, esqueceu-o; o outro, endureceu-o.

 

Nenhum deles tinha vivido uma relação sadia com o pai: nem aquele que partiu, nem aquele que permaneceu a seu lado. Ambos perderam a sua fonte e não recebiam mais a água do amor. Não eram mais iluminados a partir do coração; tornaram-se cegos. Caminhando dia e noite, vão tropeçar: um, na desordem; o outro, no excesso de ordem.

 

O retorno do mais novo revelou o que cada um tinha no se coração. Os dois precisavam reencontrar o amor perdido. 

 

“E foi ao encontro de seu pai”, reencontrar a vida familiar perdida. A misericórdia do pai os reconstruirá novamente como filhos queridosSegundo o texto evangélico, o pai não diz uma única palavra ao filho no momento em que o acolhe.

Ele deixa transparecer seus sentimentos através dos gestos: corre ao seu encontro, abraça-o e cobre-o de beijos. Não há o menor sinal de rejeição ou repreensão. 

 

O pai é acolhida total, compaixão visceral, perdão incondicional.

 

Muitos de nós precisamos sentir novamente o abraço carinhoso do pai

 

 

0 comments:

Postar um comentário