5º DTQ: Jesus, Mestre misericordioso...

 


“De madrugada, voltou ao templo, e todo o povo se reuniu ao redor dele. 

Sentando-se começou a ensiná-los” (Jo 8,2)

 

O tempo da Quaresma é um tempo para nos deixar ensinar pele Mestre da Galiléia. A imagem de Jesus educador atravessa os evangelhos. Seu ensinamento entrou em conflito com os representantes do judaísmo oficial, e com o poder romano. Jesus foi perseguido e morto por seu ensinamento, mas sua mensagem superou séculos e fronteiras.

 

Jesus era Ele mesmo; Era a identidade de si mesmo, entre o que dizia e fazia, entre o que era e ensinava. Jesus era um “mestre da vida humana digna”. Sua presença humanizadora reconstruía a humanidade ferida e abria sentido para sua existência. Jesus foi semeando humanidade, um conhecimento criativo e inspirador, que se fazia vida naqueles que escutavam e acolhiam sua palavra. Esta era a sua missão: ensinar aos homens e às mulheres, para que fossem eles mesmos, para que descobrissem e ativassem a verdade por dentro

 

O evangelho deste domingo nos diz que Jesus se encontrava na esplanada do Templo ensinando o povo, quando levaram até ele uma mulher surpreendida em adultério. Escribas e fariseus, seguindo a lei, condenavam essa mulher ao apedrejamento: “a lei” mata. A lei mandava apedrejá-la; mas a lei não tem coração, não tem misericórdia. Eterno conflito entre fidelidade à lei ou fidelidade ao coração. A fidelidade à lei prefere a morte daquela coitada. Na perspectiva da lei, a mulher não tinha possibilidade nenhuma de viver. Só a misericórdia poderia destravar a vida, colocar a mulher em movimento e arrancá-la do círculo legalista de morte. O sistema legalista e opressor que termina cedendo o lugar a uma nova relação, instaurada por Jesus, centrada na misericórdia. A mulher permanece no centro, inicia-se um novo diálogo, entre Jesus e a mulherUm diálogo que oferece perdão e salvaçãoJesus que lhe diz: “Eu também não te condeno”. Desde modo, Jesus nos ensina que não se extirpa o mal eliminando quem o cometeu, mas oferecendo ao pecador condições de vida nova e plena. E a mulher, talvez, se sentiu profundamente amada pela primeira vez.

 

Jesus, “pedagogo misericordioso”, ativa nas pessoas as melhores possibilidades, riquezas escondidas, capacidades, intuições... e faz emergir nelas sua verdade mais verdadeira de pessoas amadas, e perdoadas. Por debaixo do modo paralisado e petrificado de viver, existe sempre uma possibilidade de vida nova nunca ativada. 

 

O “princípio misericórdia” é o núcleo essêncial do Evangelho. Misericórdia que é “amor em excesso”. Na misericórdia, Deus sempre nos surpreende, sempre excede nossas estreitas expectativas, abrindo caminho a partir de nossas fragilidades. Só o amor misericordioso de Deus nos reconstrói por dentro, destravando-nos e abrindo-nos em direção a horizontes maiores de coragem, responsabilidade e compromisso. misericórdiaconstitui a resposta de Deus à nossa indigência.

 

Misericórdia expansiva, pois abre um novo futuro e desata ricas possibilidades latentes em cada umOnde não há misericórdia, não há sequer esperança para o ser humano.

A misericórdia é a mais humana das virtudes e revela a essência do Deus Pai e Mãe de infinita bondade. É a que revela, igualmente, o lado mais luminoso da natureza humana. misericórdia parte das “entranhas” e se dirige instintivamente ao próximo na forma de presença, acolhida, compaixão, ternura e consolo.

 

Misericórdia é exatamente: “ter coração” para o outro, dando preferência aos mais frágeis e limitados. misericórdia é a caridade que “toma mãos e pés”, ou seja, o amor que se expressa em uma ação decidida e generosa, capaz de transformar e libertar.

Ser presença misericordiosa é um “modo de proceder”, um “estilo de vida” que não está ligado a uma transgressão; é muito mais um estilo de bondade, compreensão, magnanimidade, estilo de quem não se fixa no que o outro merece, nem se escandaliza com sua miséria. Devemos ser presença misericordiosa como pecadores, não como justos.

 

Quem é misericordioso está convencido de que o irmão é melhor do que aquilo que aparenta ser.

 


 

 

 

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