Sede santos porque EU sou santo... Santos(as) sem altares, nem devotos... (cf. Pe. A. Palaoro SJ)

 



Jesus viu as multidões, subiu à montanha e sentou-se… e começou a ensiná-los... (Mt 5,1-2)

 

Esta é a vocação fundamental à qual somos todos chamados, enquanto seguidores de Jesus Cristo: a santidade. A santidade é a vocação universal de todos, cada um à sua maneira.

Todoo.

 

Nossa vocação é a santidade da Vida para além de todo sistema moral, para além de toda crença, para além de toda religião, porque fora da Igreja há salvação ou santidade

 

Mais ainda. A santidade é nossa verdade mais íntima e universal. Não somos santos porque somos irrepreensíveis, senão simplesmente porque somos, e vivemos, nos movemos e somos sempre em Deus e Deus em nós, também quando nos sentimos medíocres e inclusive fracassados. Somos um tesouro em vasos de argila em formação, e Deus é o paciente oleiro na sombra mais profunda de nosso barro.

 

Evangelho que nos foi confiado é um programa para alcançar a felicidade, vida ditosa, prazerosa, bem-aventurada. Na boca de Jesus brilha sempre a palavra-chave: “Felizes”.

 

felicidade, proclamada por Ele no evangelho deste domingo, é já uma realidade presente na Sua pessoa e na Sua missão. Todas e cada uma das bem-aventuranças são autobiográficas.

 

As bem-aventuranças são o auto-retrato de Jesus. Elas são o compêndio do seu ministério. Não é lei que se impõe por si mesma; é confissão: “o Reino chegou”.

 

A primeira “canonização”, pois, teve lugar quando Jesus, num determinado dia, subiu à montanha e com grande solenidade declarou felizes os pobres, os aflitos por causa do Reino, os mansos que não recorrem à violência, os que tem fome e sede de justiça, os misericordiosos, os que não tem segundas-intenções no coração, os que trabalham em favor da paz, os perseguidos por causa da justiça. Todos eles(as) são declarados felizes porque são os que mais se parecem com Deus, ou seja, deixam transparecer em suas vidas a santidade d’Ele. E a felicidade está justamente na vivência do chamado universal à santidade.

 

As Bem-aventuranças não são uma doutrina, mas um estilo de vida, um modo de proceder. Jesus não prega diretamente uma moral. Proclama a “irrupção” da graça, do amor, da misericórdia, da santidade de Deus na história da humanidade

 

Chegou a “hora” de Deus intervir na história, por isso Jesus fica feliz e proclama felizes” os até agora indefesos, oprimidos e marginalizados, mas que mantiveram viva a confiança em Deus.

Ele afirma é que a felicidade de cada um está em íntima relação com a felicidade dos outros, com quem cada um convive: FELIZES!

 

O Deus que nelas proclama não é “confessional”, nem “patrimônio” de uma religião específica; a opção pelos pobres, a transparência de coração, a fome e sede de justiça, a luta pela paz, a perseguição como consequência do empenho em favor da Causa do Reino... Essa “religião humana básica fundamental” é a que Jesus proclama como “código de santidade universal”.

 

A festa de Todos os Santos e Santas vem nos indicar este caminho, ao apresentar o texto das Bem-aventurançascomo um programa para viver a felicidade; e o motivo primeiro é porque todas elas são, na verdade, o caminho da santidade universal (acima e além de toda religião, pois elas são simples e profundamente humanas). As Bem-aventuranças são como o mapa de navegação para nossa vida; são o horizonte de sentido e o ambiente favorável para nossa santificação, entendida como empenho para viver com mais plenitude, segundo o querer de Deus.

 

A santidade é, pois, um dom recebido de Deus, que alimenta na pessoa o desejo e a disposição de “sair de si mesma” para viver a experiência do amor na relação com os mas necessitados. “Viver a partir da santidade de Deus” representa a melhor definição da santidade cristã: reconhecer-nos como quem recebe tudo de Deus, deixar-nos amar e guiar por Ele, assemelhar-nos a Ele para tornar carne viva em nós os sentimentos de compaixão e misericórdia que Ele tem com as pessoas.

 

O Evangelho nos propõe um modelo de santidade muito mais dinâmico e próximo da vida cotidiana, com seus altos e baixos, alegrias e dores. Ele revela uma nova forma de santidade: santidade da vida comum. O(a) santo(a) faz as coisas que todo mundo faz, mas faz de maneira diferente. Há um “mais” qualitativo. Há algo na conduta, no brilho do olhar, na bondade do gesto, na pureza do agir, na liberdade, na gratuidade que o faz ser diferente. Isso é ser santo(a).

 

É na vida cotidiana onde se tece a santidade. Pois a santidade não é uma questão de “separados” e de “segregados”, mas de viver a inserção na realidade. A grande maioria vive a santidade no anonimato ou, quando muito, na memória dos seus mais próximos ou daqueles a quem lhes causaram admiração profunda ou de quem aprenderam que viver de verdade podia ser feito de outra maneira; são tantos e tantas por quem sentimos admiração, respeito e desejo de imitá-los para dar um sentido diferente às nossas existências. 

 

Homens e mulheres que se deixaram e se deixam moldar pelo amor. Amor oblativo, sem credos nem ideologias; um amor que vai além da raça, cultura, condição social. 

 

Nenhum desses santos e santas terão seus devotos, nem estão sobre os altares dos templos e ninguém escreverá livros sobre eles e elas; no entanto, são aqueles(as) que viveram e vivem o cotidiano criativo nos altares da vida, do compromisso e do serviço. Para eles e elas o melhor dos altares foi e é sua consciência. E o único e grande devoto é o próprio Deus que acreditou neles(as) desde o princípio e continuará fazendo por toda a eternidade: “Sede santos porque eu Sou Santo”.

 

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