2º DTA: Tempo para cuidar das nossas raízes... (Cf. Pe. A. Palaoro SJ)

   O machado já está na raiz das árvores... (Mt 3, 10)


 

Sentimos indignação quando alguém corta uma árvore e deixa desnudo uma cepa do velho tronco com suas raízes ainda fundadas na terra. Estava já velha, dizem alguns. Era um perigo, comentam outros. Só ocupava lugar, exclamam mais alguns. Todos apresentam justificativas para eliminá-la e jogá-la abaixo. Todos têm razão quando se trata de eliminar o que é visto como inútil ou velho.

 

No entanto, quando acreditavam que o velho tronco estava condenado a desaparecer, se esqueceram que ainda não tinham arrancado suas raízes. Subitamente, quando menos esperavam, viram como novos rebentos brotavam no tronco velho. O tronco estava para ser cortado, mas as raízes ainda tinham vida. E enquanto há vida nas raízes, a vida é possível. “Do velho tronco de Jessé, brotará o rebento que é Jesus”. A vida é mais forte que a velhice; a vida é mais forte que o robusto tronco; a vida sempre triunfa.

 

Há demasiadas vidas sem raízes profundas... Vidas que morrem facilmente, pois suas raízes estão na superfície da terra.

 

Quando as raízes têm vida, pode ser que alguns ramos se sequem, mas ainda permanecem outros suficientes para embelezar a árvore. Podemos encontrar dificuldades, mas a vida é mais forte que os obstáculos. Quando as raízes têm vida há esperança.

 

O evangelho deste domingo nos revela que João Batista é o broto novo no velho tronco. No velho “tronco” (1º Testamento), “vem a palavra de Deus sobre João, filho de Zacarias, no deserto”. João não é do AT nem do NT. Ele é o broto novo. Ele é o anúncio do novo que está prestes a brotar. 

 

João é o novo rebento que anunciará a nova Árvore e a nova Vida. E ele começa por lançar água nas velhas raízes, anunciando a conversão do coração. Cultivar as raízes é fazer que novos brotos continuarão a crescer.

 

O tempo litúrgico do Advento nos motiva a “descer” em direção às nossas raízes interiores. Nosso contexto está saturado de aparência e superficialidade. É preciso levar a água viva do evangelho às profundezas do coração.

 

Advento nos alarga nosso ser, nos dinamiza e eleva. A partir das “raízes interiores” o Advento ilumina e ao abarcar toda a vida, alcança também a nossa ação transformadora no mundo.

 

No interior de cada pessoa existe uma riqueza acumulada que procura se expressar por sentimentos, atitudes e valores. O nível profundo é o nível da Graça e da gratuidade, onde a pessoa mergulha no silêncio à escuta de todo seu ser.

 

O Evangelho de Mateus nos apresenta João Batista clamando por conversão“porque o reinado de Deus está próximo”. João contempla a realidade de seu povo e sente o impacto da violência e exclusão que tanto o poder religioso como o civil impunham a todos. Sua mensagem se concentra neste grito: Preparai o caminho doSenhor, endireitar suas veredas! O Papa Francisco grita a mesma mensagem aos cristãos de hoje e nos lança uma pergunta: “Estamos decididos a percorrer os caminhos novos que a novidade de Deus nos apresenta?”.

 

Advento nos mobiliza a “descer” ao chão da vida, à “humilitas” que vem de húmus, o chão escuro, úmido e fértil da terra.

Somos Advento se vivemos a partir das nossas raízes. “Radicalidade” significa ser alimentado por uma raiz que está plantada fundo no chão. É como uma árvore que se apoia, se sustenta e se alimenta das suas raízes. Radical é aquele que vive perto da raiz, e toma as coisas pela raiz, pelo fundamento.

 

O sentido que “radicalidade” transmite é esta proximidade do chão, estar enraizado na terra, na realidade. Quando dizemos que os homens e as mulheres do Advento costumam ser radicais, queremos mencionar, em primeiro lugar, esta proximidade da terra e do húmus, esse enraizamento profundo que alimenta a vida, que sustenta o tronco e a copa da árvore em todo e qualquer tempo, dando-lhes firmeza e consistência. Minha vida está enraizada na pessoa de Jesus e na causa do Reino?

 

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