3º DTA: A novidade que vem das periferias existenciais... (cf. A. Palaoro SJ)


Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo” (Mt 11,4)


Nem João, nem os rabinos, nem os sacerdotes, nem os apóstolos estavam capacitados para entender Jesus. Sua presença e atuação não se ajustavam ao que eles esperavam. Jesus rompe com todos os esquemas mentais. A novidade de Jesus é muito maior do que aquilo que podiam esperar. Não vem com poder, nem quer impor nada, mas propor uma dinâmica de serviço e desatar a vida travada. Jesus “tem um caso de amor com a vida”.

João envia dois discípulos que perguntam a Jesus sobre sua verdadeira identidade: “És tu, Aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro”? A resposta não é teórica: contai a João o que estais vendo e ouvindo. Ele se dá a conhecer através de ações concretas em favor da vida: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam... O que o profeta Isaías anunciava como futuro, agora se faz presente em Jesus. 

 

Jesus sabe que sua resposta pode decepcionar àqueles que sonhavam com um Messias poderoso. Por isso acrescenta: Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim!”. Que ninguém invente outro Cristo a seu gosto, pois o Filho foi enviado para tornar a vida mais digna e ditosa para todos, até alcançar a plenitude na festa final do Pai.

 

Estes são os sinais da presença do Messiasalívio para quem sofre, acolhida para quem é excluído, vida para quem se sente morrer, visão para quem se encontra na penumbra, fortaleza para os joelhos frágeis... 

 

O modo de agir de Jesus deve também inspirar o nosso modo de proceder durante o Advento. Viver em “estado de Advento” não é se fixar no futuro, aguardando a vinda d’Aquele que já está sempre presente e que se faz visível nos rostos dessas vítimas. 

 

“Ser Advento” implica “descer” junto à humanidade, recompondo vínculos quebrados, superando ódios e intolerâncias, mobilizando energias e criatividade para que a vida de todos possa ser desbloqueada e encontre espaço para se expressar em sua plenitude. Advento sem compromisso com a vida é Advento estéril, com cheiro de morte.

 

Para conhecer Jesus, o melhor é ver de quem Ele se aproxima. Para captar bem sua identidade não basta confessar teoricamente que Ele é o Messias, Filho de Deus. É preciso sintonizar-nos com seu modo de ser Messias: alivia o sofrimento humano, cura a vida ferida e abre um horizonte de esperança aos pobres.

 

Os cegos, surdos, coxos, leprosos, pobres e muitos outros coletivos no mundo de hoje, continuam sendo símbolos da marginalização mais radical que afeta muitíssimos seres humanos. A chegada do Reino tem consequências para todos, mas sobretudo para os mais excluídos, que tinham perdido toda esperança e o sentido do viver.

 

Entre os sinais da presença do Messias não há um só sinal “religioso”: nem culto, nem rezas, nem sacrifícios, nem doutrinas, nem leis... Para Jesus, primeiramente vem a vida, depois o culto; em primeiro lugar, o compromisso em aliviar a dor humana, depois a religião. Só as ações em benefício dos outros deixam transparecer a presença de Deus.

 

Nas páginas dos Evangelhos não vemos um Jesus fixo no deserto ou no templo, mas  caminhando por toda a Galiléia; aproxima-se dos últimos e excluídos, vítimas do contexto social e religioso da época. O centro da sua missão é aliviar o sofrimento humano, restabelecendo a vida onde ela está ferida. O que Jesus fez, fundamentalmente, foi curar a vida.

 

Pode-se dizer que toda a atuação de Jesus está encaminhada a criar uma sociedade mais saudável, mais humana, mais leve... Recordemos a rebeldia de Jesus frente a tantos comportamentos patológicos de raiz religiosa; como Ele critica o rigorismo, o legalismo, o culto vazio de amor... Jesus quer sanar a religião e criar uma sociedade mais justa e solidária. 

 

Em tempos de fanatismos, intolerâncias e preconceitos, precisamos assumir uma atitude firme a partir do evangelho da Boa Nova de Jesus. Atitude que nos faça ter “os olhos fixos em Jesus” (Heb 12,2). 

 

É preciso sair dos limites conhecidos, de nossas seguranças, para adentrar-nos no terreno do incerto; sair dos espaços onde nos sentimos fortes para arriscar-nos a transitar por lugares onde somos frágeis; sair do inquestionável para enfrentarmos o novo...

 

Abrir espaços em nossa história a novas pessoas e situações, novos encontros, novas experiências... Porque sempre há algo diferente inesperado que pode nos enriquecer...

 

A periferia passa a ser terra privilegiada onde nasce o “novo”, por obra do Espírito. Ali aparece o broto original do “nunca visto”, que em sua pequenez de fermento profético torna-se um desafio ao imobilismo petrificado e um questionamento à ordem estabelecida.

 

As fronteiras e as periferias constituem o espaço privilegiado onde nascem e crescem as alternativas, onde brota o emergente como possibilidade de Vida nova, que transcende todo sinal de morte.

 






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