2ºDTP: RESSURREIÇÃO: uma alegria com cicatrizes... (cf. A. Palaoro SJ)

 Por suas santas chagas fomos curados... 


 

“...e mostrou-lhes as mãos e o lado; então os discípulos se alegraram por verem o Senhor” (Jo 20,20)

 

Este 2º Domingo de Páscoa revela-se como o domingo dos dons pascais: o dom da paz, da reconcilia-ção do Ressuscitado com os seus discípulos; do Espírito Santo que os recria como seres humanos novos; da missão que os faz continuadores da obra de Jesus; o dom do perdão como expressão do amor pascal da e na comunidade; o dom da fé como adesão Àquele que é Vida; o dom da comunidade como lugar visível da presença do Ressuscitado...

 

Durante a paixão e morte de Jesus quase todos falharam (fugiram, esconderam, um o traiu, um outro o negou abertamente), por isso, no encontro com o Ressuscitado, eles se sentem envergonhados e temerosos. E a primeira coisa que o Ressuscitado faz é devolver-lhes a alegria da reconciliação, ativando neles o dom da paz e do consolo.

 

Além disso, era preciso reconstruí-los por dentro; por isso, “soprou sobre eles” o dom do Espírito Santo, recriando-os. Se na criação Deus soprou nas narinas de Adão tornando-o um ser vivente, agora o Ressuscitado sopra sobre eles e não só comunica o dom da vida, mas seu próprio Espírito, tornando-os “homens novos da Páscoa”. E lhes confia a continuidade da missão que o Pai lhe havia encomendado.

 

Jesus também é consciente de que, apesar de tudo, seus amigos continuam sendo homens limitados e frágeis e lhes deixa o maravilhoso dom do perdão, capaz de reconstruí-los e de reforçar os vínculos comunitários.

 

Celebramos o domingo da comunidade. Quase todas as aparições pascais têm lugar na comunidade. Jesus começa por curar e pacificar sua comunidade; agora, uma comunidade curada e reconciliada já na primeira aparição. Mas alguém está ausente da comunidade: Tomé não estava com eles”. A comunidade procura integrá-lo, levantando-lhe o ânimo: vimos o Senhor!”. “Está vivo; alegra-te conosco!”.

 

Tomé não acredita neles. Também ele precisa ser curado pelo Ressuscitado. O Ressuscitado cura as feridas de cada um da comunidade.

 

Na segunda aparição destaca-se a presença de Tomé. Também ele vê; e o que os outros não fizeram, ele consegue tocar aquelas mãos chagadas. É o único que consegue pôr o dedo na chaga do lado. Mas terá que estar presente na comunidade.

 

Tomé não pecou contra Jesus; ele pecou contra a comunidade, pois não acreditou no testemunho dos seus companheiros de discipulado. Por isso Jesus o resgata e o faz proclamar publicamente, na comunidade, sua fé n’Ele, o Vivente. A comunidade agora curada pela presença do Ressuscitado torna-se comunidade pascal; é a comunidade do Ressuscitado; é a comunidade do Espírito Santo; é a comunidade da missão e do perdão; é a comunidade onde o Ressuscitado se faz visível.

 

Mas, esta nova comunidade ressuscitada não tem fim nela mesma. O evangelista João cuidou muito da cena em que Jesus vai confiar sua missão aos discípulos. Jesus está no centro da comunidade, como fator de unidade e transmitindo a todos sua paz e alegria, quebrando os medos, consolando-os e confirmando-os como continuadores da missão que Ele tinha iniciado na Galiléia.

 

Agora, como Ressuscitado, Jesus os “envia”; não lhes diz a quem devem se dirigir, o que fazer ou como agir. Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. A missão é a mesma que a de Jesus. E ao mostrar suas chagas para os discípulos, Ele está dizendo onde eles devem encontrá-Lo.

 

Os primeiros cristãos decidiram conservar e transmitir a história de Jesus sem ocultar as muitas rupturas, feridas e traições que lhe acompanharam durante sua vida. Podiam ter adocicado, suavizado ou omitido diretamente os aspectos mais polêmicos. Com certeza, teriam evitado controvérsias e facilitado a aceitação da mensagem cristã. No entanto, não fizeram isso. Pelo contrário, deixaram as cicatrizes de suas feridas completamente à vista de todos e sem nenhuma dissimulação. Fizeram isso não só para serem fiéis à história de Jesus, mas, sobretudo, para mostrar a fortaleza, a fragilidade e a beleza da reconstrução realizada por Deus na sua ressurreição.

 

recebem a nova missão de recompor pessoas quebradas, machucadas, feridas... “Re-compor o mundo quebrado”expressa a responsabilidade de todos para curar, reparar e transformar o mundo. 

O profeta Isaías diz: “Tu reconstruirás velhas ruínas, erguerás sobre os alicerces de outrora; e te chamarão reparador de brechas, restaurador de casas em ruínas” (Is 58,12).

 

  1. É escandaloso o fato de muitos que não conseguem ver nos cristãos a paz, a alegria, a vida renovada; só encontram intolerância, moralismo, legalismo, ódio, críticas destrutivas... 

 

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