O que dizer diante da morte?

Nesta semana a irmã morte passou por perto e escolheu duas pessoas queridas: Rafael, 23 anos, Antigo Aluno da ETE, e Caíque, 17 anos, aluno e funcionário. Os dois sofreram acidentes graves. Aliás, os acidentes de moto ou de carro são coisa antiga nesta cidade, mas a gente não se acostuma com isso.

E tudo isso aconteceu ao nosso redor. A morte é sorrateira, pois quando menos a esperamos se lança sobre a vítima; a derruba e a leva. Isso assusta, e nos deixa sumamente perplexos. Como imaginar que Rafael e Caique seriam os “sortudos” da vez? Eu os visitei na UTI. Um no Hospital Renascentista; o outro no Samuel Libânio. Ambos estavam adormecidos, silenciosos, calmos; prontos para partir.

O que dizer hoje aos pais que por tanto tempo acalentaram esses meninos? Sonhos perdidos, partidos, doídos! Talvez o nosso silêncio seja a melhor atitude diante de tamanha perda. O que dizer? Quem sabe escutá-los seja o mais razoável, pois a dor partilhada parece diminuir quando encontra um ombro amigo.

E os amigos e colegas como ficam? O que dizer a eles, para quem a vida apenas começou? Para Rafael e Caique pronto terminou. Tudo foi tão rápido! Ontem, estavam no meio de nós; hoje, não mais. Sorriso,  disponibilidade; confiança franca, camaradagem... ficarão agora só na lembrança. Por quanto tempo? Eu os vi machucados e quando despojados da dor, partiram livres, sem apenas dizer adeus... Como computar esses sentimentos sem magoar o nosso coração? Será que o tempo cicatriza a saudade?

No decorrer da vida tenho aprendido algumas coisas e uma delas, quase sagrada, é o valor da amizade. Ela é importante! Curtir como crianças a presença dos outros, enquanto caminham conosco, e se alegrar simplesmente com isso. Rir de coração cheio, em céu de brigadeiro e, às vezes, até chorar juntos, à luz das estrelas! O que mais dizer? A vida é bonita e o Senhor habita nela!

Peço a Deus pelos que já partiram e ao mesmo tempo agradeço por entrelaçar, de algum modo, as nossas vidas. Foi muito bom caminhar juntos! Aos que ficam, faço um apelo singelo: não desperdicem o tempo; ele é tão curto!

E termino rezando, pois acredito na Ressurreição daqueles que em Jesus foram batizados: Faz, Senhor, que as nossas vidas Te sejam sempre agradáveis. Que não nos separemos por muito tempo da verdade e do amor. E quando, um dia, a irmã morte chegar e nos pegar pela mão, possamos partir felizes, pelo dom da vida que pudemos curtir. Obrigado, Pai, pois o tempo nos foi dado para fazer o bem. Rafael e Caique, tranquilos, retornam agora a Ti.

E que um dia, como santo Estevão, discípulo predileto de Jesus, possamos também dizer: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do homem de pé, à minha espera! (At 7, 56). Senhor Jesus recebe meu espírito! (At 7, 59). E oxalá escutemos a sua voz divina ecoando: Hoje, meu amigo muito amado, estarás comigo e para sempre no Paraiso!

Um comentário:

  1. Pe. Ramon,

    Passei os olhos sobre o seu texto, sem prestar atenção na oração e na passagem bíblica, na verdade correndo de tudo que fizesse referência ao meu Rafael e também ao nosso pequeno amigo e colega de trabalho Caique. Hoje, talvez um pouco melhor, porque a saudade ainda é malvada, pude refletir e agradecer a Deus sua cumplicidade neste momento. Que nunca lhe falte o apoio amigo daqueles que lhe rodeiam. Deus o abençoe. Magda

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