Um só Deus nas diversas religiões (Judaísmo, Cristianismo e Islã) - II

Deus é Amor!... 
Passemos das religiões do ser/matéria (Hinduísmo, Budismo, Taoismo...) para as religiões da Fé e do Amor/Espírito (Judaísmo, Cristianismo e Islão...).

O típico destas religiões, e dos místicos delas, é a experiência da confiança nesse mistério intransponível e profundo que chamamos de Deus.

No Judaísmo, e desde o início, há um relacionamento interpessoal de Deus com algumas pessoas (patriarcas, juízes, profetas...), onde a fé e a confiança são exigidos e desenvolvidos. O mistério de Deus se revela no íntimo da pessoa, convidando-a a manter um relacionamento. Tanto é assim que Abraão acreditou e com isso foi salvo, justificado! Quem entra nessa dinâmica da fé e entrega, encontra não só as pegadas de Deus na Criação, mas se aproxima do seu amor.

Deus não só se faz presente na vida das pessoas, como também as interpela pelos acontecimentos e pela palavra interior discernida e confirmada pela paz e abertura do próprio ser. Quem vive realmente da fé, toma consciência da sua limitação e se realiza como pessoa ao responder a esse apelo. Deus fala, não para ensinar, mas para se relacionar e salvar; a pessoa responde comprometendo o próprio ser e ter. Deus é compromisso de vida!

Israel talvez seja o único povo que contou sua história não para se vangloriar, mas para mostrar a pequenez da sua resposta a esse Deus misterioso! Israel sabe que Deus faz história com ele!
A crise do judeu será, pois, a descrença e a infidelidade à Lei! Será que foi Ele quem me falou?... Quem sou eu para responder?... Como ajudar a quem precisa?... Deus é o totalmente Transcende e só me achego a ele pela obediência às suas leis, normas e decretos. 

O Cristianismo é a religião do amor a Deus e ao próximo. A fé cristã tem suas raízes no judaísmo. Jesus e seus primeiros discípulos foram judeus.

Também aqui a fé e a confiança em um Deus pessoal são fundamentais. Mas surge algo ainda maior nesse relacionamento: o amor. Os místicos entraram nessa dinâmica de amar e se deixar amar. Amor que quase sempre se traduz em serviço ao próximo, pois no cristianismo o amor é inseparável da fé, embora às vezes alguns destaquem mais uma dimensão do que outra. A fé sem obras é morta!

O amor de Deus manifestado em Jesus é salvífico para toda a humanidade. O Amor salva, cria e recria! Todos fomos salvos nele, pois nos amou e se entregou por nós. Como não amar a quem tanto nos amou?

Esta certeza do amor de Deus faz do cristão um irmão de todos e todas, sem distinção de raça, religião ou gênero. A mística mais profunda no cristianismo não é a dos olhos fechados, mas a dos olhos abertosQuando ajudamos alguém, é ao próprio Jesus que o fazemos!

A liberdade é outra característica dos cristãos. Eu sei que, às vezes, parecemos mais escravos de normas e preceitos, mas não deveria ser assim. Se acreditamos que Jesus nos salva é normal que nos coloquemos no seu encalço...

Jesus nos chamou de amigos. Amigos dEle e de todas as pessoas! É a mística da fraternidade! Ao amar, todo amor se torna vulnerável!

Os antigos diziam: Corruptio optimi, pessima! Não há coisa pior do que um cristão corrompido, sem luz e sabor! Onde ficou a verdade? E o amor?...  Somos sal e luz do mundo!

O Islamismo surge como uma reforma da experiência cristã distorcida e quase idolátrica, que Maomé conheceu. Ele passou de uma fé vazia, para uma submissão total, de corpo e mente, a Deus. Caberia outra atitude diante da grandeza e misericordiosa de Deus? Islã é submissão e entrega amorosa...

Os místicos sufis assim o entenderam e viveram: Deus é o Amado que busca o amante! É curioso que dos 99 belos nomes que o Corão da a Deus (Clemente, Misericordioso, Compassivo...) falta apenas defini-lo como Amor.

O perigo destes seguidores do Islã é o farisaísmo, pensar que só eles são os tais, os únicos justos e que estão autorizados incluso a matar para defender a honra de Deus. Deus não precisa ser defendido, mas amado!

A violência não é própria daqueles que acreditam e amam!

As religiões do Ser olham mais à matéria e as da Fé, ao Espírito. Mas todas revelam o mesmo Deus. Por isso, as religiões do Ser (matéria) e as do Amor (Espírito), não precisam se excluir, mas se complementar. 

Finalizando, na história da natureza a 'matéria' foi dando saltos qualitativos: da matéria 'inerte' para a 'vida'; da vida para a 'vida racional'; e da vida racional para a 'vida divina' em Jesus. Em Jesus a matéria chegou ao seu ápice e se divinizou! 

Uma pergunta: Sua fé em Deus se traduz em gesto de amor para com o próximo?

Um comentário:

  1. Pe.Ramon,seu texto é um encorajamento a ação.Estamos em tempo de tantas dores,tantas tragédias e quero ter um olhar diferente para os acontecimentos do dia-a-dia da vida.Todas as nossas crenças religiosas estão definidas por escritos,ritos,mandamentos,tradições...e a prática do amor que acolhe,salva,cria e recria se perde.Que"mística da fraternidade" invada nossos corações.
    Sandra Márcia

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