Davi e Jonatã...

Hoje eu atingi o reino das imagens... (M. de Barros)
O primeiro encontro entre estes jovens aconteceu após a vitória de Davi sobre Golias. O rei Saul chamou o jovem pastor vencedor e o interroga. Jonatã está presente, e os seus sentidos se concentram no jovem pastor: ele o vê e escuta... Desta presença, brota a amizade:

Quando Davi terminou de falar com Saul, a alma de Jonatã se apegou à alma de Davi e Jonatã começou a amá-lo como a si próprio. Saul o reteve naquele dia, e não o deixou voltar para a casa do seu pai. Jonatã fez uma aliança com Davi, pois o amava como a si próprio (por causa do amor que lhe dedicava); tirando o seu manto, deu-o a Davi, bem como as suas vestes (armadura), e até a sua espada, o seu arco e o seu cinto...” (1 Sam 18, 1-4).
O que Jonatã encontrou em Davi? Força? Beleza? Fidelidade? Coragem?... e daquele encantamento primeiro veio o gesto de amizade, e comunhão dos sentimentos. Jonatã se entrega nos presentes que ele ofereceu: o que ele tem e usa, partilha agora com o amigo...

Tempos depois, contemplamos um encontro de despedida...  Davi caiu em desgraça diante do Rei Saul, e este busca matá-lo. Davi tem que fugir, e uma imensa tristeza invade o coração destes jovens amigos. Jonatã, filho do rei Saul, sabendo das intenções do pai, se encontra com Davi às escondidas, e o convida a fugir:

“Desaparecido o rapaz (que acompanhava Jonatã), saiu Davi do seu esconderijo, caiu com rosto por terra e prostrou-se três vezes (fez 3 profundas inclinações). Depois ambos se abraçaram chorando (outra tradução: beijaram-se e choraram ambos por muito tempo). Finalmente Jonatã disse a Davi: vai em paz.... ” (1 Sam 20, 41-42).
O amor que lhes unem é maior que a fidelidade familiar de um filho (Jonatã) para com o seu pai (Saul). Às vezes, as expressões normais de amizade, próprias de uma cultura, deixam extravasar sentimentos escondidos e só detectados nas lágrimas de ambos. Amizades verdadeiras arrancam lágrimas não poucas vezes... Sabemos que Jonatã teve pelo menos dois filhos: Mefibosete (manco das duas pernas) e Mical...
Por fim, outro encontro significativo destes dois jovens. Depois de muitas vicissitudes Davi é ungido rei pelo profeta Samuel. Jonatã, filho do rei substituído, reconhece a eleição de Davi como o escolhido de Deus e lhe presta fidelidade. O que deveria ser (Jonatã declarado rei!), deixa de ser, para que aconteça o imprevisível de Deus:

“Davi permaneceu no deserto, em lugares bem protegidos... (Saul o procurava, para matá-lo...). Jonatã, filho de Saul, veio ter com Davi em Horcha e o confortou da parte de Deus. Ele lhe disse: “não temas, porque Saul não te encontrará. Tu serás rei sobre Israel, e eu serei o teu segundo...” (1 Sam 23, 14-17).

A amizade é sempre fiel; a inimizade nunca! E o verdadeiro amigo não compete pelo poder e sabe ficar humildemente no lugar que a história lhe ofereceu...

O que dizer dessa amizade? O tempo se encargou estrategicamente de esconder detalhes que não nos são permitidos enxergar ou pensar. Contudo, sabemos que Davi, quando soube da trágica morte de Jonatã (morreu batalhando contra os filisteus, na altura do monte Gelboé, e lhe deceparam a cabeça... 1 Sam 31, 9); era o ano de 1007 aC, e Davi o chorou profundamente:

Estou angustiado por causa de ti, meu irmão Jonatã! Tu me eras tão querido! Mais maravilhoso me era o teu amor do que o amor das mulheres...” (2 Sam 1, 26). E conhecemos o nome de algumas dessas mulheres: Mical, filha do rei Saul, Maaca, Abigail e Betsabé, mãe do futuro rei Salomão...

A vida me ensinou que diante do amor só cabe admiração e respeito!

2 comentários:

  1. Amizade primeiro vínculo positivo entre duas pessoas...

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    1. Mesmo estando envolvidos pelo amor gerador de admiração e respeito, em algumas ocasiões é difícil viver na humildade e ocupar o lugar que a história nos reserva.

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