Muitos cristãos e, particularmente cristãos consagrados, não vivem sua fé com alegria. Não damos testemunho da Boa Notícia do Evangelho. Frequentemente vivemos um interminável sentimento de culpa. Deus é percebido mais como um juiz mal humorado, esquadrinhando nossa vida atrás de infidelidades, desobediências e fraquezas. Como Adão no Paraíso, sentimos medo e procuramos esconder-nos de Deus.
Confundir
santidade e perfeição é
condenar-nos à autocondenação, por perceber que somos limitados e imperfeitos.
Passar desse sentimento ao de que a
santidade não é para nós, é um pulo. Desistimos
da santidade e nos condenamos à mediocridade na vida cristã.
A interpretação da santidade como
perfeição tem suas raízes no evangelho de são Mateus: "Sede perfeitos como vosso Pai celestial é
perfeito..." (Mt 5, 48). Mas a perfeição,
segundo o primeiro Testamento, não é
um atributo de Deus. Em nenhuma ocasião chama Deus de "perfeito", mas "santo". Nos evangelhos o adjetivo
"perfeito" (teleios)
aparece somente duas vezes e ambas
em Mateus: Mt 5,48 e 19, 21 ("Se
queres ser perfeito...").
A
perfeição é um atributo do ser humano. Ao afirmar "sede perfeitos como vosso Pai Celestial é perfeito" Mateus
estaria projetando em Deus uma qualidade propriamente humana. Projeção em Deus
de um ideal humano. A atenção se desloca da misericórdia de Deus de Lucas ("Sede misericordiosos como vosso Pai é
misericordioso") para a perfeição do homem, como um progresso no
desenvolvimento do ser humano. A
santidade passa a ser vista como a perfeição no cumprimento da lei,
basicamente do esforço do homem.
Qual a relação entre santidade,
perfeição e pecado? Não há uma oposição radical entre santidade e pecado,
podendo as duas realidades subsistirem simultaneamente na mesma pessoa. A
própria Igreja se auto-define como santa
e pecadora. Há incompatibilidade entre perfeição e pecado, pois não podemos ser simultaneamente perfeitos e
pecadores. O pecado é imperfeição e a perfeição exclui necessariamente o
pecado. Somos pecadores amados por Deus.
A busca
da perfeição é um projeto do homem, um ideal humano. Nesse esforço ele tende a
contar exclusivamente consigo mesmo, prescindindo de Deus e dos outros.
A
perfeição não justifica nem salva o homem. É Jesus que o diz na parábola do fariseu e do
publicano que vão ao templo para rezar. Esta parábola teve o efeito de uma
bomba atômica para a sociedade religiosa judaica, porque nela Jesus coloca tudo
de pernas para o ar, inverte toda a concepção de justificação e salvação. Assim eram os fariseus, fanáticos
cumpridores da lei. Jesus afirma o oposto: esse homem não saiu do templo justificado. Sua pretensa “perfeição”
o leva a um grande orgulho: "não sou
como os demais homens!" O
publicano, pelo contrário, saiu do templo justificado.
A
compaixão e a misericórdia são os maiores atributos divinos. Em vez de optarmos pela
perfeição, podemos optar pela santidade e santidade está relacionada com compaixão
e a misericórdia.
A superação da auto-condenação está na entrega da vida a Deus, em
saber-se amado como pecador, pois o seremos até o fim da vida.
Com a
misericórdia e a humildade inicia-se a santidade.
Uma pergunta: Como melhorar no caminho da santidade?
Mais uma publicação que ajuda no seguimento de Cristo.Obrigada.
ResponderExcluirótimo artigo! Parabéns
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