PERFEIÇÃO OU SANTIDADE... (Cf. Pe. Netto de Oliveira, SJ)


Muitos cristãos e, particularmente cristãos consagrados, não vivem sua fé com alegria. Não damos testemunho da Boa Notícia do Evangelho. Frequentemente vivemos um interminável sentimento de culpa. Deus é percebido mais como um juiz mal humorado, esquadrinhando nossa vida atrás de infidelidades, desobediências e fraquezas. Como Adão no Paraíso, sentimos medo e procuramos esconder-nos de Deus.

Confundir santidade e perfeição é condenar-nos à autocondenação, por perceber que somos limitados e imperfeitos. Passar desse sentimento ao de que a santidade não é para nós, é um pulo. Desistimos da santidade e nos condenamos à mediocridade na vida cristã.

A interpretação da santidade como perfeição tem suas raízes no evangelho de são Mateus: "Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito..." (Mt 5, 48). Mas a perfeição, segundo o primeiro Testamento, não é um atributo de Deus. Em nenhuma ocasião chama Deus de "perfeito", mas "santo". Nos evangelhos o adjetivo "perfeito" (teleios) aparece somente duas vezes e ambas em Mateus: Mt 5,48 e 19, 21 ("Se queres ser perfeito...").

A perfeição é um atributo do ser humano. Ao afirmar "sede perfeitos como vosso Pai Celestial é perfeito" Mateus estaria projetando em Deus uma qualidade propriamente humana. Projeção em Deus de um ideal humano. A atenção se desloca da misericórdia de Deus de Lucas ("Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso") para a perfeição do homem, como um progresso no desenvolvimento do ser humano. A santidade passa a ser vista como a perfeição no cumprimento da lei, basicamente do esforço do homem.

Qual a relação entre santidade, perfeição e pecado? Não há uma oposição radical entre santidade e pecado, podendo as duas realidades subsistirem simultaneamente na mesma pessoa. A própria Igreja se auto-define como santa e pecadora. Há incompatibilidade entre perfeição e pecado, pois não podemos ser simultaneamente perfeitos e pecadores. O pecado é imperfeição e a perfeição exclui necessariamente o pecado. Somos pecadores amados por Deus.

A busca da perfeição é um projeto do homem, um ideal humano. Nesse esforço ele tende a contar exclusivamente consigo mesmo, prescindindo de Deus e dos outros.

A perfeição não justifica nem salva o homem. É Jesus que o diz na parábola do fariseu e do publicano que vão ao templo para rezar. Esta parábola teve o efeito de uma bomba atômica para a sociedade religiosa judaica, porque nela Jesus coloca tudo de pernas para o ar, inverte toda a concepção de justificação e salvação. Assim eram os fariseus, fanáticos cumpridores da lei. Jesus afirma o oposto: esse homem não saiu do templo justificado. Sua pretensa “perfeição” o leva a um grande orgulho: "não sou como os demais homens!" O publicano, pelo contrário, saiu do templo justificado.

A compaixão e a misericórdia são os maiores atributos divinos. Em vez de optarmos pela perfeição, podemos optar pela santidade e santidade está relacionada com compaixão e a misericórdia.

A superação da auto-condenação está na entrega da vida a Deus, em saber-se amado como pecador, pois o seremos até o fim da vida.

Com a misericórdia e a humildade inicia-se a santidade.

Uma pergunta: Como melhorar no caminho da santidade?

2 comentários: