NOTA DA CNBB SOBRE PROJETOS EM
TRAMITAÇÃO NO CONGRESSO
Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não
seca (Am 5,24)
Reunido em Brasília-DF, nos dias 14 a 16 de junho de 2016, o CONSELHO
PERMANENTE DA CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DE BRASIL - CNBB dirige-se à
população brasileira e, em especial, aos
atuais responsáveis pelo destino do país, para manifestar, mais uma vez, sua apreensão em relação à grave
instabilidade institucional pela qual passa o Brasil. Esta situação exige
dos três poderes da República o cuidado corresponsável para preservar os
fundamentos de nossa Democracia e para propor ações que assegurem e ampliem os
direitos sociais já conquistados, sob pena de sacrificar ainda mais os pobres e
excluídos.
A vida socioeconômica e política brasileira passa por turbulências que não devem ser usadas para desviar nossa atenção de vários projetos de lei que, em avançada tramitação no Congresso Nacional, ameaçam conquistas e direitos de populações mais vulneráveis do país. Dentre eles, citamos três sobre os quais já nos pronunciamos em outras ocasiões, no cumprimento de nossa missão humanista e evangelizadora.
A Proposta de Emenda Constitucional 215
(PEC 215/2000), que transfere do Executivo para o Congresso Nacional a demarcação de terras indígenas, é um
golpe mortal aos direitos dos povos indígenas, atingindo também comunidades
quilombolas. A sede de lucro do
agronegócio e os grandes projetos não podem se sobrepor ao direito originário
dos indígenas, reconhecido pela Constituição Federal. O compromisso dos
parlamentares, juntamente com o Executivo e o Judiciário, é envidar esforços
para colocar fim aos conflitos e à violência que têm ceifado inúmeras vidas. “A
violência usada para acumular dinheiro que mina sangue não nos torna poderosos
nem imortais. Para todos, mais cedo ou mais tarde, vem o juízo de Deus, do qual
ninguém pode escapar” (Papa Francisco, Misericordiae Vultus, 19).
Preocupam-nos também as articulações de bancadas no Congresso pela aprovação da PEC 171/1993 que propõe a redução da maioridade penal. Insistir que a prisão de adolescentes infratores seja caminho de solução para a violência no país é atribuir aos jovens uma situação da qual são mais vítimas do que autores. Dos 56 mil assassinatos ocorridos no Brasil em 2012, segundo o Mapa da Violência 2014, 30 mil (53,5%) foram de jovens, dos quais 77% eram negros. Apostar nas medidas socioeducativas, em políticas públicas para a juventude e no fortalecimento da família, com educação e qualidade de vida, é eficaz caminho para o fim da violência.
Outro projeto extremamente danoso à sociedade é o Projeto de Lei 3722/2012 que, na
prática, revoga o Estatuto do
Desarmamento. A quem interessa armar a população? Quem ganha com a venda de armas? Facilitar o acesso às armas é
sustentar a falsa ideia de que a segurança está no armamento das pessoas, além
de aumentar as oportunidades de homicídios. É preciso promover a cultura da paz pela não violência e investir
em políticas públicas eficazes para toda a população.
Atentos ao futuro e conscientes de que
a cidadania deve ser construída e defendida a cada dia, sobretudo em tempos
adversos, fazemos um apelo aos parlamentares: não aprovem esses projetos! Ao povo brasileiro conclamamos:
mantenha viva a esperança, porque “a
esperança não decepciona” (Rm 5,5).
Confiamos a Nossa Senhora Aparecida,
padroeira do Brasil, a proteção de seus filhos e filhas.
Brasília-DF, 16 de junho de 2016.
Dom Sergio da Rocha Dom Murilo S. R. Krieger
Arcebispo de Brasília-DF Arcebispo de S. Salvador da Bahia-BA
Presidente da CNBB Vice-Presidente da CNBB
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo
Auxiliar de Brasília-DF
Secretário-Geral da CNBB
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