Assassinato e exclusão de jovens negros... (Cf. Ronilso Pacheco)


O Governo Lula/Dilma se orgulha de implementar o Plano Juventude Viva, 2012, fruto de discussões a partir do GT de Jovens Negros do Conjuve (Conselho Nacional de Juventude). Nenhum governo no Brasil havia tornado isso importante. Recentemente, nós tivemos a CPI que investigou o homicídio de jovens negros no Brasil. Duas ações importantes.

A morte dos jovens negros entrou em pauta, mas não teve nenhum efeito prático no sentido da redução e do atendimento. O Estado não é responsabilizado em nada.

Mortes, chacinas, execuções... tudo é tratado como "casos pontuais e isolados”. O Estado sempre recorre à individualização da culpa dos agentes da ponta – ou são maus policiais, ou são fatalidades que acontecem com quem está no fogo cruzado de territórios onde há conflitos, ou são escolhas individuais pelo mundo do crime, do tráfico, etc. O Estado nunca tem nenhuma responsabilidade em nada.

Não adianta projetos, planos para encher as periferias de quadras poliesportivas, oficinas e cursos profissionalizantes se o povo não tem saúde e moradia. O Estado deve ser responsabilizado pelas vidas ceifadas, e responder por elas.

Pensar políticas públicas para a população negra é quebrar a lógica dissimuladora do racismo. Não é apenas dar oportunidades à população negra. Isso é importante, mas não o suficiente.

Quais as políticas públicas de fomento do empreendedorismo social para as favelas? Por que não pensar uma proposta de orçamento participativo para as favelas, em que os gastos públicos para ali destinados sejam discutidos com a comunidade local? E por que não um campus universitário dentro das favelas e bairros de periferia, onde o ensino tenha um recorte racial (professores e bibliografia), com ênfase na construção e transmissão de conteúdo a partir do local? Uma favela não pode ter uma escola de arquitetura? As alternativas são muitas, mas pensar políticas públicas para as comunidades de periferias, e da população negra, é investir em segurança pública.

As cotas foram ótimas, e devemos celebrar. Mas, procure pelos professores negros nas universidades! Procure por pensadores negros na bibliografia obrigatória (diga uns 10 nomes que não sejam Milton Santos, Abdias Nascimento e Muniz Sodré). Os alunos entram na universidade, mas o racismo continua lá dentro, dissimulado e sorrateiro. A estrutura de pensamento e o lugar de poder é todo branco.

As cotas não podem continuar sendo tudo o que temos. Isso é só o início de uma política de reparação, que precisa vir de fato com outras ações. As cotas não é tudo o que pode ser feito, depois de tanto tempo de usurpação do direito dos negros e negras e ocuparem os lugares de poder e decisão na estrutura social.

As cotas têm mostrado resultado e isto deve ser comemorado. Mas enganam-se aqueles que pensam que vamos ter como suficientes a entrada pura e simples na universidade, o acesso puro e simples a uma vaga em um concurso público, como quem diz: "Pronto, já conseguiram entrar. Era isso que queriam, então, já foi concedido”. De forma alguma, há mais espaços a serem ocupados, ainda há esforços de reparação a serem empreendidos, e isto não deve ser visto como nenhuma facilitação, mas o reconhecimento público e político de uma desigualdade.

Quem sempre foi excluído quer muito mais!

E você o que pensa sobre este assunto?


2 comentários:

  1. As cotas serviram para aumentar as diferenças!
    Uma pessoa que chega à Universidade por caminhos diversos da maioria (por ter sido "colocada"!), pode ser branca, negra, amarela ou vermelha, só terá o respeito de seus colegas se mostrar o seu valor ao longo do curso. E não é isso que tem acontecido, infelizmente.
    Os que entraram por "cota", geralmente pobres e oriundos de um escolas com ensino deficitário, mantém-se na exclusão, dentro e fora da sala de aula.
    A verdadeira mudança, E DESSA O PT PASSOU LONGE, está em reformas estruturais e de base!!!
    Somente a partir de um ensino forte e de base, para brancos, negros, amarelos, vermelhos e azuis, qualquer conquista do indivíduo na sociedade será legítima e respeitada.

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  2. Todas essas políticas de "ações afirmativas" são joguetes políticos, inúteis e contraproducentes, mas ficam bonitas no discurso. E não sou eu quem diz isso, mas o economista Thomas Sowell, que estudou exaustivamente o assunto em seu livro "Affirmative action around the world - An empirical study".

    Informação relevante nesse contexto: Thomas Sowell é negro.

    Não me estenderei muito aqui, mas posso citar os tópicos de uma análise feita por Marcos Jr.* sobre o livro de Sowell. Algumas das falácias do sistema de cotas e das "ações afirmativas" ao redor do mundo:

    1 – As cotas, geralmente, se estendem a mais grupos e/ou por mais tempo que o previsto.

    2 – A vantagem aos grupos beneficiados costuma ser (bem) menor que a propalada.

    3 – Os efeitos socioeconômicos das medidas, não raras vezes, são contraproducentes.

    O livro de Sowell, em uma sequência bem didática e objetiva, mostra como as políticas de cotas e grupos preferenciais, aplicadas em países diferentes, com culturas diferentes, etnias diferentes, instituições diferentes e de maneiras diferentes, possuem resultados muito semelhantes. E que, se fossem levados em conta, dariam poucos motivos de orgulho aos defensores de tais medidas. Para estes, porém, parece ser válida a máxima de Nelson Rodrigues: “pior para os fatos”. Até porque existem claros interesses em politizar (e polarizar) esta questão de “representatividade”.

    O mais interessante é que essa politização das questões étnicas ignora que, em diversos casos, os grupos supostamente beneficiados pelas políticas de ação afirmativa já apresentavam melhorias antes da implementação destas, seja na participação nas universidades, seja no crescimento da renda (no caso dos EUA, a porcentagem de famílias negras com renda abaixo da linha oficial de pobreza caiu de 87% em 1940 para 47% em meados dos anos 1960, antes mesmo das leis de direitos civis, e a taxa de pobreza entre as famílias negras caiu muito mais antes da implantação das ações afirmativas). Mas, como mesmo o economista diz no último capítulo do livro, os heróis destes momentos de ascensão não são figuras públicas, mas sim pessoas anônimas, que, naturalmente, não podem retribuir tanto a políticos, ativistas e intelectuais. Ou, como se dizem hoje, “não rende textão”.
    No mais, o livro se trata de uma excelente leitura, seja para os defensores das cotas, no sentido de rever alguns (pre)conceitos, seja para os críticos, que terão em mãos uma base factual para se posicionarem diante do assunto. E inclusive me ajudou a rever a minha posição, que é a de ser contra qualquer tipo de cota.

    * http://minutoprodutivo.com/sociedade/thomas-sowell-cotas-intencoes-resultados


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