Uma mulher forte: Virginia Diniz Carneiro (1924-)...

Virgínia nasceu em 1924, em Belo Horizonte, e teve paralisia infantil ainda bebê.  Sofreu muito preconceito da família por ser a única “aleijada” que conheciam.  Ninguém acreditava que fosse capaz de alguma coisa...


Coitada da Virgínia, não vai fazer nada sozinha. Quem vai querer casar com uma aleijada? Melhor ela entrar para um convento... Eu virei para minha mãe e perguntei o que eu ia fazer em um convento. Disse que eu era romântica e tinha que casar, conta a psicóloga Virgínia Diniz Carneiro.
 
Dona Virgínia jamais aceitou as previsões pessimistas da mãe. Teve poliomielite quando era ainda bebê, mas não permitiu que a doença paralisasse sua enorme vontade de viver. Hoje, aos 85 anos (2005), ela fala sobre a adversidade.
 
“Foi o meu troféu. Eu tinha 5 anos quando me conscientizei da minha deficiência física. Senti que Deus não ia me dar isso para me destruir ou destruir a minha personalidade”. 

E que personalidade! Com ela, conquistou aos 16 anos um noivo. Moço bonito, engenheiro, cobiçado por todas as moças casadoiras. 

Ele dizia que a minha alegria e a minha fé o seduziram”. Um casamento de 56 anos. Filhos? Os médicos proibiram. Dona Virgínia, claro, desobedeceu. Teve seis. Era tão ativa que um filho demorou a perceber que a mãe tinha uma deficiência física. 

“Na minha infância eu nunca vi esse problema. Eu via uma mulher, que é a minha mãe, com uma energia vulcânica”, conta o filho Manoel Thomas Carneiro. 

A tal personalidade forte e o incentivo do marido renderam algumas aventuras arriscadas, como o jeito que dona Virgínia inventou para dirigir o carro da família.
 
“Tenho movimento em uma perna do joelho para baixo. Mas a perna não levanta sozinha. Então, eu levantava essa perna com o braço, mas era automático. Eu tive um acidente: matei uma galinha”, lembra. 

Viúva há 12 anos, tem nove netos e oito bisnetos, mas mora sozinha. Todos os dias, prepara sem ajuda um bom café da manhã, lava a louça, se distrai com a leitura e a música. Venceu também o desafio do computador.
 
“Eu acho ele um pouco preguiçoso. Tem horas que ele dorme. Eu sou muito mais rápida que ele. Quando ele está demorando muito, eu rezo o terço até ele resolver voltar”, diz.
 
Uma velha senhora forçada a viver presa em casa. Nada disso! As botinhas ortopédicas que dona Virgínia teve que usar durante a infância ficaram guardadas entre as muitas lembranças espalhadas pela casa. Elas são o registro de um tempo de dor e limitações, mas que ficou definitivamente para trás. Com sua cadeira de rodas e uma dose gigantesca de otimismo e obstinação, dona Virgínia ganhou o mundo. 

Com a ajuda do porteiro do prédio e do filho, ela circula pelo bairro e vai ao cabeleireiro. Usa unhas e batom vermelhos e não tem nenhum fio de cabelo branco. Vaidosa? 

“Muito, desde pequena. Não sei se diria que me acho bonita, mas eu me acho bem. Muitas vezes, chego no espelho e falo: ‘Você está ótima!’”, conta.
 
O trabalho é outro dos seus prazeres. Foi presidente da Associação Brasileira de Reabilitação (ABBR), fez programas de TV, viajou pelo mundo e faz mais de cem palestras por ano falando sobre a valorização da vida. Não pretende parar tão cedo. Mas será que essa mulher não sofre, nunca se abate? Perdeu o marido e dois filhos.

 
“As circunstâncias da vida, as coisas difíceis, os planos de Deus, o que for, não é isso que nos destrói e nos atinge. O que nos atinge é a forma de enfrentar. Eu só choro por emoção. O sofrimento me faz crescer”, finaliza dona Virgínia.

Há pessoas fortes na vida e outras que desistem diante do primeiro desconforto. Em 2015 dona Virginia ainda partilhava conosco sua vontade de viver...

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