Se Jesus fosse o pároco da catedral de Goiânia... (cf. Frei Marcos OP)


22:30 horas do dia 10 de dezembro de 2018. Acabo de chegar - juntamente com dois irmãos dominicanos, Frei Carlinhos e Frei José Fernandes - de um Ato Inter-religioso, realizado em frente à Catedral Metropolitana. O Ato - em comemoração dos 70 anos da Declaração Universal de Direitos Humanos - faz parte da programação da 2ª Jornada de Direitos Humanos - de 01 a 13 de dezembro - promovida pelo Comitê Goiano de Direitos Humanos Dom Tomás Balduino, formado por cerca de 70 Entidades, comprometidas com a defesa e a promoção dos Direitos Humanos e da Justiça e Paz.
Há alguns dias, representantes da Coordenação do Comitê conversaram com Dom Moacir Arantes, bispo auxiliar da Arquidiocese de Goiânia (que, posteriormente, relatou o teor da conversa a Dom  Washington Cruz, arcebispo de Goiânia) e com Pe. Daniel Lagni, pároco da Catedral, comunicando que o Ato Inter-religioso seria realizado em frente e na escadaria da Catedral, no dia 10, às 20 horas e que os participantes só entrariam na Igreja - que é do Povo - em caso de chuva.
Meus irmãos e minhas irmãs, pasmem! Chegamos na Catedral quando estava terminando a Celebração da Missa. No final da Celebração uma pessoa comunicou à Assembleia: Por motivo de segurança, hoje não teremos o Grupo de Oração. A Igreja fechará mais cedo. Com estas palavra, a Igreja preconceituosamente  “criminalizou” as Entidades e Movimentos Populares e chamou a todos e todas - eu também estou incluído - de “bandidos”: uma ofensa gravíssima. Que vergonha para a Arquidiocese de Goiânia!
Pessoas como essas podem ser chamadas de cristãos e cristãs? Com certeza não merecem esse nome. São os fariseus hipócritas de hoje, que fecham as portas da Catedral e não deixam Jesus entrar, na pessoa dos pobres e de todos aqueles e aquelas que lutam pelos Direitos Humanos, pela Justiça e Paz e por um Mundo Novo.
Imaginemos agora o contrário. Se Jesus fosse pároco da Catedral ou bispo de Goiânia, nesse caso como teria se comportado? Com certeza teria chegado ao local cedo, teria aberto as portas da Catedral, teria acesas todas as luzes e, sorrindo, teria acolhido de braços abertos - sem se importar com sua religião - a todos os irmãos e irmãs com muita ternura e muito amor. Com certeza, teria também participado do Ato Inter-religioso, anunciando a Boa Notícia do Reino de Deus, com um destaque especial para as Bem-Aventuranças. E o Papa Francisco? Também teria feito a mesma coisa. Lembremos os três Encontros Mundiais com os Movimentos Populares.
Se o pároco da Catedral e os bispos da Arquidiocese de Goiânia tivessem um mínimo de consciência do que significa ser cristãos hoje, teriam participado do Ato Inter-religioso, teriam feito as honras de casa e teriam acolhido a todos e a todas com a ternura de irmãos e irmãs. Quanta hipocrisia, quanta falsidade e quanto legalismo existem na Igreja!
Jesus nasceu como “sem-teto” na manjedoura de um estábulo, porque não havia lugar para ele dentro de casa. Hoje, em Goiânia, Jesus nasce na rua, porque “por motivo de segurança” não há lugar para ele dentro da Catedral.
Irmãos e irmãs, o que aconteceu no dia 10 deste mês de dezembro na Catedral de Goiânia foi um comportamento totalmente anti-evangélico. Foi uma violação dos Direitos Humanos em nome de Deus. Que Deus é esse? Não é certamente o Deus de Jesus de Nazaré. Desse Deus, que certos bispos e padres pregam, Jesus é ateu.
O pároco da Catedral e os bispos da Arquidiocese de Goiânia deveriam pedir perdão publicamente por aquilo que aconteceu. Foi um grave pecado contra o mandamento do amor a Deus e aos irmãos e irmãs, principalmente aos pobres. 
Ouçamos o convite do nosso irmão, o Papa Francisco a todos os cristãos e cristãs, incluindo padres e bispos: 
Soube que são muitos na Igreja aqueles que se sentem mais próximos dos Movimentos Populares. Muito me alegro por isso! Ver a Igreja (reparem!) com as portas abertas a todos vocês, que se envolve, acompanha e consegue sistematizar em cada Diocese, em cada Comissão ‘Justiça e Paz’, uma colaboração real, permanente e comprometida com os Movimentos Populares
Convido-vos a todos, bispos, sacerdotes e leigos, juntamente com as organizações sociais das periferias urbanas e rurais, aprofundar este encontro” (Papa Francisco aos participantes do 2º Encontro Mundial dos Movimentos Populares. Santa Cruz de la Sierra/Bolívia, 09/07/15).
Se o pároco da Catedral e os bispos da Arquidiocese de Goiânia tivessem atendido ao convite do nosso irmão o Papa Francisco, teriam deixado as portas da Catedral abertas e oferecido generosa e gratuitamente todo o apoio logístico necessário para a realização do Ato Inter-religioso. 
Pelo amor que tenho à Igreja, em especial à Igreja de Goiânia, diante de tudo o que aconteceu, a minha dor foi tão profunda, que - na noite entre o dia 10 e 11 - nem deitei. Só cochilei poucos minutos sentado, enquanto escrevia estas linhas, denunciando o fato. 
Uma outra Igreja é possível e necessária. Lutemos por ela! A esperança nunca morre!


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4 comentários:

  1. O escrito relata um fato.O protesto sobre o fato relatado tem meu apoio. Convido o sábio irmão Arcebispo de Goiânia,Dom Washington a manifestar sobre o relatado sob pena de ilaçao à corrupção no Templo de Davi, dos amados Judeus.

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  2. Pois é... Tem muita gente na hierarquia que se esqueceu de que eles são só servidores, só tomam conta da casa de Deus, com o mandato de deixá-la sempre aberta e acolhedora. Então, nesse triste engano, eles se arvoram em donos e passam a decidir quem deve e quem não deve entrar... Mais terrível ainda é que fazem isto como se fossem mais dignos do que os outros batizados (ou não, mas que são filhos do Dono da Casa) que ficaram do lado de fora...

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  3. Frei Marcos é o cara! Ele representa o Cristianismo verdadeiro!!!!

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  4. Assisti da minha janela à celebração.So não me juntei ao grupo pior que caiu uma forte chuva na hora e estava gripada.
    Minha solidariedade ao Frei Marcos e toda mindom.
    .ha tristeza por constatar um ato tão vil.Pobre don Fernando

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