16º DTC: TRABALHO CONTEMPLATIVO... (cf. Pe. A. Palaoro sj)

Maria sentou-se aos pés do Senhor, e escutava sua palavra... (Lc 10, 39)

Neste domingo, a liturgia nos desloca até Betânia, lugar de acolhida e hospitalidade; somos convidados a entrar em casa de Marta e Maria, junto com Jesus, para deixar-nos impactar por tudo o que acontece nesse ambiente tão familiar e humano.  

Para Jesus, Betânia é um lugar de intimidade e de descobertas. Ao hospedar-se na casa de Marta e Maria surge a novidade: Maria senta-se aos pés do mestre, em horário dos trabalhos domésticos. As palavras de Jesus embelezam o coração dos ouvintes.

À luz deste relato abre-se uma nova perspectiva para a mulher. Maria é uma interlocutora privilegiada. Talvez seja o relato mais subversivo do evangelho“Sentada aos pés de Jesus, escutava sua palavra...”. Maria, irmã também de Lázaro, está ali como discípula. Isto derruba a concepção machista da época que não permitia às mulheres serem discípulas de um mestre. Quando se elimina a gratuidade do encontro e da acolhida, a vida pode perder seu sabor e seu sentido. Em Maria, Jesus convida todas as mulheres a desenvolver seus valores humanos e espirituais.

Se queremos compreender mais profundamente o verdadeiro sentido do texto deste domingo, não devemos esquecer o contexto do evangelho de Lucas. Situado dentro da viagem a Jerusalém, o relato revela o perfil dos que querem seguir Jesus. 

Lucas é o único que relata este episódio em Betânia, e não é casualidade que se sinta interessado em destacar a importância das mulheres na vida pública de Jesus. 

Jesus não censura Marta por trabalhar; Ele censura a sua inquietação e fato de andar agitada no seu “tarefismo”, e com um olhar atravessado para sua irmã.

Jesus chama Marta por duas vezes, como Moisés quando foi chamado por Deus diante da sarça ardente. Ele a chama para que não se identifique com sua função nem com seus afazeres, para que progrida e se atreva a ser a “Marta completa”.

Jesus censura em Marta o seu estrabismo: Dois olhos olhando cada um para uma direção diferente. Marta tenta olhar, ao mesmo tempo, para Jesus e para a irmã; dessa forma, não enxerga a única coisa necessária: O Senhor!

Não precisamos nos comparar. Essa tendência está presente em muitas pessoas. Esse “demônio” é sempre atual e acaba por envenenar múltiplas relações, pois quando comparamos, passamos ao largo do único necessário. A “melhor parte” é ver Jesus. E estarmos orientados para o Senhor.

Se nosso desejo é orientado para o Senhor podemos ter momentos de contemplação e de ação.  Não são opostos. A qualidade da ação e da contemplação depende da orientação do coração e da inteligência em direção Àquele que mantém unidas todas as coisas.

Betânia nos diz: todos somos, ao mesmo tempo, Marta Maria, somos convidados a saborear a Palavra que, no mais profundo de nós mesmos, se converte em uma fonte de assombro e de prazer e nos reenvia ao serviço mais generosos e livres.

Marta representa um lado nosso que calcula, que mede e que compara. É preciso reencontrar Marta em união com Maria. Não é nada fácil manter o equilíbrio, integrando-as. Marta e Maria são como os dois olhos de um olhar, ou as duas faces do mesmo rosto. Os dois olhando em direção ao Senhor. Unir Marta e Maria, a contemplação e a ação, o silêncio e a palavra.

“melhor parte” está por todo lado: é o Senhor que deve ser acolhido em nossa ação e em nossa contemplação, no trabalho e no descanso.

O ser humano é capaz de ação e de contemplaçãomas o único necessário é amar sempre o Senhor.


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